segunda-feira, 15 de abril de 2019

Fórum de Enfermagem enfatiza violência obstétrica e boas práticas ao parto e nascimento


O evento ocorreu em comemoração ao Dia do Enfermeiro Obstetra

Em comemoração ao Dia do Enfermeiro Obstetra, o auditório da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAODO/UFMS) recebeu na última sexta-feira (12) o “I Fórum de Enfermagem Obstétrica – Desafios e Avanços”, que discutiu o cenário atual deste segmento no Estado.

O Fórum contou com a colaboração dos seguintes enfermeiros obstetras: Dra. Ana Ligia Messias; Dra. Ana Paula de Assis Sales; Dra. Laura Mena; Dra. Raquel do Nascimento; Dra. Rebeca Fonseca e Dr. Ramão Antônio Vargas. O Fórum teve ainda o apoio do médico ginecologista, Dr. Ricardo dos Santos Gomes.

Durante o evento, discutiu-se importantes temas para a área, como a violência obstétrica, a gravidez após abuso sexual, a importância do parto humanizado, as boas práticas no parto e no nascimento e foi destacado um Projeto de Extensão no Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica da UFMS.

Violência obstétrica

De acordo com a Lei nº 5217, de 26 de junho de 2018, considera-se violência obstétrica todo ato praticado pelo médico, pela equipe do hospital, por um familiar ou acompanhante que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes, em trabalho de parto ou, ainda, no período puerpério.

Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres no Brasil, sofreu algum tipo de violência durante o parto. As mais comuns, segundo o estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência.
Dra. Ana Ligia Messias
A enfermeira obstetra, Dra. Ana Ligia Messias, afirmou que vários fatores podem se caracterizar como violência obstétrica. “São classificadas como violência obstétrica, ações como: tratar a mulher de forma agressiva e grosseira; não ouvir as queixas da mulher internada ou em trabalho de parto; trata-la de forma inferior, dando-lhe comandos infantilizados e diminutivos, como se ela fosse incapaz; fazer a gestante ou parturiente acreditar que precisa de uma cesariana, quando esta não se faz necessária; impedir que a mulher seja acompanhada por alguém durante o trabalho de parto; impedir a mulher de se comunicar com o mundo exterior, entre outros”.

Ana Ligia ainda forneceu os canais de denúncia para este tipo de ação. “As denúncias contra violência obstétrica podem ser feitas pelo Ministério Público Federal, pela Defensoria Pública Estadual, pela Ouvidoria da instituição, pela Central de Atendimento a Mulher (por meio do número 180) ou pelo Disque Saúde do SUS (por meio do número 136).

 Gravidez após abuso sexual

Dra. Laura Mena
O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da UFMS (HUMAP-UFMS), integra o Projeto +30, que visa a capacitação e implementação de Serviços para o Atendimento à Violência Sexual e Interrupção da Gestação nos Casos Previstos em Lei nos Hospitais Universitários Brasileiros.

De acordo com a enfermeira obstetra do HUMAP-UFMS, Dra. Laura Mena, a paciente vítima de abuso sexual, deve procurar um serviço de saúde, antes de um possível momento de gestação e os profissionais do local devem estar adequadamente preparados para este tipo de situação. “A paciente vítima de violência sexual deve ser acolhida pela equipe multiprofissional do hospital, onde deve ser priorizado o seu bem-estar e comodidade, além de ser garantida sua privacidade”, alerta.

A enfermeira ainda enfatizou que o procedimento de aborto é realizado no hospital, apenas em casos previstos em Lei, sendo assim um procedimento lícito, onde o médico não é punido. “Os abortos são realizados no hospital, em casos onde não há outra maneira de salvar a vida da gestante; se a gestação resulta de estupro e o abortamento é precedido do consentimento da gestante ou, quando incapaz, do seu representante legal; e em situações onde o feto é anencéfalo, comprovado por dois especialistas diferentes, com o consentimento do casal para interrupção da gestação.

