sexta-feira, 19 de junho de 2020

Em vídeo, enfermeira chora e denuncia descaso com saúde pública em MT

A técnica de enfermagem Marileide Santana Rodrigues gravou um longo desabafo nesta segunda-feira (15), em que denuncia a precariedade e o descaso do governo com os profissionais da saúde do Hospital Regional de Rondonópolis. Ainda no vídeo, ela pede para que a população obedeça o isolamento social, já que não há mais leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

No vídeo, com mais de 7 minutos, a servidora começa enfatizando a importância de a população permanecer em casa. Rondonópolis registrou no último domingo (14) 495 casos confirmados de coronavírus, além de 12 mortos pela doença.

“Talvez vocês não tenham entendido a frase 'fique em casa'. O hospital nesse momento está lotado, sem funcionário pra trabalhar. Hoje trabalhamos com 3 técnicos de enfermagem, um enfermeiro, que nos dá suporte, e mais dois médicos. Estamos sem estrutura física e psicológica para aguentar essa pandemia”, relata.

A equipe da unidade médica está reduzida, porque muitos colegas estão com suspeita de covid-19 ou são do grupo de risco. De acordo com Marileide, ouvida pelo , quatro profissionais estão afastados. O Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Mato Grosso (Sinpen-MT) protocolou denúncia ao Ministério Público nesta manhã.

Ao detalhar a situação de negligência do poder público para com a categoria, a enfermeira não consegue segurar as lágrimas. Exausta por trabalhar em um plantão de 12 horas, a equipe busca sempre priorizar os pacientes. “Com mais de 20 pacientes, posso falar pra você com autonomia, de quem tem amor à vida: estou exausta, sim! Mas o meu dever foi cumprido, com amor ao próximo”.

Diante de tanto trabalho, a técnica de enfermagem aponta ainda o baixo salário da categoria.

“Ninguém nesse momento quer trabalhar por um salário miserável. Vale ressaltar que nós não estamos pedindo aumento, queremos um salário justo, para nossas 30 horas, que está no congresso há quanto tempo engavetado. Não queremos palmas da população, queremos a nossa gratificação, nosso que é de direito”, defende.

Os pacientes não deixam de observar a exaustão dos enfermeiros e médicos. Ela conta o episódio de quando uma senhora, internada há mais de uma semana após um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI), disse que não sabe como eles aguentam tamanho esforço para trabalhar.

“Eu juro que quase não aguentei de ver aquela senhora falando, a dor física, e o cansaço físico e mental, que atormentam o nosso momento”, disse Marileide, emocionada.

Por fim, ela expõe e faz um apelo ao poder público. Os materiais fornecidos, de acordo com Marileide, são de baixa qualidade. Além disso, por estarem na linha de frente no combate ao coronavírus, os profissionais da saúde deveriam ser mais respeitados.

“Vê se aguenta ficar 6 horas sem ir ao banheiro, sem tomar água, meus colegas não tem comida pra comer. O que é isso? Não tem lanche da tarde, o hospital regional não oferece lanche, miseravelmente um pão não temos pra comer”, disse, citando o governador Mauro Mendes (DEM).

Nesta segunda-feira, a Secretaria de Saúde de Rondonópolis divulgou que o Hospital Regional não tem mais leitos. Os leitos públicos, contabilizados pela prefeitura, ficam no hospital e também na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rondonópolis. Neste momento a cidade tem cinco leitos disponíveis no setor público, que estão na UPA.

“Quando fala fica em casa, é pra ficar em casa, projeta os seus. Às vezes você não acredita que o vírus é real, mas ele é real meu querido, eu garanto pra você”, faz um apelo.
Veja o vídeo


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