quinta-feira, 2 de junho de 2022

Família aponta negligência em morte de grávida de 7 meses no RJ

 Mariana Gimenes morreu após procurar por quatro vezes um hospital público em Duque de Caxias. Bebê também não sobreviveu


Rio de Janeiro – Uma jovem grávida de 25 anos morreu após procurar atendimento médico por quatro dias no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio. O bebê que Mariana Gimenes esperava também não sobreviveu.

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A família indica que houve negligência no atendimento prestado a Mariana. Alega que a jovem era saudável e não havia apresentado problemas durante a gestação. Ela começou a se sentir mal a partir da 30ª semana de gestação.

Segundo Gabriela Mota, prima da vítima, Mariana foi diagnosticada com infecção urinária e chegou a tomar os medicamentos indicados pelo médicos que a atenderam.

“Estamos sem acreditar. Como uma pessoa saudável, que trabalhava, estava bem e acabou morta por falta de atendimento? Ninguém vai para o hospital a passeio. Eles deveriam ter investigado. Estamos no meio de um crime, de uma tragédia”, disse Gabriela ao Metrópoles.

Idas e vindas

Vendedora de shopping, Mariana começou a se sentir mal na sexta-feira (20/5) e decidiu procurar atendimento médico no Hospital Adão Pereira Nunes. Por lá, segundo relato dos parentes, os médicos classificaram as dores como normais e receitaram um remédio para cólicas e dores abdominais, além de indicarem repouso à paciente.

Como as dores persistiram, ela retornou à unidade por volta das 22hs e acabou recebendo medicação na veia. Ao questionar a possibilidade de realizar uma ultrassonografia, para confirmar como estava o bebê, ela foi informada que o exame só poderia ser feito na segunda-feira (23/5).

No dia seguinte, sábado (21/5), ela foi em busca de outra opinião médica. Seguiu até a maternidade de Santa Cruz da Serra, em Caxias, onde realizou exames de sangue e urina. O resultado revelou uma infecção urinária.

Na maternidade, de acordo com o relato da família, Mariana foi orientada a voltar ao hospital Adão Pereira Nunes para ser atendida como paciente de alto risco.

No domingo (22/5), ela retornou mais uma vez ao hospital. Naquele momento, ela reclamava de falta de ar, dor na lombar e cólicas. Foi orientada por uma médica da unidade a tomar um antibiótico, além de seguir com o remédio para cólicas e dores abdominais. Acabou liberada e voltou para casa.

Dores fortes

Em sua quinta visita a uma unidade de saúde, na segunda-feira (23/5), ele já sentia dores mais severas. No atendimento, o médico teria dito que, para uma grávida de sete meses, o desconforto apresentado era normal.

Mariana voltou para casa. E, naquele mesmo dia, por volta da meia-noite, retornou ao hospital com febre, fortes dores, falta de ar e contração na barriga. Foi então que decidiram interná-la.

Por volta das 10 horas da manhã da terça-feira (24/5), a família tomou conhecimento sobre a internação de Mariana no CTI, o Centro de Terapia Intensivo do hospital.

“Soubemos então que ela havia sido intubada em estado muito grave. Disseram que a situação do bebê também era crítica”, disse a prima Gabriela Mota.

Mortes de mãe e filha

O bebê morreu por volta das 13h e, segundo a família, os médicos optaram por esperar o melhor momento para fazer a retirada. Dez horas depois, por volta das 20 horas, Mariana morreu em decorrência de infecções generalizadas pelo corpo.

Mariana foi enterrada com a filha, que se chamaria Cecília, em seu ventre.

Gabriela relata que, após a confirmação das mortes, foi abordada por dois funcionários do hospital público. Um deles, segundo a versão da prima da vítima, teria dito que houve negligência por parte da equipe responsável pelo atendimento. O funcionário teria reconhecido que Mariana acabou sendo internada quando já era tarde demais.

Mariana era casada e tinha uma filha de 5 anos.

“Ela foi vítima de violência obstétrica. Peregrinou até conseguir atendimento. As dores dela foram ignoradas o tempo inteiro. A negligência foi consequência disso tudo”, disse Luana Santana, advogada da família.

O que diz o hospital

Procurado pelo Metrópoles, o Hospital Adão Pereira Nunes, sob gestão da prefeitura de Duque de Caxias, informou que uma sindicância interna foi aberta para investigar o atendimento e procedimentos adotados no caso de Mariana Gimenes.

Leia a íntegra da nota:

A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Saúde, informa que a paciente Mariana Gimenes Silva de Medeiros, gestante de aproximadamente 30 semanas, foi admitida dia 23/05/2022 às 23h58, na Urgência do Centro Obstétrico do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), relatando que foi atendida no dia anterior, na mesma unidade, quando foi diagnosticada infecção do trato urinário, tendo iniciado o tratamento com o antibiótico cefalexina, e que havia piora dos seus sintomas. A direção do HMAPN informa que foram solicitados exames de urina, incluindo cultura e hemocultura, sendo imediatamente internada sob o diagnóstico provável de sepse urinária.

A direção esclarece ainda que, no mesmo momento, foi iniciado na enfermaria de Ginecologia e Obstetrícia, o protocolo de sepse urinária, trocando o antibiótico. Foi solicitada uma vaga em CTI, devido a gravidade do quadro clínico, às 2h44 do dia 24/05/2022, menos de três horas após a admissão. Às 9h do mesmo dia foi liberada a vaga no CTI da unidade, para onde a paciente foi transferida. A direção informa que no CTI, devido a gravidade e instabilidade da paciente, a mesma foi submetida a intubação com sucesso e estabilizada.

Foi realizada também hemodiálise, para correção de distúrbios eletrolíticos, realizada hidratação e dose de ataque de antibiótico, mas a paciente não obteve reversão do choque séptico, evoluindo para óbito às 20h23 do mesmo dia, menos de 24h após a sua internação. Pelo exposto, a direção reforça que a equipe do hospital empreendeu todos os esforços que eram possíveis, a fim de resgatar a saúde da paciente, mas a gravidade do quadro se impôs, infelizmente resultando em óbito. A direção do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes lamenta as perdas e reforça que uma sindicância está sendo aberta para apuração do atendimento e procedimentos realizados na unidade.

Quando questionados sobre a morte do bebê e o fato dele não ter sido retirado, o hospital alega instabilidade da paciente:

A direção do Hospital Adão Pereira Nunes esclarece que durante a crítica evolução e descompensação clínica da paciente Mariana Gimenes Silva de Medeiros, foi diagnosticado o óbito do feto, através de ultrassonografia. A equipe médica aguardava a estabilização da paciente para a realização do parto, considerando que a cirurgia não traria benefícios imediatos, e que traria agravo da situação clínica que a mesma se encontrava.


Metrópoles




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