sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Família acusa médica de 'assistir' mãe e bebê morrerem em SP: 'Dois caixões'

Secretaria de Saúde de Santos, no litoral paulista, ordenou que administrador do Hospital dos Estivadores faça apuração 'contundente'. Caso é investigado também pela Polícia Civil
 
Ricardo e a mulher, Marilu, que morreu no Hospital dos Estivadores, em Santos, SP — Foto: Arquivo Pessoal
 
A família da comerciante Marilu Aparecida de Moraes, de 45 anos, acusa de negligência uma médica do Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos, no litoral de São Paulo, por tê-la 'assistido' morrer, em meio a uma hemorragia, durante um parto. O bebê também não resistiu. A prefeitura pediu explicações ao administrador da unidade, e a Polícia Civil também investiga o caso.
 
A mulher foi levada pelo marido, o também comerciante Ricardo Robson Hilsdorf, de 47 anos, na madrugada de 9 de outubro, à unidade municipal que é administrada pelo Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Prestes a completar nove meses de gestação, ela relatou que estava com contrações e que sentia fortes dores.
 
"Eu disse à enfermeira que nos recebeu que minha mulher tinha histórico delicado, e que teve descolamento de placenta no parto do nosso último filho. Ela não tinha condições de ter um parto normal, pela idade e pela situação, mas a médica que nos atendeu mandou que ela esperasse em uma maca", lembra Ricardo.
 
A hemorragia, conta o comerciante, começou depois que ela foi 'brutalmente' tocada pela médica plantonista. "Eu fiquei impressionado com toda a situação. Estava na sala e vi a 'evolução' da hemorragia. Começou pequena, aumentou e depois minha mulher começou a jorrar sangue, e o lençol ficou encharcado".
 
Assustado com a cena, ele procurou a médica e pediu que ela examinasse novamente Marilu. "Foram três vezes que a chamei, todas com um intervalo de tempo. Em todas, a doutora se recusou a ir lá vê-la, e insistiu em dizer que a situação era normal. Na última, ela ainda gritou comigo, e uma enfermeira veio ajudar".
 
"Minha mulher só foi, de fato, acudida quando houve a troca de plantão, depois de mais de uma hora. A médica que entrou me olhou impressionada, e me disse que as dores e o sangramento 'não eram normais', que a situação era grave. Marilu foi levada para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva], mas não tinha mais tempo".
 
O bebê, que se chamaria Léo, morreu logo após o nascimento, que ocorreria naquela manhã, ainda na UTI. A comerciante resistiu por mais algumas horas, em estado crítico e com hemorragia interna sem controle, segundo o que o marido apurou. "Eu a levei viva, andando, e saí de lá com dois caixões. Eu não acreditei".
 
Para o advogado que representa a família, Nilton Pires, há indícios de erro médico. "A plantonista, com pressa para ir embora ou por qualquer outro motivo não claro, errou o diagnóstico e não prestou o atendimento necessário. Enquanto ela ignorou a situação, a colega dela, que a rendeu, se assustou com a gravidade".
 
Pires ainda rechaça o documento do hospital onde consta que o bebê nasceu morto. "Para registro, eles disseram que o Léo era natimorto. Foi uma mentira, constatada pelo Serviço de Verificação de Óbito [SVO], que constatou que ele morreu por asfixia. Os erros são sucessivos", afirma o advogado da família.
 
A Secretaria Municipal de Saúde de Santos, por meio de nota, informou que estava ciente da situação, e que cobrou explicações à empresa. A administração ainda afirmou que "exigiu do Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz a apuração contundente do caso e de eventuais responsabilidades".
 
O Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz se recusou a informar ao G1 detalhes sobre eventual apuração do caso, ao alegar "sigilo médico". A organização também não informou se a médica foi afastada do plantão, mas afirmou que segue "as melhores práticas na assistência ao parto" no Hospital dos Estivadores.
 
"A médica, que deveria cumprir o juramento, mesmo ao fim de um plantão, assistiu, ficou vendo a minha mulher morrer. Se ela tivesse agido, e não ignorado, eu estaria aqui com o meu filho e minha mulher. Eu decidi procurar a imprensa para alertar: para que nenhuma mãe, marido ou filho passe pelo o que eu passei", desabafou Ricardo.
 

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