Em três dias, 20 pacientes morreram na enfermaria e UTI do hospital
Por falha no sistema de oxigênio que abastece a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Aberlardo Santos, no distrito de Icoaraci, em Belém, somente na tarde de ontem, quinta-feira, 7, cinco pacientes teriam morrido no local. É que denunciam médicos e familiares dos pacientes, internados com covid-19, um deles, um idosos de 65 anos. O problema teria causado em três dias um total de 20 óbitos.
Os médicos que denunciam preferem não aparecer por medo de retaliação, mas acreditam que há falha na manutenção do sistema de oxigênio no Abelardo Santos. E um deles conta que não foi a primeira vez que esse problema causou transtornos na ala da UTI no Abelardo Santos.
O idoso deu entrada no hospital dia 30 de abril, após a família ter perambulado por vários hospitais privados de Belém e serem rejeitados, mesmo ele tendo plano de saúde. Depois de levá-lo ao hospital, ele ainda passou dois dias aguardando leito, depois foi internado na enfermaria, mas teve complicações no pulmão e na terça-feira, 5, foi transferido para UTI, pois estava em estado grave, mas não necessitava de entubação.
Como o idoso tinha familiares médicos, um deles acompanhou a situação de perto. Quando ele precisou de oxigênio, pois a saturação estava muito alta, segundo o médico o oxigênio parou de funcionar. "Por causa dessa parada, o oxigênio não chegou no respirador e isso causou cinco mortes nesse dia dentro da UTI", assegura.
Ele ressalta, que os profissionais de saúde que acompanhavam os pacientes na UTI conseguiram ligar o respirador ao balão ou tubão de oxigênio, método tradicional, que conseguiu salvar algumas vidas.
Até ontem, quinta-feira, 8, a UTI continuou operando só 75% da oxigênio, inclusive no ventilador pulmonar utilizado pelo idoso, que faleceu.
A família tentou alugar um outro balão de oxigênio para tentar salvar do paciente idoso, mas não foi permitido pela direção do hospital. Também tentaram transferi-lo para uma outra UTI, mas a direção não permitiu sob a justificativa que ele já estava numa UTI.
"Eles receberam como resposta que não iam deixar informar isso no sistema. Mas, quando oxigênio parou de novo o pai deles morreu", conta outro médico que acompanhou toda situação.
Família vai acionar o Ministério Público para denunciar a falha no sistema de oxigênio
Muito abalada, a família quer denunciar a situação ao Ministério Pùblico. O médico da família que acompanhou a situação do paciente idoso durante a internação, afirma que em três dias ocorreram 20 óbitos de pacientes de covid-19 no Hospital Abelardo Santos, entre as alas da UTI e enfermarias.
"O que vai fazer a diferença no tratamento do doente é a qualidade da assistência. Não duvido que estão tentando dar assistência, mas é complicado não definir fluxo e protocolo de atendimento. Já há várias denúncias dos médicos que atuam no Abelardo Santos e a própria Sespa nega. Este caso é só um dos exemplos. A família está muito abalada", conta o médico.
Ele afirma que atuou na primeira semana no Hospital de Campanha do Hangar e que junto com outros colegas constataram na hora de passar visita nas enfermarias, que havia pacientes até dois dias sem ser medicado.
No caso do paciente idoso, no dia que o médico da família não o acompanhou no Abelardo Santos, ele ficou sem sequer tomar água, porque só colocavam o alimento na mesinha ao lado. "A administração destes locais não está sendo feita de maneira adequada. Tem muitos familiares reclamando. Famílias têm que ser informadas do estado de saúde dos pacientes internados, diariamente. Isso não está sendo feito. Inclusive, há familiares mandando mensagens pelo whatsapp dos médicos, buscando notícias dos pacientes. ", denuncia o médico.
Ele alerta, que "se o atendimento nos hospitais públicos não for feito com organização muita gente vai morrer porque está tudo desorganizado, a assistência está muito deficiente".
Tanto para os familiares, quanto para os médicos que denunciaram à Sespa e à Organização Social Santa Casa de Misericórdia do Pacaembu, que administra o Abelardo Santos, o caso da falha do sistema de oxigênio não é erro do médico, nem da equipe de técnicos de enfermagem. Eles acreditam que é problema de manutenção da rede para chegar o oxigênio de maneira adequada nesses hospitais de campanha.
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