Além da dor, ela disse que sentia muito frio, mas ainda assim foi orientada a ficar andando pelo quarto, até que sentiu a bolsa estourar
TRÊS LAGOAS (MS) - Revolta, descaso, busca pela justiça. Estes são os sentimentos que marcaram o parto de Silvia Iris Ribeiro Pereira, mãe e auxiliar de cozinha que atualmente está desempregada e vive de bicos. Na última terça-feira (23) em Três Lagoas (MS), Silvia e toda a família aguardavam ansiosamente para conhecer o novo integrante, mas o sonho nunca foi realizado. O motivo? Para Silvia, foi a negligência da equipe médica que a atendeu e a demora na realização do parto.
Gestante de 38 semanas, a três-lagoense realizava o pré-natal no posto de saúde do bairro Nova Três Lagoas, com o Dr. Rui. Com o encaminhamento em mãos para o parto, ela procurou o Hospital Auxiliadora às 13h30 do último dia 23, sentindo fortes dores na barriga. O primeiro atendimento, no entanto, ocorreu apenas às 14h.
Silvia disse que foi recebida por uma enfermeira obstétrica, que a informou que a médica não poderia atendê-la por já estar em outro atendimento. Ela, então realizou o exame de cardiotocografia (registro gráfico da frequência cardíaca fetal e das contrações uterinas), onde a enfermeira alegou estar tudo certo para o parto.
Mesmo sentindo fortes dores, Silvia diz que foi mandada para baixo do chuveiro, sob a alegação de que a água quente iria ajudá-la a ter a dilatação necessária para o parto normal e, por lá, tomando banho, permaneceu por uma hora e meia. Além da dor, ela disse que sentia muito frio, mas ainda assim foi orientada a ficar andando pelo quarto, até que sentiu a bolsa estourar.
Ela disse que a médica apareceu na sala apenas uma vez, durante o primeiro exame de toque e não a viu novamente.
Sentada em um banquinho, e recebendo aplicação de vaselina nas partes íntimas e com muita dor, a mulher presenciou o nascimento da criança, que escorregou na vaselina e caiu em uma bacia. Segundo ela, a equipe parecia desesperada com a situação e correu para pegar o bebê, enrolando e levando embora da sala.
A triste notícia veio momentos depois, através de um médico pediatra, que confirmou para Silvia que seu filho havia morrido. A morte da criança teria sido em decorrência do bebê ter ingerido líquido amniótico (líquido que envolve o embrião), o pediatra disse que fizeram todo o possível para reanimá-lo, com injeção de adrenalina e massagem cardíaca, mas infelizmente era tarde demais.
Silvia acusa o hospital de negligência e acredita que o bebê só ingeriu o líquido amniótico em função da demora na realização do parto. Ela disse que ainda ficou um longo período de tempo com a placenta em seu corpo, até que uma técnica realizou a limpeza.
HUMANIZAÇÃO DA NEGLIGÊNCIA
Nas redes sociais diversas pessoas demonstraram solidariedade com Silvia. Diversas mães publicaram suas insatisfações com o mesmo problema que alegaram ter na maternidade do Hospital Auxiliadora, a demora em se realizar uma cesariana.
Enquanto aguardam para ter um parto normal, seguindo regras do Sistema Único de Saúde, as mulheres são submetidas a dor, frio e até mesmo a angústia de perder o filho durante o parto. As reclamações vão desde os profissionais da equipe de maternidade mal preparados, quanto a violência obstétrica.
O grupo "Mães Unidas", no Facebook, alega que já recebeu mais de 40 denúncias de mães sobre as condições alarmantes que o "Parto Humanizado" está levando para as gestantes e bebês de Três Lagoas. O grupo alega que conversou com a Secretária de Saúde Angelina Zuque e que em uma reunião na segunda-feira (29) irão debater o assunto das gestantes.
NOTA DO HOSPITAL
Uma equipe da Rádio Caçula esteve no Hospital Auxiliadora, onde foi informada de que todos os óbitos são investigados e nta manhã desta quinta-feira (25) foi instaurada uma "Comissão de Óbito" que irá apurar os fatos que envolvem a morte do bebê.
Coordenador da maternidade, o médico Valério Chinaglia disse que a mãe foi atendida com todos os protocolos do Ministério da Saúde, que preconiza o parto normal e que mãe e filho estavam em boas condições para esse tipo de procedimento.
Através de nota, o Hospital Auxiliadora informou que está levantando os fatos com toda a equipe da maternidade e irá abrir uma apuração interna para verificar e se pronunciar o que ocorreu especificamente nesse caso.
"Aproveitamos para informamos que o Hospital trabalha com as boas práticas exigidas pelo Ministério da Saúde, sendo credenciado desde 2003 como Hospital Amigo da Criança, a IHAC é um selo de qualidade conferido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que cumprem os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, instituídos pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para ser amigo da criança, o hospital deve t respeitar outros critérios, como o cuidado respeitoso e humanizado à mulher durante o pré-parto, parto e o pós-parto, garantir livre acesso à mãe e ao pai e permanência deles junto ao recém-nascido internado, durante 24 horas, e cumprir a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças na Primeira Infância(NBCAL).
Bebês que nascem em Hospital Amigo da Criança têm menos chance de sofrer intervenções desnecessárias logo após o parto, como aspiração das vias aéreas, uso de oxigênio inalatório e uso de incubadora. O contato pele a pele com a mãe logo após o nascimento, a amamentação na primeira hora de vida.
Dados do DATUS revela que o Hospital Auxiliadora está abaixo da média quanto se trata de: "Taxa de Mortalidade Precoce", no Brasil está como 6,6, em Mato Grosso do Sul como 6,2, no Hospital Auxiliadora 2,4, isso reflete as boas práticas no atendimento da gestante", diz a nota.
A DOR DO PARTO
Para familiares e amigos, o bebê de Silvia não é apenas mais um número na estatística de mortalidade. É um membro da família que nunca poderão conhecer.
Para Silvia a dor do parto não é apenas a que sente no corpo, a dor do parto é a de não poder ter seu filho nos braços. Enquanto a dor física irá passar com o tempo, restará a dor na alma, esta bem mais difícil de ser curada. Se é que um dia irá.
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