sexta-feira, 26 de junho de 2020

Família de idosa denuncia maus tratos no Hospital Municipal de Mogi


A mulher de 77 anos ficou internada em decorrência da Covid-19 e saiu do hospital com úlceras de pressão no corpo

Azimira Costa do Prado, 77 anos, apresentou os primeiros sintomas da Covid-19 no dia 8 de junho. No dia 11, foi internada no Hospital Municipal de Mogi das Cruzes para tratar a doença. A idosa venceu o coronavírus, mas após ter alta a família notou várias fissuras com aparência de queimaduras pelo seu corpo.
No dia 8, Azimira foi levada à UPA do Oropó com perda de apetite, vômito e fraqueza, passou por exames, foi medicada, mas aparentemente não havia nada grave e foi mandada para casa.

“O médico falou que poderia ser um agravamento do quadro de demência, que era pra gente tentar fazer ela se alimentar e ir a um especialista”, explicou Celso Aparecido Prado, filho da idosa.

A consulta com o neurologista foi no dia 9. Na ocasião a idosa recebeu atendimento e o médico receitou um antidepressivo, pois ela demostrava uma tristeza profunda. O médico reforçou que Azimira precisava se alimentar.
No dia seguinte, os sintomas persistiram, e então ela foi levada novamente à uma unidade de saúde, onde foi diagnosticada com pneumonia. Em decorrência do vômito constante, a família não conseguia nem dar os remédios necessários.
Azimira foi novamente levada, no dia 11, até a UPA do Oropó, onde a médica suspeitou de Covid-19 e encaminhou para o Hospital Municipal. Já no hospital ela testou positivo para o coronavírus e foi internada.

A internação

Durante os 12 dias em que ficou internada, em decorrência do risco de contágio da Covid-19, a família não pode visitá-la. No entanto, os filhos contam que recebiam diariamente notícias da mãe.

“Nos primeiros dias falaram que ela estava melhorando, depois disseram que estava muito agitada, não queria comer e chamava pelos filhos, pedi uma vídeochamada com ela, eles deixaram. Ela conversou comigo normal, não parecia agitada como eles relataram, na verdade ela é bem tranquila. Depois a médica falou que ela estava tirando os acessos e tiveram que amarrar e sedar”, relatou Celso.

Na última segunda-feira (22), Azimira recebeu alta, um alívio para a família: a idosa havia vencido o coronavírus. Mas, ao chegar em casa , a filha constatou que a mãe tinha uma queimadura enorme, a partir do quadril até as pernas.

“No hospital a gente começou a notar o descaso, minha mãe saiu com as pulseirinhas e o acesso, a enfermeira tirou o acesso na recepção, depois que nós pedimos”, afirmou a família.

Horrorizados com os machucados, pediram ajuda a profissionais da saúde amigos da família, que afirmaram se tratar de um caso de úlcera de pressão grau três, com necrose.
A úlcera de pressão se dá quando o paciente fica por muito tempo deitado ou amarrado, com peso sobre a área afetada. E pode se agravar em decorrência da umidade e fricção.
Um dia após a alta, um dos filhos de Azimira foi ao hospital, levando a foto da mãe, e mostrou os ferimentos, pedindo para falar com o diretor da unidade. O mesmo não atendeu, em seguida um enfermeiro anotou em um papel o nome de duas pomadas para o tratamento do problema.
Quando a idosa saiu do hospital, a família não foi informada da úlcera. Hoje (24), eles retornaram ao Hospital Municipal. Segundo a família, o médico responsável atendeu ela, encaminhou para um especialista de pele e pediu desculpas pelo erro da unidade em não informar o estado da paciente no momento da alta.
A família está cuidando de Azimira em casa e buscando atendimento médico especializado.

“Minha mãe venceu a Covid-19, agora corre risco de morrer por falta de cuidado e higiene no hospital”, finalizou Celso.

O que dizem os envolvidos

O Hospital Municipal é gerido pela OS (Organização de Saúde) Fundação do ABC. A GAZETA questionou a prefeitura sobre a fiscalização dos serviços da Fundação e também sobre o caso.
A prefeitura respondeu em nota: “A Secretaria Municipal de Saúde, que preza pela qualidade contínua dos serviços prestados, está solicitando à organização social responsável pelo gerenciamento da unidade que apure o ocorrido.”
Já a Fundação do ABC afirma que não houve maus tratos, nem negligência, e que lamenta a denúncia da família.

“Em função do longo período de sedação e da consequente restrição de movimentos, a paciente desenvolveu uma úlcera por pressão. A família foi orientada pela equipe médica e foi realizado encaminhamento para seguimento do tratamento na rede básica de saúde do Município, onde é feito o acompanhamento dos casos de úlcera por pressão. Dessa forma, não procedem as informações de maus-tratos. A Fundação do ABC lamenta que após todo o esforça para salvar a vida da paciente, as equipes assistenciais tenham que tomar conhecimento desse tipo de denúncia sem nenhum fundamento e que desmerece o trabalho dos profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19.”



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