sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Cinco dias antes de sofrer aborto em casa, jovem foi diagnostica com Covid-19; família acusa hospital de negligência


Caso aconteceu no domingo (23), na cidade de Itabuna. Jovem sofreu aborto em casa, após procurar duas unidades médicas por causa de sangramento.


Família de grávida com Covid-19 denuncia negligência em atendimento e aborto em casa

A jovem de 19 anos que revelou que sofreu um aborto em casa, na cidade de Itabuna, no sul da Bahia, foi diagnosticada co Covid-19, cinco dias antes de procurar atendimento na Maternidade Ester Gomes e no Hospital Manoel Novaes. A família de Rayssa Vilanova acusa o hospital de negligência médica. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Segundo informações dos familiares, a jovem começou a apresentar um sangramento, por volta das 8h, de domingo (23), e foi levada pelo marido para a Maternidade Ester Gomes, onde os dois buscaram atendimento e foram orientados a procurar o Hospital Manoel Novaes, porque ela precisava fazer uma ultrassonografia.

Rayssa estava grávida de 12 semanas — Foto: Reprodução / TV Santa Cruz
Rayssa estava grávida de 12 semanas

De acordo com a família da jovem, o casal foi até o Hospital Manoel Novaes. Ao chegar no local, segundo o namorado de Rayssa Vilanova, a recepcionista da unidade médica disse que o atendimento só seria feito após o pagamento de R$ 650.

“Eu, de imediato, fui para o Hospital Novaes e chegando lá, eles negaram atendimento falando que só atendia plano de saúde ou se a gente pagasse R$ 650. A gente ficou desesperado no momento, porque a gente não tinha o dinheiro”, contou Kadu Vilanova.

O jovem contou que insistiu para que o atendimento fosse feito, já que o casal não tinha o dinheiro cobrado. Após ter o pedido negado e Rayssa Vilanova continuar sangrando, o namorado decidiu denunciar o caso na Delegacia de Direitos Humanos.

“A recepcionista falou para mim que o valor de R$ 650 foi cobrado porque aqui era um hospital particular e eu falei que existia a cota do SUS. Eles teriam que atender, uma vez que ela estava em sangramento e possivelmente, seria uma tentativa de um suposto aborto”, disse o delegado defensor dos direitos humanos, Diego Oliveira.

“Em instante, eles fizeram o atendimento, levaram ela para dentro, a enfermeira fez o toque, falou que o colo dela estava fechado, mas que iria passar para a médica. A doutora disse que ela não tinha que ficar aqui, ela tinha que se virar para fazer a ultrassom, porque aqui não tinha aparelho de ultrassom”, contou o delegado.

Após a intervenção da polícia, Rayssa Vilanova foi atendida por uma médica. Os familiares afirmam que a profissional disse que não havia problemas com a saúde da jovem, que continuava sangrando, e nem com o bebê.

Por causa das dores que a jovem sentia, o casal voltou para a Maternidade Ester Gomes, que fez o exame de toque. No local, Rayssa foi informada que estava tudo bem e foi orientada a voltar para casa e repousar.

“Ela estava com muitas dores, ela foi até o banheiro e quando chegou lá, ela começou a gritar: ‘Mainha, mainha, o neném está nascendo’ e eu dizia que não era para ela não ficar preocupada”, disse.

Hospital Manoel Novaes - Santa Casa de Misericórdia de Itabuna — Foto: Reprodução/ TV Santa Cruz
Hospital Manoel Novaes - Santa Casa de Misericórdia de Itabuna

Elenita Andrade afirma que tentou acalmar a filha, mas não conseguiu evitar o aborto.

“Ela dizia que estava vendo as pernas, mas eu falava que era coágulos, para acalmar e a gente ficou naquele impasse. Eu mandava fazer força, mas o bebê não saía. Ele tinha enganchado, eu no desespero e ela chorando, com falta de ar e passando mal”

A mãe de Rayssa, Elenita Andrade, conta que até no momento em que a jovem procurou o Hospital Manoel Novaes após o aborto, houve demora no atendimento médico.

“Ficou lá duas horas deitada e depois, 20h, que ela conseguiu fazer a curetagem”, disse Elenita Andrade.

A jovem teve alta médica na manhã desta segunda-feira (24).

A Maternidade Ester Gomes confirmou que Rayssa foi atendida duas vezes e que foi orientada a voltar para casa, ficar de repouso e se a situação piorasse, que voltasse.

A família da jovem registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Atendimento a Mulher e pretende processar o hospital por negligência médica.

Em nota, a Santa Casa de Itabuna, que administra o Hospital Manoel Novaes, informou que a paciente Rayssa Vilanova compareceu à unidade de saúde alegando que tinha sido orientada pela Maternidade Ester Gomes a realizar uma ultrassonografia obstétrica.

Segundo a Santa Casa, a jovem paciente foi informada que o hospital não oferece ultrassonografia de urgência, que é dado um prazo de dois dias para a realização desse tipo de exame.

A Santa Casa esclareceu que, embora não tenha sido regulada e não se enquadrasse no perfil de alta complexidade, a paciente recebeu os cuidados médicos necessários no Hospital Manoel Novaes. A profissional que fez o atendimento recomendou repouso e que a paciente fizesse a ultrassonografia.

Segundo a Santa Casa, a médica orientou ainda que, caso apresentasse piora no quadro de saúde, a paciente retornasse para a Maternidade Ester Gomes. Mas, de acordo com a Santa Casa, horas depois de ter recebido as orientações, a jovem retornou ao Hospital Manoel Novaes, com cinco acompanhantes e um feto numa sacola, exigindo internação na unidade médica.

A Santa Casa também afirmou que, a todo o momento, um cidadão de prenome Diego, que se apresentou como delegado de Direitos Humanos, e os demais acompanhantes, coagiram a equipe do hospital, que tentou explicar que a paciente não corria risco de vida e que eles estavam buscando o atendimento no local errado.

"Apesar de o caso ser de baixo risco e, por isso, não se enquadrar no tipo de atendimento do HMN [Hospital Manoel Novaes], Rayssa Vilanova, que estava com 12ª semana de gestação, foi internada na unidade. Ela passa muito bem de saúde, tendo inclusive se alimentado", disse a Santa Casa, em nota.



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