Boas práticas ao parto e nascimento
Dr. Ricardo dos Santos Gomes

De acordo com o médico ginecologista, Dr. Ricardo dos Santos Gomes, a humanização do parto tem a finalidade de tornar o nascimento uma experiência positiva e satisfatória para a mulher e sua família. “Os profissionais do segmento da obstetrícia, devem sempre colocar a mulher no centro e no controle das decisões sobre o que irá acontecer, permitindo, por exemplo, que tenha acompanhante para fornecer mais segurança, além de escolher a posição que se sentir mais confortável para a realização do parto”.
A presença de acompanhante está previsto na Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, que garante as parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do SUS.

Segundo Gomes, a presença de acompanhante pode fornecer benefícios à mulher durante o processo. “A presença do acompanhante pode influenciar nos seguintes aspectos: menor duração do trabalho de parto, menor necessidade de medicamento para aliviar a dor; menor necessidade de cesariana ou fórceps; maiores índices de amamentação; melhor formação de vínculo mãe-bebê; maior satisfação da mulher com a experiência de parto, sentimentos de confiança e controle; maior possibilidade de comunicação; maior possibilidade para mulher compartilhar alegrias e melhor formação do vínculo pai-bebê”, elencou.

O ginecologista também explicou a importância do contato pele a pele entre mãe e bebê no Pós-parto. “O contato pele a pele após o parto pode levar aos seguintes benefícios: termorregulação do bebê; facilita o vínculo; facilita a amamentação; acalma o bebê; proporciona a colonização bacteriana da pele do bebê por bactérias maternas; auxilia na contração uterina e auxilia na diminuição da hemorragia pós-parto da mulher”, explica.

 CPN em Sidrolândia
Dr. Ramão Antônio Vargas
A construção e instalação do Centro de Parto Normal (CPN) “Magdalena Targa do Nascimento” junto ao Hospital Municipal de Sidrolândia, colocou o município como referência em âmbito nacional, inclusive já habilitado pelo Ministério da Saúde.

De acordo com o enfermeiro obstetra, Dr. Ramão Antônio Vargas, em pouco tempo de funcionamento, o CPN de Sidrolândia já alcançou resultados expressivos. “Trata-se do primeiro CPN habilitado em Mato Grosso do Sul. O espaço foi inaugurado no dia 8 de março de 2016 e mais de 800 partos já aconteceram no local”, exalta.

Ramão explicou também como funciona o atendimento no local. “O CPN atende gestantes de baixo risco, onde o enfermeiro assiste todo o processo, desde a admissão, até a classificação de risco, internação, assiste o parto e dá alta para mulher após 24 horas”, relata.

Projeto de extensão
Dra. Ana Paula de Assis Sales
A enfermeira obstetra e professora universitária, Dra. Ana Paula de Assis Sales, coordena o Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica da UFMS. Dentro do programa, Ana Paula é responsável pelo “Projeto de atenção integral a saúde da mulher no ciclo gravídico puerperal” um projeto de interiorização e extensão, onde os Residentes da UFMS ficam durante 4 semanas no hospital de Miranda e na rede de atenção básica, realizando atendimentos pré-natal, atividades de educação e saúde e também prestando assistência pré-parto, pós-parto e puerpério. O projeto está na 7ª turma e já tem 30 enfermeiros Residentes formados.

Ana Paula avalia como positiva a instalação do Projeto no município. “Miranda tem cerca de 28 mil habitantes e um número de gestações interessante. Os Residentes do hospital são orientados a realizar os partos nos modelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, com as boas práticas na atenção ao parto”, apontou.

A coordenadora do Programa explicou como são conduzidos os procedimentos. “Neste Projeto, sempre utilizamos tecnologias leves, com o mínimo possível de intervenções. Com uma excelente equipe de retaguarda, os Residentes aprendem a ter a consciência que a protagonista do parto é a mulher. Por meio desses aprendizados, a população naturalmente já se agregou ao modelo das boas práticas como uma questão de saúde para eles”, revelou.
De acordo com a resolução 524/2016 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), para se tornar um Enfermeiro Obstetra, o Residente deve atender os seguintes requisitos:
– Ter realizado no mínimo 15 consultas de enfermagem pré-natal;
– Ter realizado no mínimo 20 partos com acompanhamento completo do trabalho de parto, parto e pós-parto;
– Ter realizado no mínimo 15 atendimentos ao recém-nascido na sala de parto.



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