quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Médico que atendeu Victória na UPA Embu é acusado de integrar ‘esquema’ na Saúde

Victória, 13, que morreu após medicada na UPA; médico Waldo, que atendeu a jovem, e adjunta Serrano (dir.)

O médico que atendeu a adolescente Victória Kamily Santos Vieira Souza é acusado de envolvimento em um esquema de corrupção na Secretaria de Saúde de Embu das Artes que seria encabeçado pela secretária-adjunta da pasta, Maria Serrano. Em caso que gerou revolta entre moradores, Victória morreu no último dia 10, aos 13 anos, depois de passar em consulta na UPA Santo Eduardo, com bronquite comum, com o boliviano Waldo Adriel Muriel Claire, por duas vezes.
 
Victória foi levada à UPA na noite de sexta (9) e recebeu medicação na veia. No sábado, ainda com falta de ar, ela voltou à UPA, com coração acelerado. “Ela passou com o mesmo médico, que estava lá no sábado ainda, um boliviano”, conta Fábio Santos, tio da jovem. Medicada de novo, ela passou mal e precisou ser transferida ao Hospital Pirajussara. “Ela está estável, já está estabilizando”, disse o médico. Ele alegou que o HGP “tinha mais recurso de [exame de] imagens”.
 
“Porém, quando foi pôr ela na ambulância, estava entubada. Peguei na mãozinha dela: gelada! Eu chamei o médico: ‘Dr., por que ela está gelada?’ Ele falou: ‘Não, não, é efeito da medicação’”, conta Fábio. Ao dar entrada no HGP, Victória deu “dois suspiros ofegantes, já desmaiada”. Com a jovem na sala de choque, o médico da UPA saiu. “‘Ele disse: ‘Tá’ estável, já está voltando a respiração, pode ficar tranquilo’. Entrou na ambulância e simplesmente foi embora”, relata.
 
Menos de meia hora depois, o médico do HGP foi até a família. “Ele falou: ‘O estado da Victória é gravíssimo, o médico deixou ela aqui, não tem raio-X, não tem nada. […] Tive que entubá-la novamente’. Entramos em desespero, o médico da UPA falou que ela estava estável. Só que já tinha ido embora, é lógico”, relata Fábio. Vinte minutos depois, o médico do Hospital Pirajussara comunicou que Victória teve uma parada cardíaca na UPA e outra no HGP e não resistiu.
 
O tio teve outra surpresa ao olhar o CRM usado pelo médico que atendeu Victória. “Vi a foto [no órgão médico]. Não era o médico que atendeu ela sexta e sábado, na receita o registro não é dele. Isso já é crime!”, denuncia. “Eles jogaram a ‘bomba’, desovaram o corpo quase, no Pirajussara, só que o erro está aqui [UPA]. Ela não estava morrendo, só estava cansadinha, com falta de ar. Deram medicação na sexta e de novo no sábado, acelerou o coração dela”, relata Fábio.
 
O VERBO confirmou com o tio de Victória que quem atendeu a adolescente foi o médico Waldo, tanto na sexta quanto no sábado, inclusive acompanhou a transferência da menina até o HGP. Ele é um dos cerca de 15 médicos – a maioria estrangeiros – que teriam sido trazidos para Embu por Serrano e estariam envolvidos em fraude. Em troca de clinicar na rede municipal, os médicos pagariam ao menos R$ 1 mil por mês a Serrano, além de entregar cesta básica a ela.
 
Serrano ainda alteraria as folhas de ponto dos “seletos” médicos para constar que trabalhavam 200 horas semanais, quando faziam plantão de apenas 40. Os valores da diferença seriam repassados a Serrano. Não somente à adjunta. Vanessa Silva, secretária do prefeito Ney Santos (PRB), e Thamires de Souza May, secretária de José Alberto Tarifa, secretário de Saúde, integrariam o esquema e receberiam o dinheiro. A denúncia foi publicada pelo site “O Furão”.
 
OUTRO LADO

 O VERBO não conseguiu localizar Waldo. Em agosto, intimada, Maria Serrano compareceu à Delegacia de Embu “para prestar esclarecimentos após denúncia encaminhada pelo Ministério Público sobre supostas irregularidades ocorridas na Secretaria de Saúde”, informou a Secretaria Estadual de Segurança à reportagem. Já na época, procurada, Serrano não se manifestou sobre as graves acusações. Thamires também não respondeu. Vanessa também não foi encontrada.
 

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