A família da bebê que no Hospital Júlio Alves de Lira/UPA 24h, em Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco, morreu ao nascer na madrugada da última quinta-feira (28), contou em entrevista que todos ainda estão muito abalados.
O pai da criança, o mecânico Marcos, que acompanhou todo o procedimento parece não acreditar no que aconteceu. "Não existe o que fizeram com minha filha, entendeu? Era minha primeira filha, hoje está no céu com Deus. Está tudo no quarto [o enxoval], tudo direitinho, e vai ficar, não vou dar fim a nada, porque é uma lembrança que vou ter dela para sempre, e eu quero que tenha justiça, que faça justiça, que a vida da minha filha não vai voltar mais não", lamentou.
A mãe da criança disse acreditar que a demora em realizar o parto normal pode ter sido uma das causas da morte da criança.
"A roupa que eu cheguei eu fiquei, ela [a enfermeira/parteira] não me ajudava, não mandou fazer força, nem nada, e me deixou sozinha lá. Quando começavam as dores, vinham forte demais, minha mãe ia atrás dela e ela estava dormindo. Eu acho que uma parteira ela tem que está ali, atenta ao lado da mulher e ajudando no que for necessário. E foi daí que a menina morreu, passou da hora e ela [a enfermeira/parteira] não fez nada" disse.
A mãe conta ainda que a equipe médica não prestou o suporte necessário. "Não pesaram minha filha, nem mediram ela, nada. E mandaram colocar ela na pedra assim, não deram atenção, não foram ver como estava, se eu já tinha sido medicada, nada fizeram, ficaram todos apenas desconfiados. Depois chegaram as duas parteiras na sala e disseram não saber como isso aconteceu comigo, porque tinha um menino lá que tinha passado pela mesma coisa 15 dias atrás e eles tinham conseguido salvar a vida do menino", relatou.
Outros casos
Em menos de um ano este seria o 5º caso de possível negligência médica no Hospital Júlio Alves de Lira/UPA 24h. O primeiro caso aconteceu em abril. Entre as vítimas estão também a sobrinha do atual Prefeito Hélio dos Terrenos (PTB).
O que diz a Secretaria de Saúde
Em nota, horas depois do caso, a Secretaria de Saúde de Belo Jardim confirmou e explicou o ocorrido. No texto, a pasta afirma que a paciente gestante teria recebido os devidos cuidados médicos, mas que a criança nasceu sem vida com "cianose central" (falta de oxigênio) devido "aspiração meconial" (aspiração de mecônio, matéria fecal produzida pelos intestinos antes do nascimento).
"A Secretaria de Saúde de Belo Jardim, vem a público informar que na noite do dia 28 de fevereiro, a senhora Jaine Leite da Silva, deu entrada no Hospital Júlio Alves de Lira para avaliação obstétrica, foi recebida e ficou em observação no aguardo da evolução do trabalho de parto, após a evolução a paciente foi encaminhada à sala de parto, evoluiu com o parto normal e expulsão do natimorto, apresentando cianose central. Imediatamente foi realizado aspiração das vias aéreas e todos os procedimentos necessários para reverter o quadro, sendo constatado aspiração meconial do natimorto intra-útero. Lamentamos profundamente a perda, pois o nosso maior objetivo é trabalhar para oferecer o melhor serviço à população, nossos profissionais se esforçaram, mas infelizmente o quadro era irreversível e nada poderia ser feito, além dos procedimentos que foram realizados", diz o texto da pasta.
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