sábado, 23 de maio de 2020

Paciente morto por Covid-19 tem corpo trocado em enterro em Caraguatatuba

Com o caixão lacrado, família enterrou outra pessoa sem saber. Segundo relato de filha, três corpos foram envolvidos na troca.


Família de Caraguatatuba relata troca de corpos em enterro

Uma família descobriu que teve o corpo do parente que morreu trocado e enterrou outra pessoa em Caraguatatuba, no litoral norte paulista. João Marcos de Oliveira, 74 anos, morreu por Covid-19 e foi enterrado de caixão lacrado. Horas após o sepultamento, a família foi avisada que havia sepultado uma outra pessoa. A confusão foi desfeita depois que a filha de João, Graziela Oliveira, fez o reconhecimento do corpo do pai, que ainda estava no hospital. Ao todo, três famílias tiveram os parentes trocados, de acordo com o relato dela.

João Marcos estava há dez dias internado no hospital Stella Maris de Caraguatatuba com coronavírus. Ele não resistiu e morreu na segunda-feira (18) e o enterro foi marcado para a manhã de terça-feira (19). Com os procedimentos de segurança, o caixão seguiu lacrado e sem velório. A filha conta que acompanhou o sepultamento à distância com o irmão.

Horas após o enterro, ela recebeu uma ligação do hospital pedindo que fosse até a unidade e quando chegou recebeu a notícia de que os corpos tinham sido trocados. A troca foi percebida porque depois do sepultamento do pai, uma outra família faria o velório de uma pessoa que não havia morrido com o vírus. O caixão, no entanto, estava fechado e ao abrirem perceberam que o morto não era o familiar.

No cemitério, a funerária desenterrou o que seria o caixão do pai de Graziela, acreditando que a troca havia sido entre eles, mas ao abrir, perceberam que se tratava ainda de uma terceira pessoa.

"Quando eu cheguei no hospital eu fui obrigada a colocar aqueles paramentos e entrar na UTI de Covid-19 para reconhecer o corpo do meu pai. Eles abriram um saco plástico e pediram que eu olhasse. Não conseguia reconhecer, eu estava em choque. Fui obrigada a olhar para ele e então percebi que aquela pessoa, naquele saco, era meu pai", conta.

João Marcos de Oliveira, 74 anos, morreu por Covid-19; corpo enterrado
foi de outra pessoa

Após o reconhecimento, o corpo de João foi liberado mais uma vez para o sepultamento e os outros dois corpos destrocados. À família a Santa Casa informou que abriu uma sindicância para apurar o caso.

"Ele não é um número, ele era o meu pai. Importa para mim. Eu não quero que ninguém mais passe por isso", conta Graziela.

Depois de fazer o reconhecimento, ela ainda foi orientada a fazer o isolamento domiciliar por ter entrado na UTI reservada aos pacientes com o vírus.

"Meu pai morreu sem contato comigo. Enterrar alguém sem se despedir é doloroso. Agora, eu ainda tenho que me isolar e ficar sem o apoio de ninguém em um momento como esse".

O enterro do corpo do idoso foi feito às 14h desta quarta-feira (20) e a família registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil.

O que dizem hospital, funerária e prefeitura

O hospital Stella Maris informou em nota que tomou todas as medidas necessárias para regularizar a situação e informou ainda que instaurou uma sindicância interna para apurar o fato.

A funerária Campo Vale informou que abriu "um procedimento interno para apurar o que aconteceu".

A Prefeitura de Caraguatatuba informou que a acionou a unidade saúde para que fosse aberta uma sindicância para apurar o caso.


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