quinta-feira, 16 de junho de 2022

Cenas fortes: em surto, motoboy é amarrado a maca e morre em UPA do DF

 Antônio Marcos teve um surto psicótico no sábado (11/6) e foi encaminhado pelos bombeiros a UPA do Gama. Ele morreu no domingo


Um motoboy do Distrito Federal morreu, aos 33 anos, após dar entrada na Unidade de Pronto Atendimento do Gama (UPA), no último domingo (12/6), em surto psicótico. Antônio Marcos Pinho precisou ser contido por socorristas do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF). O homem foi amarrado com os braços para trás e o rosto para baixo, em uma maca.

O caso ocorreu no último sábado (12). Já dentro na unidade de saúde, no dia seguinte à sua entrada como paciente, ele morreu. A família denuncia negligência.

Imagens gravadas por testemunhas mostram o momento em que Antônio passa mal na rua e é imobilizado pelos bombeiros. 


Ao Metrópoles, a família da vítima contou que, no sábado (11/6) à tarde, Antônio visitou o primo Patrick Pinho e pediu ajuda. De acordo com o parente, o motoboy estava bastante inquieto.


“Ele estava andando a pé e afirmava que estavam atrás dele e repetia que fizeram algo forte para ele. Quando estávamos no carro, para deixá-lo em casa, apareceram três caras dizendo que o meu primo ia pagar. No que eu saí do carro para protegê-lo, ele tomou a direção do carro e fugiu”, conta.


Após o ocorrido, o primo tentou encontrá-lo pela região. Porém, só teve notícias sobre o paradeiro de Antônio quando soube que ele havia sido socorrido por estar em surto. Ele estava pedindo ajuda em um mercado quando os Corpo de Bombeiros do Distrito Federal foi acionado.


Na hora de transportar o homem na maca, os socorristas o imobilizaram. A reportagem questionou os bombeiros sobre o método utilizado que, por sua vez, responderam que no momento em que atenderam a ocorrência, o homem estava “agressivo e proferindo palavras desconexas”.


“Após regulação médica, o paciente acabou sendo contido na maca e levado à UPA daquela RA [Gama], permanecendo aos cuidados da equipe médica do local, por volta das 17h30”, completaram.


Quando o familiar finalmente encontrou Antônio na UPA disse que ele estava se debatendo na maca.


“Tentei acalmá-lo e fiquei com ele no corredor. Limpei o nariz dele, que estava sangrando, e tentei folgar o aperto das cordas nos pés e na cintura. Ele estava muito ofegante e não conseguia falar direito. Estava fora de si”, relembra Patrick.


Depois de um tempo, o primo conta que Antônio voltou a se debater e a equipe hospitalar pediu que o acompanhante deixasse o local. “O pessoal da UPA ficou de nos ligar para passar informações. Na manhã do dia seguinte, fui até o centro de saúde para buscá-lo, pois achei que ele já estaria bem. Foi quando soube que ele veio à óbito”, relembra. “Meu primo entrou como indigente e saiu como indigente”, lamenta.


Familiares relatam que não era comum Antônio agir da forma que o encontraram no sábado. Mas, de acordo com eles, esta foi a terceira vez que o motoboy teve um surto.


“Total negligência. Ele ficou a noite inteira no corredor, naquela posição. Ele morreu na maca. Nós vamos atrás de provas e imagens da câmera de segurança da UPA. Como que deixa uma pessoa daquele jeito?”, questiona Patrick.

Tratamento indigno


O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF) se manifestou sobre o ocorrido e alegou que, por se tratar de uma emergência psiquiátrica, é necessário avaliar o contexto que levou à morte de Antônio.

“As informações disponíveis até agora não permitem concluir o que ocorreu. O caso precisa ser rigorosamente apurado. Pela simples imagem, pode-se concluir que essa não é a maneira mais adequada de imobilizar um paciente”, alega o Coren.

“Além de ser desconfortável, pode prejudicar a circulação sanguínea da pessoa. Esse tipo de abordagem deve ser humanizada e profissional. Ninguém merece ser tratado de forma indigna”, acrescenta em nota oficial.

O que diz o Iges-DF

Por meio de nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), responsável pela administração da UPA do Gama, informou que recebeu um paciente contido mecanicamente pelo Samu em decorrência de agitação psicomotora e extrema agressividade.

Antônio foi admitido na UPA Gama, classificado em laranja, apresentando desorientação. Os profissionais encaminharam o paciente, então, para atendimento imediato quando ministraram medicações e realizaram o atendimento médico.

“No decorrer do plantão apresentou rebaixamento do nível de consciência onde evoluiu para parada cardiorrespiratória, por volta das 1h20, onde foi prontamente assistido com manobras de reanimação cardiopulmonar, por 56 minutos e intubação orotraqueal”, esclarece.



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