Na emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, a escala de plantonistas divulgada pela direção não condiz com a realidade Foto: EXTRA / Guilherme Pinto/16.06.2017 |
Foram três domingos inteiros, 72 horas, sozinho no front de batalha de uma das maiores emergências do Estado do Rio, a do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Além dos cerca de 40 pacientes internados, o médico Fabio Koff ainda acompanhava os pacientes do CTI e da sala vermelha do setor e tentava atender quem chegava em estado grave. Na porta de entrada, uma escala feita pela direção da unidade dizia que ele estava acompanhado de outros três médicos. Um deles já não trabalha mais lá, outra dá plantão em outro dia, e o terceiro seria “rodízio” entre os plantonistas. Um detalhe: a direção não escalou o “rodízio” e, assim, ninguém aparece.
— É uma escala que não condiz com a realidade, cheia de erros. Muitos ali já estão exonerados. Isso expõe quem está lá trabalhando, porque o paciente que chega não sabe que o médico está sozinho atendendo todos os casos graves internados. No domingo retrasado, houve um caso de agressão e todos foram parar na delegacia — diz Koff, que enviou uma carta à Comissão de Ética do HFB e ao Conselho Regional de Medicina do Rio, relatando a situação.
A divulgação da escala de plantonistas em local visível e sua inclusão no Sistema de Registro Eletrônico de Frequência do Ministério da Saúde fazem parte de um acórdão realizado com o Tribunal de Contas da União. O órgão informou que , em caso de descumprimento à determinação, o responsável poderá ser multado em 5% a 50% do valor da multa estipulada no artigo 58 da Lei Orgânica do TCU (R$ 58.269,07).
— Por diversas vezes questionei a direção do hospital sobre a escala, a resposta foi um “sinto muito” ou o completo silêncio. Estão sendo omissos — desabafa o médico.
Em sua carta, o plantonista Fabio Koff, ao destacar a “imensa divergência quanto à quantidade e concentração de médicos supostamente alocados na unidade”, lembra que o resultado acaba levando à “desassistência e equipes desfalcadas”. O texto foi lido pelo secretário-geral do Cremerj, Gil Simões Batista, nesta terça-feira, na Comissão de Saúde Pública do conselho.
Diretora do hospital informa que quatro estavam de plantão. Mas só havia um
No último domingo, Gil Simões acompanhou uma vistoria feita por deputados à emergência do HFB.
— A diretora-geral do HFB informou que havia quatro médicos de plantão na emergência. Chegamos ao setor e só vimos um. Perguntamos a ele onde estavam os outros três colegas. Ele respondeu que estava sozinho.
A diretora-geral do HFB, Lucia Bensiman, que é também responsável pelo faturamento do Hospital Municipal Luiz Palmier, em São Gonçalo, onde, segundo a Secretaria de Saúde do município, “tem carga horária de 24 horas e trabalha aos sábados e um dia no meio da semana”, afirmou à comissão de deputados e ao Cremerj que daria falta ao médico exonerado, ao que trabalhou em outro dia da semana e ao que sequer fora escalado.
O Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde não respondeu sobre as escalas da emergência, mas informou que Lucia Bensiman foi nomeada diretora do HFB em dezembro de 2016, com função de Direção de Assessoramento Superior (DAS) 101.4 (dedicação integral e carga horária de 40 horas semanais). “O possível acúmulo de carga horária deverá ser averiguado”, conclui o ministério, em nota.
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