quinta-feira, 9 de junho de 2022

Quatro médicos vão responder por negligência após morte de paciente em hospital público no AP

 

Vítima que sofria de hérnia e necessitava de cirurgia procurou atendimento de saúde pelo menos seis vezes antes de morrer.


Hospital Estadual de Santana 

Quatro médicos – três generalistas e um cirurgião – foram indiciados e vão responder por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, em função da morte de uma paciente que necessitava de uma cirurgia e não teve o procedimento realizado na rede pública de saúde do Amapá.

Os nomes dos médicos e nem da mulher foram informados pela Polícia Civil, responsável pela investigação. A morte da vítima, de 35 anos, aconteceu em fevereiro de 2021 no banheiro do Hospital Estadual de Santana, na Região Metropolitana de Macapá.

O delegado Edmilson Antunes, da Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM) do município, concluiu o inquérito e apontou que houve negligência médica e regra técnica da profissão.

A mulher foi diagnosticada com hérnia diafragmática esquerda contendo alça intestinal, que é quando parte do conteúdo abdominal se desloca para o interior da cavidade torácica, causando intensas dores, sendo a cirurgia o único tratamento.

De acordo com a investigação, a vítima recebeu o diagnóstico da enfermidade em julho de 2020 já necessitando da cirurgia. Até a morte, sete meses depois, procurou hospitais públicos e uma clínica particular pelo menos seis vezes alegando fortes dores e em nenhuma delas conseguiu a cirurgia.

“Em julho de 2020, durante a consulta, o médico, cirurgião-geral, verificou que o diagnóstico da vítima necessitava de procedimento cirúrgico, porém alegou que o Hospital de Santana não poderia realizá-lo devido a pandemia”, explicou o delegado.

Delegado Edmilson Antunes, da DCCM de Santana

Em seguida, a mulher foi orientada a procurar uma clínica particular, onde não teria conseguido continuar o tratamento, e retornou ao Hospital de Santana, onde uma médica prescreveu remédios para dor e um novo retorno ao cirurgião.

“A médica inclusive, falou pessoalmente com o cirurgião que o caso era sério e de cirurgia. Horas depois, a vítima voltou a sentir dores abdominais e foi ao Hospital de Emergência de Macapá, sendo atendida por um médico que lhe prescreveu analgesia e lhe deu encaminhamento para consulta com um cirurgião por entender ser caso de cirurgia eletiva”, completou Antunes.

A mulher voltou a sentir dor e procurou pela terceira vez o Hospital de Santana, sendo atendida por um outro médico generalista, detalha o inquérito.

“Lhe prescreveu remédio para dor, solicitou exame de sangue e, de forma ríspida, disse que não iria olhar os exames que ela havia levado, pois não serviam. Horas depois, a vítima foi ao banheiro do Hospital, desfaleceu e veio a óbito”, contou o delegado.

Os quatro médicos da rede pública que atenderam a vítima foram ouvidos e, segundo a polícia, reconheceram que deveriam ter encaminhado a mulher para avaliação com cirurgião.

Já o cirurgião que alegou que não havia estrutura no Hospital de Santana, de responsabilidade do governo do Amapá, declarou em depoimento que deveria ter solicitado os exames pré-operatórios.

A inquérito foi concluído e será encaminhado ao Ministério Público (MP-AP) que ofertará denúncia à Justiça para determinar se os quatros se tornarão réus ou não pelo crime.






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