segunda-feira, 20 de junho de 2022

Situação crítica do Hospital Infantil Joana de Gusmão é reflexo do descaso, diz médico

 

Em entrevista ao SC no Ar na manhã desta sexta-feira (17), o chefe do serviço de pneumologia da instituição comentou sobre a sequência de fatos que levaram o hospital à atual situação

Ala pediátrica é uma das que mais vêm sofrendo com a falta de insumos e profissionais no Joana de Gusmão

“Ausência de planejamento”, é assim que o chefe do serviço de pneumologia do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Eduardo Piacentini, define o descaso da SES (Secretaria de Estado de Saúde) para com a instituição.

“Isso é algo que foi cultivado ao longo de muito tempo”, desabafa à apresentadora Márcia Dutra, durante a manhã desta sexta-feira (17), no SC no Ar.

Localizada em Florianópolis, há meses a unidade recebe reclamações sobre vazamentoscarência de profissionais e de materiais utilizados no dia a dia da instituição, além das ocorrências de equipamentos quebrados, como o único tomógrafo do hospital, que esperou por mais de um mês o conserto.

Ainda, com a ocupação de todos os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no Joana de Gusmão, pacientes que precisariam do espaço para internações devido às suas condições de saúde não os recebem, pois não há estrutura suficiente que receba a todos.

“Basta fazer uma busca simples no Google que você encontra sobre tudo isso”, diz o profissional. Ele reforça que essa situação já vinha sendo alertada à SES desde o último ano.

“Isso acaba sobrecarregando as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e as emergências” explica o médico. Ainda segundo ele, isso porque caso um paciente não consiga receber a devida atenção nos hospitais, ele é encaminhado para tais instituições.

“E isso também sobrecarrega os pais, os filhos, todos os pacientes, deixando os profissionais em uma situação difícil”, afirma.

Descaso dentro do próprio hospital


Eduardo afirmou que no passado o Hospital Infantil Joana de Gusmão teve um diretor que não trabalhava para as crianças. “Não sabemos para quem ele trabalhava, mas pelas crianças ele fez pouco ou quase nada”, comenta o médico que frisa que o pensamento é compartilhado pelos servidores da instituição.

Quarto de isolamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão

Hoje, ele confirma haver um canal de diálogo entre o então diretor e os profissionais que lá atuam. Entretanto, mesmo com a possibilidade de vir à tona para mostrar o que há de errado no hospital, o médico diz que a SES não faz nada para ajudar.

“A finalização da UTI e do centro cirúrgico, por exemplo. Foram séries de esforço, da AVOS (Associação de Voluntário de Saúde do Hospital Infantil Joana de Gusmão) principalmente, para que eles ficassem prontos e atendessem a população”.

Dedicação dos médicos


“A grande maioria dos servidores veste a camisa do hospital. Eles se dedicam. Tenho certeza que se eles recebessem as ferramentas necessárias, continuariam fazendo seu melhor e ainda mais pelas crianças do Joana de Gusmão”, reforça o médico.

O médico comentou que todas as respostas da SES para com os servidores é sempre a mesma. “Ou recebemos um texto padrão, ou recebemos silêncio”, afirma Eduardo.

“Tenho noção que sou chefe de serviço em função da escolha de meus colegas de serviço, não por escolha política. Se acontecer de eu sair do meu cargo, minha situação continuará sendo a mesma”, comenta Eduardo sobre possíveis retaliações por parte da SES que podem vir a ocorrer.

O médico ainda fala que o maior descaso e represália é trabalhar sem a condição adequada. “É enxergar uma criança, saber que posso mais, e não conseguir fazer. Qualquer profissional que receber um material que seja, você vai ver o brilho no olhar deles”.

O que diz a Secretária de Estado de Saúde


Procurados pela reportagem do ND+, a SES informou que está, de forma estadual, trabalhando para a ampliação dos leitos de UTI pediátrica para atender a alta demanda de atendimentos. Veja na íntegra:

A SES informa que está, de forma estadual, trabalhando para a ampliação dos leitos de UTI pediátrica de forma a atender a alta demanda de atendimentos, em sua maioria de pacientes com acometimentos respiratórios, sendo importante frisar que todos estão plenamente assistidos nas unidades.

No Hospital Infantil Joana de Gusmão, que é referência no Estado, estão sendo abertos nove leitos pediátricos de cuidados intermediários e as equipes estão trabalhando de forma intensa para diminuir o tempo de espera na emergência, já que é um hospital de porta aberta e recebe pacientes classificados em diferentes níveis de risco, inclusive os triados como verde e azul, considerados de menor gravidade e que poderiam receber atendimentos nas Upas e UBSs.

Além disso, o HIJG está promovendo a reforma da ala de queimados e da área de psiquiatria, além de já ter concluído a obra da unidade de emergência interna e da unidade de isolamento. Está, também, promovendo melhorias estruturais, como a impermeabilização da lage e a drenagem pluvial da área externa à unidade.

O Hospital já iniciou também o processo de contratação de mais uma equipe clínica geral de pediatria e mais uma na área de pneumologia, uma das que estão sendo mais pressionadas neste momento em que as doenças respiratórias são proeminentes.

A SES informa, ainda, que não foi notificada sobre falta de equipamentos na unidade, e que inclusive o hospital receberá um novo tomógrafo.Por fim, a SES ressalta que, mesmo com a alta demanda, não parou em nenhum momento as cirurgias eletivas, que estão sendo realizadas continuamente, de forma a atender os pacientes e diminuir os sofrimentos das crianças que precisam de intervenção, principalmente as de alta complexidade”.

Caso Maria Sofia


Maria Sofia, de apenas 2 meses, morreu no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, na madrugada do último sábado (11) após sofrer três paradas cardiorrespiratórias. A menina sofria de bronquiolite viral, uma doença grave, que piora com o passar dos dias.

Apesar de a SES ter afirmado em nota que a morte da bebê não tenha ocorrido por falta de leitos de UTI, a mãe da menina, Samara Ester Santos, comentou com exclusividade ao SC no Ar que as condições estruturais da instituição eram péssimas.

Emocionada, Samara comentou que os médicos choravam com ela ao ver a menina morrendo porque eles não tinham como realizar os procedimentos que necessitavam.

Eduardo Piacentini, que acompanhou o caso, emitiu seus respeitos à família. “Foi um quadro que se agravou conforme a internação, mas que recebeu suporte do que poderia ter sido feito”, diz.

Ele comenta ainda sobre a situação da UTI. “Não trabalhamos com o ‘se’, ela foi transferida para a emergência, pois era onde teria monitoração e suporte 24h ao seu lado. Ela recebeu isso, mas infelizmente perdemos uma vida e uma criança”.






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