domingo, 18 de novembro de 2018

Victória, 13, morre após medicada pela segunda vez na UPA Santo Eduardo em Embu

Victória, que com bronquite foi à UPA S. Eduardo e precisou ser transferida ‘desfalecida’ ao HGP, onde morreu

Em mais uma situação de caos na saúde de Embu das Artes, uma adolescente de 13 anos com problema respiratório comum morreu após ser medicada ao ser atendida pela segunda vez na UPA Santo Eduardo, no sábado (10). Victória Kamily Santos Vieira Souza, com bronquite, saiu desfalecida do pronto-atendimento e chegou em estado “gravíssimo” ao Hospital Pirajussara, onde veio a óbito. Em outro “absurdo”, o registro na receita não era do médico que a atendeu.

UPA Santo Eduardo, onde a mãe procurou atendimento para Victória, que morreu às vésperas de fazer 14 anos
Com um pouco de falta de ar, Victória foi levada pela mãe à UPA na noite de sexta-feira (9), por volta de 22h. Ela teve receitado medicamento e voltou para casa à meia-noite. No sábado de manhã, ainda com dificuldade de respirar, ela voltou à UPA. Ao passar na triagem, ela estava com coração acelerado e recebeu dois comprimidos. “Depois, ela passou com o mesmo médico de sexta-feira, que estava lá no sábado ainda, um boliviano”, conta Fábio Santos, tio de Victória.
Por volta de 9h, a assistente social da UPA ligou para Fábio ir rápido para a unidade – ele soube que o mesmo médico atendera Victória pela irmã. Ao chegar à UPA, o tio não pôde ver a menina, que já estava na emergência, e ia ser levada ao HGP. O médico, porém, disse a Fábio: “Ela está estável, já está estabilizando”. O tio perguntou então por que Victória precisava ser transferida. “Ele me respondeu que era para fazer exames, que lá tinha mais recurso de imagens”, relata.
Após cerca de uma hora e meia, uma viatura do Samu chegou, mas para um homem que caiu de um andaime. Depois estacionou a ambulância para Victória, “não era UTI”, diz Fábio. A família ficou calma, viu que o caso do acidentado era muito mais grave. “Porém, quando abriu as portas para pôr ela na ambulância, estava entubada. Peguei na mãozinha dela: gelada! Eu chamei o médico: ‘Dr., por que ela está gelada?’ Ele falou: ‘Não, não, é efeito da medicação'”, conta.
O tio foi no próprio carro para o HGP, viu a ambulância passar na frente, mas chegou junto com a viatura. “Não entendi a demora”, conta. Na entrada de Victória na emergência, ele viu cena dramática. “Ela deu dois suspiros ofegantes, já desmaiada, não estava respirando”, diz. Com Victória na sala de choque, Fábio viu o médico da UPA sair. “Ele disse: ‘Tá’ estável, já está voltando a respiração, pode ficar tranquilo’. Entrou na ambulância e simplesmente foi embora”, conta.
Menos de meia hora depois, um médico do HGP foi falar com a família. “Ele falou: ‘Não sei o que está acontecendo, o estado da Victória é gravíssimo, o médico deixou ela aqui, não tem raio-X, não tem nada. Se eu tirar ela daqui, não aguenta fazer exame de imagem. Tive que entubá-la novamente. Vocês aguardem. Mas o quadro dela é gravíssimo’. Entramos em desespero, o médico da UPA falou que ela estava estável. Só que já tinha ido embora, é lógico”, relata.
Não demorou para a família se deparar com a trágica notícia. “Deu mais 20 minutos, veio o médico falar que ela não aguentou, teve uma parada cardíaca na UPA e teve outra no [Hospital] Pirajussara. O médico disse que tentou de tudo, e que será preciso fazer uma perícia no corpo. Realmente, através do vidro deu para ver eles tentando reanimá-la. Minha sobrinha saiu daqui [UPA] desfalecida”, relata, consternado. Victória faleceu às 13h22, de “morte suspeita”.
Na segunda, o tio teve outra surpresa ao olhar o CRM do médico que atendeu Victória. “Vi a foto [no órgão médico]. Não foi o médico que atendeu ela sexta e sábado, na receita o registro não é dele”, denuncia Fábio. No mesmo dia, ele foi à UPA e exigiu explicações. “Um tal de Josivaldo disse que podia acontecer, que outro médico atende na mesma sala. Eu falei: ‘Ele assinou no nome que não é dele, ele tinha que pelo menos ler se era o nome dele’. Isso já é crime!”, diz.
O tio cobrou o prontuário de Victória e o plantão dos médicos, em vão. “Me negaram, falaram que só em dez dias. Eles jogaram a ‘bomba’, desovaram o corpo quase, no Pirajussara, só que o erro está aqui [UPA]. Nunca vi ninguém morrer de bronquite. Minha irmã foi com ela, ela saiu ‘de boa’, deu ‘tchau, vô, tchau, tio’. Ela não estava morrendo, estava só cansadinha, com falta de ar. Deram medicação na sexta e de novo no sábado, acelerou o coração dela”, relata Fábio.
“Tudo indica que ela desfaleceu quando deram a medicação na veia. Minha irmã ficou desesperada, mas a enfermeira falou que a medicação estava fazendo efeito”, acusa Fábio. Amigos também se revoltam com a perda – Victória faria 14 anos dia 30. “[Ela] Deu entrada na UPA Santo Eduardo para buscar atendimento e não assassinos, se locomoveu até a unidade de açougueiros bem, apenas com bronquite asmática. […] Acabaram com uma família”, diz Andressa Cristina.
OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, o prefeito Ney Santos (PRB) disse nesta sexta-feira que pediu sindicância na UPA – gerida por organização privada, a Edusa – e investigação do Conselho Regional de Medicina, e disse que em caso de negligência o médico será “punido”. “Na terça-feira [13], eu pedi que instaurasse um inquérito [na UPA], que o Conselho de Medicina investigasse o caso, até porque se tiver alguma negligência médica que a gente possa punir o profissional”, declarou.

Contudo, Ney lança suspeita sobre o HGP. “Conversei com um dos médicos, ele me deu uma posição. Conversei com um familiar, que me deu outra. Para não tomar uma atitude injusta, temos que fazer uma investigação. Na hora que chegar o laudo e o parecer do Conselho de Ética, vamos saber realmente o que causou, infelizmente, a morte. Agora, ela saiu da UPA viva, né? Está sendo colocado que ela faleceu na UPA, mas ela faleceu no Hospital Geral”, afirmou Ney





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