domingo, 9 de junho de 2019

Laboratório é acusado de esconder remédio que evita o Alzheimer

o neurocirurgião Walter Fagundes diz que pesquisa traria grande alívio a familiares de pacientes com Alzheimer (Foto: Beto Morais/AT)
Uma equipe de investigadores do laboratório farmacêutico norte-americano Pfizer está sendo acusada de ocultar informações de que um medicamento poderia prevenir a doença de Alzheimer.

A denúncia foi feita pelo jornal The Washington Post, nos Estados Unidos. De acordo com a acusação, a empresa estaria estudando em 2015, a fórmula Enbrel, um potente anti-inflamatório para o tratamento de artrite reumatoide, que poderia reduzir o risco de Alzheimer em 64%.

O Washington Post diz que a empresa não investigou os efeitos secundários do medicamento devido aos elevados custos.

A descoberta, segundo o jornal, não foi para frente porque o laboratório optou por não desenvolver novos testes, com exames clínicos de pacientes, que teriam um custo estimado de R$ 320 milhões.

Para o neurocirurgião Walter Fagundes, a pesquisa iria trazer grande alívio a familiares. “Novas pesquisas e novos avanços, seja na prevenção ou no tratamento, são fundamentais e muito importantes para a humanidade. Essa doença tem aspectos catastróficos para a vida do paciente e de sua família”, observou.

Ele defende que, se for comprovada a denúncia, deve haver punição. “Não dá para dizer se esse medicamento irá atuar no cérebro. No caso da Pfizer, acho pouco provável ter acontecido, contudo, penso que deve ser investigado e, se confirmado, a empresa deve ser punida”.

Na opinião do médico, “não divulgar a informação e não permitir que outros pesquisadores façam tal investigação pode, em potencial, estar prejudicando milhões de pessoas, em todo o mundo, acometidas pela doença e que poderiam, ainda que em teoria, se beneficiar do tratamento”, salienta.

Para a neurologista Vera Lúcia Ferreira Vieira, não há como, no momento, culpar a empresa farmacêutica. “Não existe ainda uma droga que efetivamente previna ou trate com eficácia essa doença”, destacou.

“Não há evidências de que é verídico. Mas é um caso muito sério! A quantidade de pacientes que eu recebo com essa doença é de 30%, e quem mais sofre é sempre a família”, comentou.

O neurologista José Antônio Fiorot Júnior disse que não recebeu informações sobre a denúncia. “Se, realmente, um laboratório descobrir um tratamento que cure o Alzheimer, não acredito que esconderia esta descoberta. Isto porque os lucros das vendas seriam tão altos que justificariam qualquer investimento”, acrescentou.

O Washington Post informou que a Pfizer entendeu que a expectativa de que o Enbrel prevenisse o mal de Alzheimer não era alta porque o fármaco não atinge diretamente o tecido cerebral.

Risco de doença reduzido em 64%

A denúncia
  • Uma reportagem exclusiva do The Washington Post denunciou que o laboratório norte-americano Pfizer ocultou, desde 2015, uma pesquisa com medicamento que poderia reduzir o Alzheimer.
  • O medicamento é o enbrel, usado para tratar a artrite reumatoide ativa moderada a grave, em adultos, e a artrite idiopática juvenil. A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica.
  • Segundo a reportagem, o medicamento poderia reduzir o risco de Alzheimer em 64%.
Pausa na pesquisa
  • A denúncia detalha que a verificação dos efeitos do remédio exigiria um teste clínico caro, que chegaria a custar R$ 320 milhões. Com isso, a indústria farmacêutica resolveu não prosseguir com as pesquisas e nem publicar os resultados.
A doença
  • A doença de Alzheimer é a demência primária mais frequente nos seres humanos.
  • Ela se caracteriza por um quadro lento e progressivo de piora da memória, do raciocínio e, com a progressão, compromete o comportamento e a independência funcional.
  • É mais frequente após os 65 anos de idade e a incidência aumenta com o envelhecimento.
Tratamentos atuais
  • O tratamento é multidisciplinar, tendo como base as medicações, que, ainda que possam ter resultados benéficos, ao longo da evolução da doença têm papel limitado.
  • No momento, os únicos tratamentos disponíveis comercialmente não curam a doença, apenas retardam sua progressão.
Fontes: Médicos consultados.

O outro lado

Esclarecimento
Em relação à denúncia sobre o potencial papel do medicamento Enbrel na prevenção do mal de Alzheimer, a Pfizer esclareceu os motivos de não publicar a pesquisa, por meio de nota.
“A escolha de não publicar dados de análise estatística, bem como de não divulgar quaisquer informações preliminares foi determinada por falta de fundamentação científica, ausência de estudos mais aprofundados e evidências que comprovem a eficácia do medicamento para o tratamento”, diz a nota.
A empresa afirmou ainda que “a decisão não está relacionada a questões ou incentivos financeiros”.


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