sexta-feira, 29 de março de 2019

Já havia alerta sobre falta de médicos no PS

Ofício foi enviado em janeiro, citando inclusive risco aos pacientes, dizem médicos
Falta de médicos teria gerado problemas que provocou a morte de duas pessoas
Médicos da empresa afastada do pronto-socorro do hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, após dois pacientes morrerem por supostos problemas de atendimento, denunciam que já haviam alertado a direção da unidade sobre a falta de profissionais e da sobrecarga de trabalho que poderia colocar em risco a vida dos pacientes.

O aviso está em uma solicitação de aditivo do contrato da licitação e que foi encaminhado à direção do Ruth Cardoso em 15 de janeiro. O documento, assinado pelo sócio da Pró-Ativo Gestão da Saúde, Sandro Cristiano Kowalski, foi elaborado por dois médicos, entre eles a coordenadora da escala médica da emergência.

A coordenadora da equipe, que pediu para não ter o nome identificado, afirma, que além da solicitação não ser atendida, a direção do hospital exigia mais agilidade no atendimento, gerando pressão e sobrecarga de trabalho em função da demanda.

A médica relata que eram três médicos na equipe durante o dia, e dois à noite. Pela quantidade de pessoas, argumenta, deveriam ser pelo menos cinco profissionais em todos os turnos, mas a empresa acabou pedindo ao menos mais um profissional de saúde. “Na tentativa de minimizar a situação exposta, solicitamos aditivo imediato do quarto médico”, diz o pedido.

O ofício cita a média de 4,8 mil atendimentos por mês no setor, o que seria incompatível com o número de médicos. O documento destaca também a falta de espaço físico, com pacientes sendo atendidos nos corredores.

“Alertamos, ainda, que o pronto socorro já trabalha com sobrecarga e, durante a alta temporada, essa demanda aumenta consideravelmente com a chegada de turistas, não havendo local adequado para acomodar os pacientes, nem os médicos”, diz um dos trechos do ofício. “Chegamos a falar que os pacientes tavam correndo risco de vida”, reforça a médica.

A secretaria de Saúde estaria sabendo do alerta. A empresa, os médicos e os enfermeiros que tocavam o pronto socorro foram afastados no início do mês depois da morte de dois pacientes: Ivonei Ferraz, o Ivo, 24 anos, e Larissa Santana Cavanha Martins, 31.

Médicos eram suficientes, rebate secretária de Saúde


Andressa Haddad, secretária de Saúde da prefeitura, confirma o recebimento do ofício. O documento, segundo ela, chegou 30 dias depois que a empresa ganhou a licitação para gerenciar o pronto socorro e pedia um aditivo contratual. “Nós explicamos que não tinha como fazer um aditivo no contrato num período de apenas 30 dias, não haveria como comprovar a necessidade e até mesmo o Tribunal de Contas iria reprovar”, argumenta a secretária.

Ainda segundo ela, houve então um segundo ofício, dessa vez solicitando médicos. Mas, diz Andressa, até então a frequência de pacientes no pronto socorro não exigia mais profissionais. O movimento no PS só aumentou em fevereiro, ou seja, depois dos ofícios.

Segundo ainda a secretária, a morte dos dois pacientes não tem nada a ver com a suposta falta de médicos ou condições inadequadas do hospital. “Constatamos vício de negligência e, se for comprovado, foi por erro médico”, afirmou. E completou: “Os dois pacientes foram atendidos, não ficaram sem atendimento. (…) A falha, em si, não foi pela estrutura nem pela falta de médico”.









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