domingo, 23 de agosto de 2020

'Eu estou muito traumatizada', diz jovem que acusa médico de negligência durante parto na Bahia

 

Caso aconteceu na Unidade Municipal Materno Infantil (UMMI), em Teixeira de Freitas. Jovem foi internada novamente por ter restos de placenta no útero.


Mulher acusa hospital de Teixeira de Freitas, no sul da BA, de negligência

“Eu estou muito traumatizada. Não quero saber de filho tão cedo na minha vida”. Esse foi o desabafo da jovem de 18 anos, que acusa um médico de negligência durante o parto, na cidade de Teixeira de Freitas, no sul da Bahia.

Segundo Jessica Dutra, o nascimento do filho dela, Enzo Gabriel, foi com muito sofrimento.

“Eu fazia força e sentia meu neném voltando. Eu ia de novo, aí, chegou o momento que eu não conseguia mais fazer força. Ele pegou meu neném pela cabeça e começou a puxar forte”, disse a jovem.

O parto ocorreu na madrugada de sábado (15), na sala de pré-parto da Unidade Municipal Materno Infantil de Teixeira de Freitas. A mãe da criança conta que o médico que fez o atendimento não estava com a roupa adequada e usou apenas luvas. O bebê teve uma lesão no ombro e foi encaminhado pra fisioterapia.

Nesta quarta-feira (19), o médico suspeito de cometer a negligência contou, em entrevista à TV Santa Cruz, que a conduta dele foi necessária para que pudesse salvar a criança.

Jéssica teve alta no domingo (16) e foi para casa. Ainda no mesmo dia, a jovem percebeu que saía líquidos derivados do parto de dentro dela.

Ela foi levada para o hospital e precisou ser internada para fazer curetagem, um procedimento ginecológico feito para limpar o útero e retirar os restos de uma placenta. Jéssica teve alta na tarde desta quarta e a família foi direto para delegacia registrar boletim de ocorrência contra o médico.

“Do mesmo jeito que ele fez com a minha filha, ele pode fazer com outras mães. O que eu não quero que minha filha passe, não quero que nenhum outro passe”, disse a mãe de Jéssica, Maria Aparecida Dutra.

Família denuncia negligência e violência obstétrica em parto de jovem na BA; médico fez
procedimento sem máscara e roupa adequada

O secretário da Saúde de Teixeira de Freitas, Hebert Fernandes, informou que o profissional foi afastado de todas as funções que exercia na rede municipal.

“Nós estamos abrindo um inquérito administrativo para apurar outros casos, vamos incluir toda a equipe que estava na maternidade naquele momento, técnico de enfermagem e enfermeiros, para saber qual foi a conduta médica. Se o médico estava fazendo para proteção do parto ou se foi uma ação atípica”, disse o secretário da Saúde.

Em áudio enviado por um aplicativo de mensagem, o médico Feliciano Gil conta que precisou agir rápido, pois os ombros da criança estavam presos e foi necessária uma manobra para que o bebê não morresse por falta de oxigênio.

"Eu tenho consciência bem tranquila que a minha medida do desprendimento do ombro, da força que eu fiz naquele momento, foi porque vi uma possibilidade de uma asfixia cerebral, porque o cordão estava comprimido no canal do parto, entre o corpo do neném e o corpo da mãe", disse.

"Então, eu previ uma situação mais catastrófica, né? E eu fiz essa manobra. Só que foi um desprendimento relativamente fácil, apesar de constatar a distorcia de ombro, certo? Que fique bem claro que a exigência de investigação sobre a evolução e o desfecho do parto de mim para os diretores e não o contrário".

Apesar de não haver, no Brasil, uma lei que defina o que é caracterizado como violência obstétrica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enquadra nesse quesito qualquer comportamento por parte dos profissionais de saúde que cause desrespeito, maus-tratos e abusos durante o parto em instituições, além de considerar como violação dos direitos humanos.

Bebê passou por avaliação de uma médica pediatra de terapia intensiva, que ele sofreu uma
 lesão de plexo braquial 

G1

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