A morte de uma criança de cinco anos no Hospital Materno Infantil, no estado de Goiás, reacendeu os alertas sobre a má gestão da Organização Social (OS) Instituto de Gestão e Humanização (IGH), que também administra o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), localizado em Vila Velha, e responde a uma série de denúncias de irregularidades, incluindo mortes de bebês.
Segundo veículos de imprensa de Goiânia, Diogo Soares Carlo Carmo, portador de síndrome de down, morreu, supostamente por negligência, depois de 11 horas à espera de um leito, numa unidade superlotada, onde crianças aguardavam atendimento em cadeiras e nos corredores, situação idêntica à registrada no Himaba, inclusive recentemente, quando o Pronto Socorro do hospital viveu mais um dia de caos com superlotação e crianças aguardando em cadeiras e corredores.
Diogo foi atendido com prioridade amarela (atendimento imediato, mas sem risco). Apresentando febre, deu entrada às 3 horas, recebeu o medicamento prescrito e ficou aguardando leito até o final do dia, quando o quadro foi se agravando até a morte da criança. O caso causou comoção e revolta, gerando um desabafo ao G1 Goiás da médica Irene Ribeiro Machado, que trabalha no Hospital Materno Infantil (HMI), sobre a falta de estrutura do local.
De acordo com ela, pacientes ficam dias internados em cadeiras por causa da falta de leitos. “A sensação é de abandono. Me senti abandonada no meio do caos. Tentando atender, tentando auxiliar e não ter suporte. A sensação é que cada dia piora, aumentam as dificuldades, as limitações nossas. E a gente não vê solução”, completou a médica ao G1 Goiás sobre a situação do HMI.
Outro site noticioso, o Mais Goiás, revelou um histórico preocupante do Instituto de Gestão e Humanização. Em dezembro de 2018, o hospital fechou as portas pela primeira vez por falta de repasse do Governo à IGH. Em janeiro deste ano, houve nova possibilidade de fechamento em razão de medicamentos e materiais como luvas e agulhas estarem com estoques baixos, razão pela qual, à época, o Hospital Materno Infantil não tinha condições de receber pacientes além daqueles já internados.
O mesmo instituto assumiu a gestão do Himaba em 2017, e é alvo de inúmeras denúncias desde então. Relatório com dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) ao qual Século Diário teve acesso, em maio de 2018, indicava que, no período de seis de outubro até 22 de dezembro de 2017, quase 30 recém-nascidos morreram na Unidade de Terapia Intensiva (Utin) do Himaba. De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), indicado por próprios trabalhadores da unidade no relatório, boa parte por infecção, o que levou a quadros de septicemia. Mas não apenas isso.
Antigos e atuais trabalhadores, incluindo médicos que atuaram na Utin, e o Sindicato dos Servidores da Saúde do Estado (Sindsaúde-ES), elencaram outros fatores, como a iatrogenia (aplicação equivocada de remédios), a não administração devida dos medicamentos e descuidos com diversos protocolos, incluindo os de higienização.
As reclamações incluem ainda falta de medicamentos; extinção da classificação de risco; superlotação e pacientes com doenças contagiosas sem isolamento; paralisação no atendimento de algumas especialidades; falta de estrutura, com pessoas internadas nos corredores; dívidas com fornecedores e trabalhadores; contratação de profissionais sem experiência e a baixos salários; repasses retidos por apresentar relatórios de prestação de contas inconsistentes; e até problemas com racionamento de comida.
Valeska Fernandes Morais de Souza, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Espírito Santo (Sindifermeiros-ES), cobra que o IGH seja investigado em todos os estados onde atua, além do Espírito Santo e Goiás, na Bahia, Piauí e Rio de Janeiro. "Os governos, as instituições públicas e de fiscalização, MPs [Ministérios Públicos] e demais órgãos competentes têm que agir mais rapidamente. Não podem permitir que essa organização, com um histórico de má gestão como esse, continue funcionando pelo país afora, deixando rastros de destruição do patrimônio público e mortes de crianças", criticou.
Auditoria
O longo histórico de problemas do IGH fez com que o governo Renato Casagrande decidisse iniciar pelo Himaba a série de auditoria nas unidades de saúde entregues às Organizações Sociais (OSs) no Estado.
O trabalho começou no último mês e está sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont). A previsão é que o primeiro relatório de inspeção seja concluído em 30 dias.
Durante a inspeção os auditores terão acesso aos relatórios de monitoramento e ao sistema de prestação de contas contábil, econômico e financeiro das OS. Os principais pontos avaliados serão o cumprimento de metas, prestação de contas e pagamentos efetuados.
Segundo o governo, as conclusões apontadas pela auditoria poderão subsidiar a tomada de decisões por parte dos gestores estaduais na elaboração de propostas de mudanças no modelo hoje adotado para gerenciar as unidades de saúde.
A Secont informa que o objetivo é realizar inspeções em pelo menos mais uma unidade hospitalar ainda no primeiro semestre deste ano, e nos outros dois hospitais no segundo semestre. Além do Himaba, são administrados por Organizações Sociais os hospitais de Urgência e Emergência (antigo São Lucas) e Central, em Vitória; e Dr. Jayme Santos Neves, na Serra.
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