sábado, 20 de abril de 2019

Justiça manda Estado operar paciente que quase ficou cega após Caravana

C.S.N operou de catarata em programa do Governo, mas teve hemorragia e deslocamento de retina


Uma paciente que foi atendida pela “Caravana da Transformação” – uma política pública implementada na gestão do ex-governador Pedro Taques (PSDB), e que oferecia procedimentos cirúrgicos nos olhos (oftalmológicos) à população -, apresentou hemorragia e deslocamento de retina após ser submetida a uma cirurgia de catarata.

C.S.N., a paciente que foi atendida na “Caravana da Transformação”, interpôs um processo no Poder Judiciário de Mato Grosso exigindo que o Governo do Estado “assegure a continuidade do tratamento necessário para preservar a saúde e a vida”. Em decisão do último dia 16 de abril, o juiz da 5ª Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá, Roberto Teixeira Seror, atendeu ao pedido da mulher, e mandou o Poder Executivo Estadual realizar um procedimento denominado como “Cirurgia Vítreo Retiniana” para resolver o problema de saúde.

“No presente caso, pelo relatório/atestado médico que instruiu a inicial, sendo o mesmo emitido pelo médico especialista em Oftalmologia não sobejam dúvidas quanto à enfermidade a qual acometera o Autor, tampouco da urgência da realização do tratamento [...] De modo que não pode o Poder Judiciário se aventurar a escolher qual o melhor tratamento para um doente, interferindo em um diagnóstico que é essencialmente técnico”, assegurou o juiz.

De acordo com informações do processo, C.S.N. começou a apresentar “dores, inchaço e perda da visão” no olho operado. Ela voltou a se consultar com o médico que a atendeu na “Caravana da Transformação”, duas vezes, sendo que na última oportunidade o profissional de saúde mandou retirar a lente de seu olho direito para inserir uma nova após “quase dois meses”.

No primeiro atendimento, o médico disse a ela que as dores que sentia, e o inchaço que apresentava, eram “normais”. “Aduz, em síntese, que se submeteu a cirurgia de catarata no olho direito na Caravana da Transformação, a qual foi realizada pelo Requerido, sendo que, no dia seguinte após a realização do procedimento cirúrgico, começou a sentir dores, inchaço e perda da visão no olho operado, tendo o médico que a atendera informado que “seriam dores normais pós-cirurgia”, diz trecho do processo.

Mesmo com a implantação de uma nova lente, C.S.N continuou sentindo dores, o que fez com que ela procurasse um outro médico, que diagnosticou a ocorrência de “deslocamento de parte da retina, com dobras da retina interna e hemorragia vítrea”. Além do procedimento cirúrgico para reparar o dano, o juiz Roberto Teixeira Seror também determinou que o Governo do Estado ofereça tratamento pós-operatório à paciente.

“Julgo procedente o pedido vindicado, para, ratificando a tutela específica deferida alhures, condenar o Requerido ao cumprimento de sua obrigação político-constitucional de viabilizar imediatamente a realização do procedimento cirúrgico denominado ‘Cirurgia Vítreo Retiniana’, bem como que assegure a continuidade do tratamento necessário para preservar a saúde e a vida da Autora, conforme prescrição de médico especialista”, determinou o magistrado.

CARAVANA DA TRANSFORMAÇÃO

A Caravana da Transformação foi uma das políticas públicas transformadas em “vitrine” pela gestão do ex-governador Pedro Taques, e oferecia a população procedimentos cirúrgicos oftalmológicos gratuitos.

No entanto, ela também se transformou em alvo do Ministério Público do Estado (MP-MT), além da Justiça, que autorizou a deflagração da operação “Catarata”, que investiga irregularidades na Caravana da Transformação. Sua primeira fase foi executada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) no dia 3 de setembro de 2018.

A denúncia do Gaeco, órgão coordenado MP-MT, revela que o Poder Executivo de Mato Grosso mantinha um controle "frágil" dos atendimentos e procedimentos cirúrgicos realizados pela 20/20 Serviços Médicos – empresa que prestava os serviços de saúde na Caravana -, e que tais números sobre procedimentos estariam sob poder da organização.

“Assevera que por meio de informações encaminhadas ao Ministério Público pela Comissão Executiva do Fórum Permanente de Saúde constatou-se que ambos os contratos tiveram um controle e fiscalização bastante frágeis, vendo indícios sérios da ocorrência de fraude na execução do contrato e pagamento por serviços que não foram prestados pela contratada”, diz trecho da denúncia.

De acordo ainda com a denúncia a empresa teria recebido dos cofres públicos estaduais R$ 41.073.335,98 por dois contratos. A representação do MP-MT também se baseia num relatório em que aponta que o Governo do Estado exercia um controle “irresponsável” dos serviços oferecidos na Caravana da Transformação.

“Entendemos que o serviço de atesto foi realizado de forma irresponsável, porque a contagem, por exemplo, é feita exclusivamente em sistemas da própria empresa favorecida, e sequer há uma simples crítica do sistema Datasus para confirmação da veracidade da quantidade declarada”.

Na mesma decisão que autorizou a deflagração da operação Catarata, a juíza da Vara de Ação Civil Pública e Ação Popular, Celia Regina Vidotti, determinou a suspensão e a execução do contrato entre o Governo do Estado e a 20/20 Serviços Médicos, além do bloqueio de bens da ordem de R$ 6.130.470,11 contra a organização e o ex-Secretário de Estado de Saúde (SES-MT), Luiz Soares.

A empresa por trás da Caravana da Transformação - Instituto de Olhos Fábio Vieira SS EPP, razão social da 20/20 Serviços Médicos - é uma velha conhecida dos órgãos de controle, sendo investigada em pelo menos outros 6 Estados Brasileiros além de Mato Grosso.









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