domingo, 25 de novembro de 2018

22 anos depois – Bullamah volta ao banco dos réus



Vanderson Bullamah voltará ao banco dos réus nesta quarta-feira, 21 de novembro. O ex-gi­necologista que se aventurou no mundo da cirurgia plástica vai a júri popular pela morte da auxi­liar de limpeza do Sistema Bra­sileiro de Televisão (SBT), Maria Inês Coelho Guerino, em 12 de setembro de 1996. Ela tinha 39 anos à época e submeteu-se a uma lipoescultura – “escultura do corpo por meio de lipoaspiração”, como dizia o material publicitário distribuído pelo ex-médico em cruzamentos de Ribeirão Preto. A faxineira deixou quatro filhos.

O julgamento no Fórum Es­tadual de Justiça deve começar às 9h30 e pode se estender até por dois dias. Em 2016, o ex-ginecolo­gista teve seu registro profissional de médico cassado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM); em 2004, foi preso para cumprir dez anos pela morte de outra pacien­te, a estudante universitária Hellen Buratti, aos 18 anos, em 5 de julho de 2002. A pena, anunciada em 11 de dezembro de 2009, inicialmen­te era de 18 anos e foi reduzida para dez anos após a defesa recor­rer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Depois de conseguir redu­ção de sete meses e 24 dias da pena por trabalhar e estudar dentro da cadeia, em setembro deste ano ele obteve da Justiça o direito a cumprir os seis anos e dez meses remanescentes em prisão domiciliar. Em julgamen­to de habeas corpus na semana passada, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mante­ve decisão da Corte de São Paulo que condenou o ex- ginecologis­ta pela morte da paciente.

Helen Buratti, sobrinha de Ro­gério Tadeu Buratti, ex-secretário de Governo de Antonio Palocci na primeira gestão petista à frente da prefeitura (1993-1996), passou por cirurgia de lipoaspiração ab­dominal e acabou falecendo por complicações decorrentes do pro­cedimento, quadro parecido ao de outras duas mulheres que morre­ram nestas condições. Em 2002, Bullamah ficou 15 dias preso no anexo do 1º Distrito de Polícia, na rua Duque de Caxias, mas saiu graças a um habeas corpus.

No STJ, a defesa pediu a anu­lação do acórdão ou, alternativa­mente, a redução da pena sob o argumento de ausência de funda­mentação idônea para fixação da pena-base acima do mínimo legal de quatro anos. O relator, ministro Ribeiro Dantas, não reconheceu nenhuma irregularidade na deci­são paulista a ser sanada pelo STJ. Segundo ele, na ação de habeas corpus, a revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias somen­te é admitida em situações excep­cionais, quando constatado abuso ou ilegalidade, o que, para ele, não foi verificado no caso.

Bullamah também chegou a responder pela morte da bancária aposentada Vera Lúcia Carnaval Caressato, então com 49 anos. Ela morreu em 1º de fevereiro de 1996, mas o caso foi arquivado. A ex-funcionária da extinta Nossa Caixa (estadual) morava em Ser­rana. Ainda tramitam contra o ex-ginecologista outros dois pro­cessos de pacientes que o acusam de ter cometido erros médicos nas cirurgias plásticas e ficaram par­cialmente mutiladas. Em todos os casos ele foi acusado de imperícia, imprudência e negligência médica porque em sua clínica – interdita­da após a morte de Helen Buratti – não tinha centro cirúrgico e UTI.

Por causa das denúncias fei­tas pelo Tribuna desde a primeira morte, de Vera Lúcia, em fevereiro de 1996, o ex-médico processou o jornal, mas o caso foi arquivado pela Justiça Criminal de Ribeirão Preto. Bullamah recorreu, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou o arquivamento. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica condenou a prática do ginecologista desde a morte da bancária aposentada. Segundo a SBCP, a cirurgia plástica é uma das especialidades que exigem mais tempo de residência médica.

A filha da vítima, Daiana Cris­tina Guerino, disse à EPTV Ri­beirão que ainda espera por uma resposta. “Eu tinha 10 anos e era só uma criança quando tudo isso aconteceu. Fico muito triste com a Justiça, que até hoje não fez nada”. A esperança da família de Maria Inês Coelho Guerino, agora, é que Bullamah seja preso. “Espero que pague por todos os erros dele, por­que não foi só a minha mãe que ele matou. Foram várias moças, além das que ele deixou deformada”, disse Daiana Guerino à emissora de televisão. A defesa de Bullamah não foi encontrada.


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