Problemas na gestação das respectivas mães é a maior causa de deficiência física na seleção brasileira de atletismo paralímpico que compete em Londres na próxima semana
Rodrigo ainda estava na barriga da mãe quando um pequeno acidente mudou o seu destino. Ao cair de uma motocicleta com seis meses de gravidez, a mãe do saltador sofreu um forte impacto no abdomem, o qual deixaria sequelas no seu bebê no momento do parto. Assim como milheres de brasileiros, o atleta goiano nasceu com paralisia cerebral em função de uma intercorrência no parto ou gravidez. A partir de sexta, o atletismo paralímpico brasileiro participa do Mundial de Londres. Dos 25 convocados, sete, incluindo o saltador Rodrigo Parreira, ficaram deficientes por problemas nos respectivos partos, o que representa a maior causa de deficiência na atual seleção.
- Meu pai estava com a minha mãe na garupa da moto, e eles caíram quando foram passar num mata-burro. Num primeiro momento, os médicos falaram que não houve nada comigo. Minha mãe estava no sexto mês de gravidez. Nasci com paralisia cerebral e o lado do esquerdo do corpo paralisado. Sinceramente, não acho que tenha sido uma fatalidade. Se eu tivesse nascido sem a minha deficiência, não seria o que sou hoje - disse Rodrigo, prata no salto em distância e bronze nos 100m nos Jogos Paralímpicos do Rio, no ano passado.
Representante do Brasil no lançamento de disco e arremesso de peso classe F46 do Mundial de Londres, Emerson dos Santos Lopes também ficou deficiente no momento do parto. Só que, diferentemente de Rodrigo, o catarinense de Lages não teve uma paralisia cerebral. Emerson foi vítima de um erro médico. Retirado de forma incorreta da barriga da mãe no momento do parto, o gigante de 1,87m e 105kg ficou com uma má formação no braço direito.
- Meu braço ficou com uma sequela por causa de um parto mal feito. Nasci em um hospital público de Lages, e a minha família infelizmente nunca mais encontrou o médico. Penso que as coisas acontecem por que têm que acontecer. Hoje estou aqui me preparando para o meu primeiro Mundial e com expectativas boas de trazer uma dealha - disse Emerson, que chegou a praticar hadebol antes de competir no atletismo.
As histórias dos brasileiros que disputam o Mundial de Londres são bem variadas. Acreano, Edson Pinheiro nasceu no seringal com ajuda de uma parteira. A falta de oxigênio durante o nascimento causou uma paralisia cerebral que comprometeu o movimento do braço direito do velocista, medalha de bronze na Rio 2016. Para o obstetra Wallace Mendes, diretor-médico da Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Rio, a presença de um médico e de uma estrutura dotada de emergência são imprescindíveis para um parto ser bem feito.
- Tem que haver sempre uma estrutura de apoio ao parto. Por mais que a mãe seja saudável, sempre pode acontecer uma intercorrência. Realizar um parto em casa é sempre um risco. Se houver qualquer problema com o bebê, ele tem que ser internado urgentemente, mesmo porque no momento do nascimento ou neurônios não se regeneram - destacou.
O obstetra explicou ainda que são vários os fatores que podem ocasionar uma falta de oxigenação no momento do parto, como doenças secundárias na mãe, intercorrências na placenta ou cordão umbilical, dificuldades na saída do bebê e ruptura de vasos.
- O Ministério da Saúde recomanda que a mulher faça exames no início da gravidez para saber dos seus riscos e ter um acompanhamento completo. Todas as mulheres devem fazer suplementação com ácido sulfúrico, que previne a má formação do feto. A mãe também deve evitar infecções que podem prejudicar o desenvolvimento do feto, tais como toxoplasmose, rubéola e doenças oriundas do Zika Vìrus. A mãe também deve evitar qualquer lesão abdominal e atividades que vão gerar impacto no bebê. Enfim, há muitos cuidados que podem ser tomados para que uma criança nasça com saúde - finalizou Wallace.
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