sexta-feira, 12 de junho de 2020

Família denuncia troca de corpo de idosa vítima da Covid-19 em Fortaleza

O corpo da idosa foi para o município de Santa Quitéria, a 222 km da capital cearense.


Familiares da idosa se reuniram em frente ao hospital pedindo explicação da
unidade sobre a troca do corpo

Familiares de uma idosa de 71 anos, que faleceu vítima da Covid-19 na manhã deste sábado (6), no Hospital Fernandes Távora, em Fortaleza, denunciam que a vítima foi confundida na unidade hospitalar no momento da liberação do corpo, que foi levado por outra família para o município de Santa Quitéria, a 222 km de Fortaleza. Segundo os parentes, Maria Mirian Farias começou a sentir sintomas respiratórios em meados de maio e, após ser atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), conseguiu uma vaga de UTI no hospital, onde passou nove dias internada.

Ceará tem 63.957 casos de Covid-19 e 3.981 mortes, conforme a atualização das 14h29 da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do estado (Sesa).

G1 procurou o Hospital Fernandes Távora, mas não obteve resposta da unidade até a última atualização desta matéria. A outra família, que reconheceu o corpo de Maria Mirian como sendo de sua parente, não quis se manifestar.

O corpo da idosa teria sido trocado com o de uma outra paciente no momento da liberação para sepultamento. O filho de Mirian, o educador social Emerson Farias, se deparou com o corpo de uma outra idosa que, segundo ele, possui “traços semelhantes” aos da mãe.

“O hospital disse que a família [da outra idosa envolvida] veio e reconheceu o corpo”, denuncia Ermeson Farias. De acordo com ele, o corpo da mãe está em Santa Quitéria e deve ser trazido ainda hoje.

Familiares da outra idosa envolvida foram acionados e estiveram no hospital na manhã deste domingo (8). Eles reconheceram que a pessoa confundida com dona Mirian, ainda no hospital, é a parente.

A informação foi repassada por Isabelle Farias, neta de Mirian. “Eles disseram que o rapaz que veio reconhecer o corpo estava alcoolizado e não sabe ler. Ainda assim, a gente responsabiliza o hospital porque não tinha nenhum profissional especializado com esta pessoa. Nos disseram que havia apenas um segurança e não é responsabilidade dele fazer isso”.

Sepultamento


Ermeson, filho de Mirian, chegou a ir à unidade no sábado (6), porém, só veio ver o corpo da mãe hoje. “O cemitério fica em Caucaia (na Grande Fortaleza). Por conta do horário, achamos melhor e mais prudente fazer o sepultamento hoje, às 9h30. Marcamos com a funerária 8h, chegamos aqui 7h40 e simplesmente o corpo da minha mãe havia sumido”, lamenta.

Conforme ele, na declaração de óbito da mãe constam choque séptico, pneumonia e Covid-19. Mirian também teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que complicou seu quadro de saúde. “Desde o começo quis fazer o reconhecimento do corpo. A equipe médica disse que havia o risco de contaminação e que eu teria que me responsabilizar caso fosse infectado, afirmando que não precisava vir. Ainda assim, fiz".

Negligência


Daysiane Correia, outra neta de Mirian, explica que o tio precisou se deslocar até Santa Quitéria para reconhecimento do corpo, que deverá ser exumado. Porém, a família relata falha de comunicação com a direção do hospital. “Somos mais uma família a passar por isso”, lamenta.

Na manhã de hoje (7), ela e outros familiares se concentraram na entrada do Hospital para cobrar maiores explicações. “A gente esperava que isso nunca fosse acontecer. Minha mãe passou 22 dias afastada da gente (contando tempo de internação na UPA e na UTI), sem a gente poder ver. Infelizmente veio a falecer e agora acontece isso”, conta o filho, Farias. Segundo ele, o sepultamento irá ser feito ainda hoje.

Hospital


O Hospital Fernandes Távora funciona prestando serviços de clínica médica, cirúrgica e obstétrica. Durante a pandemia de Covid-19, também tem usado parte dos seus leitos para atender pacientes infectados pelo coronavírus e recebeu ampliação do estado. No último dia 1º, o prefeito Roberto Cláudio explicou, em transmissão ao vivo nas redes sociais, a parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e o Fernandes Távora.

“Está disponibilizando 8 leitos de UTI e 40 de enfermaria para ampliar a nossa capacidade de internação hospitalar para o tratamento da Covid”, disse o prefeito, na ocasião.

Tentamos contato com a Secretaria da Saúde de Fortaleza, que nos pediu para redirecionar a demanda à Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará. Este órgão, por sua vez, informou que embora a unidade conte com leitos tanto do Município como do Estado, os assuntos pertinentes ao funcionamento do Hospital são de responsabilidade da gestão da unidade.

Também tentamos contato com a direção do Hospital Fernandes Távora para saber sua versão sobre o ocorrido, assim como quais os procedimentos legais a partir deste momento para a devida recuperação do corpo. Até o fechamento não obtivemos retorno.


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