Ela tinha 69 anos e morava no bairro Pitanga, na Serra. Família diz que cirurgia poderia ter esperado
Uma dona de casa de 69 anos, moradora do bairro Pitanga, na Serra, morreu na noite de segunda-feira vítima do novo coronavírus. Ela estava internada no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), o Hospital das Clínicas, em Vitória, após dar entrada no início do mês para ser submetida a uma cirurgia cardíaca
Hospital das Clínicas |
A família alega que a dona de casa aguardava há mais de cinco anos por uma cirurgia para troca da válvula mitral, mas ela não queria fazer neste período, em função da pandemia de covid-19. No entanto, há cerca de 20 dias o médico que a acompanhava ligou dizendo que poderia fazer o procedimento.
“Minha sogra disse que não queria fazer agora, mas o médico insistiu, e insistiu muito. Ele ligou duas vezes e na segunda vez ela acabou aceitando e foi para o hospital no dia seguinte. A cirurgia cardíaca correu bem, mas depois ela começou a passar mal e o exame detectou que era coronavírus”, declarou a nora da dona de casa, uma bancária de 43 anos.
A família relata que a cirurgia foi realizada no dia 8 de abril e, após terminada, como de praxe, ela foi para a Unidade de Tratamento Intensiva (UTI), onde ficou isolada por alguns dias. Depois passou a ter a cunhada como acompanhante. Cerca de sete dias depois, a cunhada sentiu que a dona de casa estava com muita falta de ar e comunicou à equipe médica.
“A princípio disseram que poderia ser secreção no pulmão por causa da própria cirurgia, mas a situação foi piorando”, contou a bancária. A presença de acompanhante foi proibida e logo a cunhada da dona de casa também começou a se sentir mal, com falta de ar e febre. O mesmo aconteceu com o marido dela, irmão da paciente internada, e um sobrinho da dona de casa.
“Mesmo com todos os sinais de coronavírus, só fizeram o exame de Covid-19 na última sexta-feira, dia 24, e no sábado nos avisaram da suspeita. O resultado positivo saiu na segunda-feira (27) pela manhã e à noite, por volta de 22 horas, minha sogra morreu”, narrou a bancária.
A dona de casa não chegou a ser transferida para o Hospital Jayme dos Santos Neves, que é referência para tratamento do novo vírus na Grande Vitória.
“Uma médica do Hucam nos disse que tudo leva a crer que minha sogra contraiu o vírus dentro do hospital. A orientação é para que a família fique isolada, mas ninguém foi submetido ao teste do coronavírus, o que consideramos que deveria ser feito”, defendeu.
O corpo foi enterrado na manhã desta terça-feira (28), de urgência e sem velório, em um cemitério da Serra. “A família ficou de longe, uma situação muito triste”, disse a nora. A dona de casa era viúva, morava sozinha, próxima às casas do casal de filhos e ajudava a cuidar dos netos.
“Só saiu de casa porque o médico marcou a cirurgia”
“Minha sogra estava bem, não precisava passar por uma cirurgia dessas agora, no meio dessa pandemia. Ela já estava aguardando há mais de cinco anos pela cirurgia, poderia ter esperado, mas houve uma insistência do médico e ela foi porque ficou com medo.
Minha sogra estava cumprindo o isolamento social. Morava em Pitanga e no bairro todo mundo se conhece, a vizinhança é amiga. Minha sogra gostava muito de sair, ir na casa dos vizinhos, mas parou completamente quando foi determinado o isolamento. Ela sabia que precisava ficar em casa, e ficou. Só saiu de casa porque o médico marcou a cirurgia e aí aconteceu isso.
Não era uma cirurgia de urgência porque ela nem tinha feito consulta recentemente. O triste foi ela ter feito a cirurgia sem querer fazer. Além disso, a cunhada, o irmão e um sobrinho estão com sintomas de Covid-19 e não fizeram exames neles. Deveriam testar todo mundo, para tranquilizar a família”.
Bancária de 43 anos, nora da dona de casa que morreu com coronavírus
Teste de coronavírus |
O Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) foi procurado pela reportagem do Tribuna Online para esclarecer os pontos questionados pela família da dona de casa de 69 anos, moradora da Serra, que morreu com coronavírus após ter feito uma cirurgia no local.
Em nota, o Hucam declarou que “manifesta pesar pelo falecimento da paciente e informa que uma investigação epidemiológica está sendo feita para tentar esclarecer como se deu a contaminação”.
A unidade de saúde adiantou uma avaliação preliminar de que “pelo período de incubação do vírus causador da doença, de até 14 dias, não há como garantir neste momento que a contaminação ocorreu dentro do hospital”.
Sobre o fato de a cirurgia cardíaca ter sido realizada na paciente, o Hucam esclareceu que “as cirurgias eletivas estão suspensas desde março, com exceções avaliadas caso a caso, de acordo com a gravidade do paciente. No entanto, de acordo com portaria do governo estadual, as cirurgias cardíacas não foram suspensas, pelo risco de interrupção do tratamento para estes pacientes”.
Em nota, o hospital também declarou que vai entrar em contato com a família para orientar sobre a indicação de fazer o teste para o novo coronavírus.
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) confirmou que, de acordo com a Portaria 038-R, de 23 de março, as cirurgias eletivas estão suspensas, “com exceção das cirurgias oncológicas e cardiovasculares”.
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