sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Médico que fez hidrolipo em MC Atrevida foi condenado por erro em diagnóstico de paciente

 

O médico Wilson Ernesto Galarza Jara, que admitiu à polícia ter sido o responsável por fazer uma hidrolipo em Fernanda Rodrigues, a MC Atrevida, já foi condenado na Justiça por erro no diagnóstico de uma paciente. Em julho de 2014, Wilson foi condenado a pagar R$ 6 mil para a mulher, diagnosticada equivocadamente por ele com nódulos nos seios. Em sua decisão, o juiz Alberto Republicano, da 1ª Vara Cível do Rio, afirmou que o médico foi negligente.

Segundo informações do processo, o profissional, que é ginecologista, diagnosticou a paciente com nódulos nas mamas apenas com exames de toque e apontou que seria necessário realizar um procedimento cirúrgico que custaria R$ 2 mil. Assustada com o diagnóstico, a mulher foi a outro médico e após fazer outro exame de toque, também passou por uma ultrassonografia. Os exames constataram que ela não tinha qualquer nódulo nas mamas. O caso ocorreu em 2005.

Por causa do diagnóstico inicial feito por Wilson, a mulher chegou a contratar um plano de saúde e comprou remédios indicados pelo médico. O juiz Alberto Republicano, ao condenar Wilson a indenizar a paciente, afirmou que ficou comprovado que o médico tinha a intenção de fazer a cirurgia indicada e afirmou que houve negligência.

“A negligência médica é caracterizada pela omissão do médico na execução de determinado ato que deveria praticar. Na hipótese vertente, verifico que o 2º réu (Wilson) foi negligente ao realizar exames superficiais na autora. É de sabença comum que com o avanço da tecnologia na área médica, existem exames, tais como a ultrassonografia e a mamografia, mais eficazes do que o exame de toque, para detectar a existência de nódulos na mama”, escreveu o magistrado. O Centro Médico Reviver, onde Wilson atendeu a paciente, também foi condenado a indenizá-la em R$ 6 mil.

Além do processo respondido na Justiça, Wilson foi alvo de denúncias de pacientes feitas à Polícia Civil. Em dezembro de 2017, uma mulher que afirmou ter sido atendida pelo médico na UPA do Imbariê, em Duque de Caxias, procurou a delegacia da área para registrar uma ocorrência contra ele.

Na 62ª DP (Imbariê), a mulher relatou que foi ao posto de saúde com problemas na garganta e ao entrar para o atendimento, Wilson perguntou a sua idade. A paciente respondeu que tinha 26, e o médico respondeu que ela aparentava ser mais velha. Ao ser questionado sobre o porquê de ter feito tal comentário, Wilson disse para a paciente que ela estava gorda.

Ainda segundo a mulher, Wilson relacionou seu problema na garganta com o sobrepeso e afirmou que ela deveria deixar de comer arroz, feijão e pão francês. De acordo com a paciente, após uma discussão, o médico colocou a mão “no próprio membro sobre a calça” e o balançou.

Em outra ocasião, em novembro de 2010, uma mulher que afirmou ter sido atendida por Wilson em uma clínica no Méier relatou uma situação parecida na 23ª DP (Méier). A paciente afirmou aos policiais que foi até a clínica com fortes dores na barriga e ao ser atendida pelo médico, ele começou a questionar a sua idade e disse que o corpo dela dava vergonha, “pois só tinha pelanca”. Em seguida, segundo a mulher, o médico disse que era cirurgião plástico. A paciente registrou o caso na delegacia e afirmou ter se sentido ofendida.

Já em agosto de 2011, uma paciente que foi atendida pelo médico na UPA de Irajá procurou a 27ª DP (Vicente de Carvalho) para relatar que também se sentiu ofendida por Wilson durante o atendimento. A mulher afirmou que procurou a unidade de saúde porque estava com náuseas e dor na nuca. Ela afirma ter sido ironizada pelo médico, que disse que ela parecia uma lutadora de sumô.

Duas denúncias também chegaram a ser feitas à polícia, ambas em 2010, dessa vez de que Wilson exercia ilegalmente a medicina, mas os inquéritos não chegaram a ser concluídos.

Em depoimento na 20ª DP (Vila Isabel), na tarde dessa segunda-feira, Wilson confirmou que foi o responsável por fazer uma hidrolipo em Fernanda Rodrigues, a MC Atrevida, que morreu 10 dias após o procedimento estético. De acordo com o delegado titular da unidade, André Neves, Wilson negou qualquer relação entre a morte da vítima e a lipoaspiração e afirmou que a MC “morreu porque tinha que morrer”.

- Ele (o médico) negou que tenha ocorrido qualquer intercorrência durante o procedimento - afirmou o delegado André Neves.

Wilson chegou na delegacia para prestar depoimento por volta das 15h30. Ele estava em uma cadeira de rodas. De acordo com o advogado Carlos Costa, o médico sofreu dois AVCs após a morte da MC e está com dificuldades de locomoção. Durante o depoimento, o médico intercalava momentos de consciência com outros em que respondia coisas sem nexo. Ele chegou a relatar que era amigo do cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que morreu em 2016.

No site do Conselho Regional de Medicina do estado do Rio (Cremerj) consta que Wilson tem especialização em ginecologia. A Polícia Civil enviou ao Cremerj um ofício questionando se é necessário ter especialização em cirurgia plástica para realizar hidrolipo. O conselho, no entanto, ainda não respondeu a solicitação dos investigadores. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica também foi questionada e já esclareceu à polícia que Wilson não faz parte de seus quadros e não tem qualquer especialização na área.

A Polícia Civil está investigando todos os profissionais que trabalhavam na clínica Rainha das Plásticas, onde o procedimento estético foi realizado. Uma testemunha afirmou, em depoimento, que a sala onde MC Atrevida passou pela hidrolipo foi desfeita após o procedimento estético. Todos os equipamentos foram retirados no local antes da realização da perícia.

Fernanda passou mal após o procedimento estético, realizado no dia 16 de julho na clínica Rainha das Plásticas, localizada em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. A MC morreu dez dias após a intervenção, no Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, na Zona Norte. A dona da clínica, Wania Tavares, já foi ouvida pela Polícia Civil e confirmou a realização do procedimento em seu estabelecimento. Wania afirmou à polícia que Wilson foi o responsável pela hidrolipo, que é a retirada de gordura das costas para injetar nos glúteos, em Fernanda.

O laudo da morte de Fernanda aponta que ela teve septicemia subcutânea que culminou em uma infecção generalizada causada por inflamação na pele. Na última quinta-feira, a clínica Rainha das plásticas foi interditada pela Subsecretaria de Vigilância Sanitária do Rio.

O advogado Carlos Costa defende a dona da Clínica Rainha das Plásticas e apenas acompanhou Wilson em seu depoimento na delegacia. O EXTRA não conseguiu contato com o médico para comentar as denúncias citadas nesta reportagem.

Extra

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