segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Tese de médico de Taubaté vai embasar projeto de lei federal

Proposta tornará obrigatória notificação de mortes por lipoaspiração

Deputada Pollyana Gama (centro) durante audiência realizada na terça-feira (5)
Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Um estudo realizado pelo médico dermatologista Érico Pampado Di Santis, de Taubaté, vai embasar um projeto de lei federal que pretende tornar obrigatória a notificação de complicações ou mortes causadas por lipoaspiração.

O médico expôs o tema em uma audiência pública, na última terça-feira (5), na Câmara dos Deputados.  A reunião foi uma iniciativa das deputadas federais Pollyana Gama (PPS), de Taubaté, Carmen Zanotto(PPS)  e Shéridan Estérfany (PSDB).

A notificação obrigatória daria subsídios para implementação de medidas de prevenção, o que garantiria maior segurança aos pacientes que recorrem à lipoaspiração.

“Com as notificações obrigatórias, uma comissão de médicos poderá saber qual a incidência e causas dessas complicações, que muitas vezes chegam a óbito. Com estas informações, poderão ser estabelecidos protocolos, medidas para prevenção”, disse o médico.

Além disso, a medida também evitaria o preenchimento inadequado de certidões de óbito. Hoje,  segundo ele,  falta de informação acaba ocultando que a morte é decorrente da lipoaspiração.

Isso ele constatou no estudo que integra a tese de doutorado que deverá defender na Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, no início do próximo ano.


A tese

O trabalho traça um perfil das mortes relacionadas à lipoaspiração no Brasil e tem como base casos de mortes atribuídas a cirurgias estéticas noticiadas pela imprensa entre janeiro de 1987 e setembro de 2015.

Di Santis identificou 102 casos espalhados por 20 estados e Distrito Federal, porém só conseguiu localizar 86 e só 7% deles tinham preenchimento correto.

Os dados reunidos no trabalho mostram ainda que 44% dos óbitos ocorreram no mesmo dia da cirurgia e 82,82% na primeira semana. 

Em 61,7% dos casos, a lipoaspiração foi realizada isoladamente. Esse dado contraria a literatura médica existente, que mostra o risco de morte aumentada quando a lipoaspiração se associa a outros procedimentos.

As deputadas Pollyana e Carmen Zanotto devem elaborar o projeto de lei com esse objetivo. Para a deputada de Taubaté, o Legislativo pode contribuir com a redução de mortes em virtude da lipoaspiração, propondo alteração na legislação, na medida do possível, para garantir rigor nos laudos.

Brasil é 2º em cirurgia estética

O Brasil é o segundo país do mundo em cirurgias estéticas, atrás apenas dos Estados Unidos. Ele responde por 12,7% dos procedimentos cirúrgicos estéticos realizados hoje no planeta. Oficialmente foram 209.165 cirurgias em 2016. Entre as cirurgias estéticas, a lipoaspiração é a cirurgia cosmética mais popular nos últimos 30 anos e a mais realizada no mundo em 2016, com 1.453.340 casos, segundo o ISAPS (sigla em inglês de Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética).

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves, concorda com a notificação obrigatória, mas defende que o principal problema é a realização do procedimento por médicos sem qualificação em cirurgia plástica.

"Nós temos 6 mil médicos especialistas em cirurgia plástica e 12 mil médicos realizando procedimentos de lipoaspiração sem serem especialistas em cirurgia plástica. E o que está acontecendo? Um grande número de óbitos sequenciais, famílias destruídas. Nós precisamos ter uma resolução no Conselho Federal de Medicina que estabeleça o exercício das especialidades médicas e precisamos ter uma interpretação da Lei de 1957 com a leitura do ano de 2017. A lei diz que para realizar procedimentos, o médico tem que ter qualificação", alertou.

Rosylane Rocha, do Conselho Federal de Medicina, explicou que pelo entendimento jurídico da atual legislação não é possível limitar a atuação da medicina somente para médicos com título de especialização. Ela destacou que o Conselho faz a punição dos profissionais que causam danos aos pacientes, e que essa punição é mais grave quando o médico não tem especialização para o procedimento.

A assessoria de imprensa do Cremesp  não informou o número de processos ou queixas registradas contra médicos por vítimas ou parentes de mortos por lipoaspiração em São Paulo.

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