domingo, 28 de abril de 2019

Mãe de adolescente morta após infecção em SP acusa hospital de negligência

Yasmin Ferreira Lira, de 17 anos, morreu após ficar cinco dias internada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. Demora na entrega de exames pode ter dificultado diagnóstico.

Yasmin Ferreira Lira, de 17 anos, morreu após dar entrada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, SP — Foto: Arquivo Pessoal
Uma adolescente morreu cinco dias após dar entrada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, com quadro de dores abdominais. Segundo a mãe de Yasmin Ferreira Lira Silva, de 17 anos, houve negligência na demora da emissão do resultado de exames que constatariam a infecção que causou a morte da filha.
A unidade médica nega a acusação. 
Yasmin deu entrada na unidade na manhã de 1º de abril, com quadro de dor abdominal. Ao G1, Adriana Lira, mãe da adolescente, afirmou que ela era portadora da doença de Chron e fazia acompanhamento médico em São Paulo. Inicialmente, ambas acharam que os sintomas seriam devido à doença. 


"Demos entrada no hospital às 7h, pela emergência. Ela reclamava que aquilo queimava por dentro. Primeiro, ela foi avaliada por uma médica e medicada. Solicitaram exames para que depois ela pudesse ser encaminhada para a avaliação do cirurgião". 


Por volta das 11h, Adriana diz ter se preocupado com a demora dos resultados. "Foi quando uma funcionária que procurei revelou que os resultados de nenhum paciente havia saído pois, naquele dia, o hospital estava fazendo uma troca de laboratório. O exame só chegaria no dia seguinte". 
Familiares acusam Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, SP, de negligência na entrega de exames — Foto: Itaicy Julio/Arquivo Pessoal
Os exames só vieram na quarta-feira (3), dois dias após ela dar entrada no hospital e ser avaliada pelo cirurgião, que nada pôde fazer sem os exames. "Foi aí que a internaram de fato. Desconfiaram do apêndice, de pedra na vesícula, mas nada apareceu no raio-x e tomografia de contraste".  

Ao longo do tempo, o quadro de Yasmin piorou, com febre, vômito e arritmia cardíaca. “Na sexta-feira (5), uma cirurgiã veio avaliar a minha filha. Ela mexeu na bolsa de colostomia e viu o pus e o odor da infecção. Uma equipe foi em cima da Yasmin e a médica explicou que aguardava uma vaga na UTI para transferi-la". 


Yasmin foi diagnosticada com quadro grave de sepse e, segundo a mãe, tinha 50% de expectativa de vida. "A avaliação foi às 11h30. Só conseguiram a vaga às 18h. Às 21h ela entrou no centro cirúrgico", contou. A menina teve o abdômen limpo e passou por uma troca da bolsa de colostomia. 

"Deixaram o intestino de minha filha para fora, pois estava inchado, e não conseguiam colocar de volta", explicou. Adriana viu a filha com vida pela última vez logo após o procedimento. "Ela estava muito inchada, mas queria vê-la. Como não deixam dormir com quem está na UTI, fui para casa", lembra.  
Yasmin Ferreira Lira, de 17 anos, ao lado da mãe; adolescente morreu após ficar internada em Praia Grande, SP — Foto: Arquivo Pessoal
Por volta das 12h de sábado (6), a médica que acompanhava Yasmin soube que o estado de saúde dela era estável e avisou à família. "Aquilo nos deu esperança. Saí mais cedo de casa, mas quando cheguei ao hospital, disseram que me esperavam na UTI. Quando subi, pediram para aguardar e, quando a médica veio, ela nem precisou dizer nada". 

Yasmin morreu por volta das 14h40, após o coração não resistir à infecção generalizada. No atestado de óbito, a causa da morte é choque séptico e abdômen agudo perfurado. Para Adriana, o desfecho da filha só ocorreu devido à negligência da equipe médica do hospital. 


"O cirurgião nada podia fazer sem o resultado do exame, que indicaria a sepse. Eles erraram". Agora, ela diz querer justiça. "Ela lutou pela vida dela. Quero justiça por ela e pelas outras pessoas que vi largadas. Espero que os laudos que pedi não tenham nenhuma omissão, sei de tudo, eu estava lá. Vou até o fim”, desabafou. 
Yasmin Ferreira Lira, de 17 anos, morreu após dar entrada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, SP — Foto: Arquivo Pessoal

Em nota, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) informou ao G1 que Yasmin foi avaliada devido ao histórico da doença de Crohn e por ter bolsa de colostomia desde 2009, tendo tratamento clínico iniciado logo em seguida. 


No quinto dia de internação, ela foi submetida à cirurgia após piora no quadro clínico, onde foi observada perfuração intestinal e infecção, decorrentes da Doença de Crohn. A associação ressalta que não é verdade que ela não foi operada devido à falta de exames laboratoriais, e que Yasmin foi submetida a todos os exames e cuidados necessários durante a internação. 

G1 

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