Falta de médicos teria gerado problemas que provocou a morte de duas pessoas |
Médicos da empresa afastada do pronto-socorro do hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, após dois pacientes morrerem por supostos problemas de atendimento, denunciam que já haviam alertado a direção da unidade sobre a falta de profissionais e da sobrecarga de trabalho que poderia colocar em risco a vida dos pacientes.
O aviso está em uma solicitação de aditivo do contrato da licitação e que foi encaminhado à direção do Ruth Cardoso em 15 de janeiro. O documento, assinado pelo sócio da Pró-Ativo Gestão da Saúde, Sandro Cristiano Kowalski, foi elaborado por dois médicos, entre eles a coordenadora da escala médica da emergência.
A coordenadora da equipe, que pediu para não ter o nome identificado, afirma, que além da solicitação não ser atendida, a direção do hospital exigia mais agilidade no atendimento, gerando pressão e sobrecarga de trabalho em função da demanda.
A médica relata que eram três médicos na equipe durante o dia, e dois à noite. Pela quantidade de pessoas, argumenta, deveriam ser pelo menos cinco profissionais em todos os turnos, mas a empresa acabou pedindo ao menos mais um profissional de saúde. “Na tentativa de minimizar a situação exposta, solicitamos aditivo imediato do quarto médico”, diz o pedido.
O ofício cita a média de 4,8 mil atendimentos por mês no setor, o que seria incompatível com o número de médicos. O documento destaca também a falta de espaço físico, com pacientes sendo atendidos nos corredores.
“Alertamos, ainda, que o pronto socorro já trabalha com sobrecarga e, durante a alta temporada, essa demanda aumenta consideravelmente com a chegada de turistas, não havendo local adequado para acomodar os pacientes, nem os médicos”, diz um dos trechos do ofício. “Chegamos a falar que os pacientes tavam correndo risco de vida”, reforça a médica.
A secretaria de Saúde estaria sabendo do alerta. A empresa, os médicos e os enfermeiros que tocavam o pronto socorro foram afastados no início do mês depois da morte de dois pacientes: Ivonei Ferraz, o Ivo, 24 anos, e Larissa Santana Cavanha Martins, 31.
Médicos eram suficientes, rebate secretária de Saúde
Andressa Haddad, secretária de Saúde da prefeitura, confirma o recebimento do ofício. O documento, segundo ela, chegou 30 dias depois que a empresa ganhou a licitação para gerenciar o pronto socorro e pedia um aditivo contratual. “Nós explicamos que não tinha como fazer um aditivo no contrato num período de apenas 30 dias, não haveria como comprovar a necessidade e até mesmo o Tribunal de Contas iria reprovar”, argumenta a secretária.
Ainda segundo ela, houve então um segundo ofício, dessa vez solicitando médicos. Mas, diz Andressa, até então a frequência de pacientes no pronto socorro não exigia mais profissionais. O movimento no PS só aumentou em fevereiro, ou seja, depois dos ofícios.
Segundo ainda a secretária, a morte dos dois pacientes não tem nada a ver com a suposta falta de médicos ou condições inadequadas do hospital. “Constatamos vício de negligência e, se for comprovado, foi por erro médico”, afirmou. E completou: “Os dois pacientes foram atendidos, não ficaram sem atendimento. (…) A falha, em si, não foi pela estrutura nem pela falta de médico”.
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