sexta-feira, 12 de julho de 2019

Caos da saúde pública em Roraima


Caos
Não existe outra palavra para definir a situação da saúde pública em Roraima. Ao que tudo indica e pelo volume de denúncias que estão sendo compartilhadas, o Estado chegou no fundo do poço no que diz respeito à qualidade dos serviços públicos. Do fim de semana até esta quarta-feira (10), só o Roraima em Tempo recebeu dezenas de mensagens com reclamações e apelos desesperadores de familiares e pacientes que estão no Hospital Geral de Roraima e na Maternidade. De modo geral, todos temem que não saiam vivos de uma unidade onde falta medicamento, falta materiais e insumos. Onde os profissionais estão trabalhando sem nenhuma condição e no seu limite, a ponto de cometerem erros graves que só pioram a condição dos pacientes. O roraimense está rezando para não adoecer e não depender do serviço de saúde.

Denuncias
Pelo menos quatro denúncias foram destaques nesses dias. Nos grupos de whats circulou um vídeo mostrando a revolta dos pacientes que aguardavam atendimento no HGR. Em outro vídeo, os usuários reclamavam que enquanto havia uma fila imensa de pessoas aguardando no Cosme e Silva, supostamente o filho de uma servidora brincava tranquilamente no computador que deveria ser usado para o atendimento.   Em outro, uma família denunciava o erro médico que levou a amputar o braço da mãe necrosado por conta de uma trombose não tratada de maneira adequada e por fim, e talvez a mais chocante, a foto da perna de uma mulher com um grave ferimento causado por um acidente de trânsito. Acompanhando a imagem, o texto trazia a informação que a mesma perdeu a vida porque o HGR não dispunha de materiais básicos para realizar o procedimento emergencial que ela necessitava. Fora as inúmeras mensagens solicitando apoio financeiro ou divulgando uma ação beneficente em prol do tratamento de um paciente, iniciativa própria dos familiares que não confiam mais no atendimento do HGR.

Resultado
Enquanto tudo isso circulava nos grupos de whats, o Governo do Estado divulgou uma publicação de facebook informado que, durante o aniversário de Boa Vista, o governador visitou o depósito da Coordenação Geral Farmacêutica e que a mesma está totalmente abastecida para atender a demanda de todas as unidades de saúde do Estado. Em outro vídeo, o Governador exalta a doação de lençóis feitas pelo Exército para a saúde do Estado. Denarium precisa entender que isso é propaganda e que na prática ainda não resolve o problema do paciente que precisa do atendimento. O que interessa à população é quando esses insumos vão chegar na unidades e estarão disponíveis para atender aos pacientes. O que preocupa de modo geral, é saber também quanto tempo esses insumos vão durar porque as informações que chegam é que não há insumos suficientes para atender toda a demanda. Basta lembrar a denúncia trazida semana passada sobre o sorteio para as cirurgias ortopédicas porque o Governo não tinha comprado pinos suficientes para o procedimento. Detalhe: o Executivo Estadual não desmentiu essa informação, apenas divulgou que será realizado um mutirão com seis cirurgias por dia.

Matemática
Em nota, o Governo afirmou que existem 800 pacientes na fila de espera das cirurgias ortopédicas. Depois, em outra publicação nas redes sociais, anunciou que o mutirão para esse tipo de cirurgia será iniciado com um cronograma de seis procedimentos ao dia. Ou seja, fazendo uma continua rápida, no total o Governo vai levar mais de 130 dias para concluir essa demanda de 800 pacientes. E nesse período, quantos outros pacientes vão surgir precisando do mesmo procedimento? Quantos serão operados de maneira emergencial? É bem possível que mais uma vez, a conta não feche e a esperança que muitos pacientes acalentam de retomar uma vida normal demore bem mais que os 130 dias. Em tempo: enquanto a equipe do RR Em Tempo apurava as informações para a coluna, recebeu o desabafo de uma jovem que perdeu o avô exatamente, porque o mesmo não conseguiu fazer a cirurgia ortopédica. No texto compartilhado em redes sociais, a jovem lembra que a conta vai chegar para aqueles que são os responsáveis pelos desmantelo da Saúde Pública Estadual.

Crise Migratória
Em todo esse caos, é preciso também agir com justiça. O aumento do número de venezuelanos que chega diariamente ao Estado causou sim sobrecarga nos serviços públicos de saúde. Mas, não é a crise migratória o problema da área. Basta lembrar que antes mesmo da entrada de imigrantes no país, as reclamações sobre a saúde pública se avolumavam, assim como a denúncias, suspeitas de desvio dos recursos públicos e do favorecimento de empresas ligadas à políticos nos contratos da Sesau. Portanto, os venezuelanos encontraram também um sistema sem condições de lhes prestar o devido atendimento, o aumento da demanda segue como fator preocupante e já que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não vai mesmo fechar a fronteira como anunciou em visita pré-eleitoral ao Estado, uma alternativa que vem sendo discutida agora é que o Exército, por meio da Operação Acolhida, ofereça o serviço de saúde para os venezuelanos dentro dos próprios abrigos. Esse foi o coro defendido pela Comissão de Vereadores de Boa Vista que visitou Ministérios, parlamentares e presidentes de partidos. A ideia resolve o problema dos venezuelanos, mas para os roraimenses, se a torneira do roubo e da corrupção na saúde seguir derramando dinheiro no bolso dos outros, nenhuma melhoria será verificada.

CPI
Fechar essa torneira de roubo seria o papel principal da CPI da Saúde, proposta de que chegou a ser amplamente discutida pela Assembleia Legislativa, com deputado estadual inclusive falando em impeachment do governador, quem fez isso foi Renato Silva (Republicanos). O jovem parlamentar que estava em sintonia com os anseios da sociedade simplesmente calou a boca sobre o assunto. Dizem que levou uma grande bronca do presidente do seu partido, Mecias de Jesus que, ao que tudo indica, seria um dos alvos da CPI por ter uma empresa ligada à sua família como uma das principais contratadas pela SESAU. Hoje, apenas a deputada Betânia Medeiros (PV) segue cobrando a investigação. Renato calou a boca e é mais um que seguiu a orientação do chefe do seu partido, infelizmente, mudando completamente a sua postura e esquecendo que foi eleito para defender os interesses da população e não de Mecias de Jesus.

Valores
Ano passado o Roraima em Tempo publicou uma matéria mostrando a relação do senador Mecias de Jesus com os donos da empresa União Comércio e Serviço LTDA. O material chegou à redação na forma de denúncia anônima, com dados sobre a empresa, serviços que ela está apta a realizar e fotos de como vivem os primos de Mecias, apontados como seus laranjas e que constam como donos da União. Ontem, o Portal recebeu uma nova denúncia, dessa vez com os valores que a União teria recebido do Estado, na SEFAZ está registrado os pagamentos feitos à empresa que recebeu de 2015 até o início deste ano mais de R$ 44 milhões dos cofres estaduais. Chama atenção também que o maior pagamento registrado foi realizado em setembro de 2018, com mais de R$ 4 milhões. É um volume bem grande em pleno período que antecedeu às eleições e por isso, a denúncia foi feita. Conforme a mensagem recebida pela equipe do Portal, o que se pede é uma investigação sobre o caso para esclarecer qual o tipo de benefício Mecias pode ter tirado dessa situação e se houve ou não interferência do parlamentar em relação aos pagamento e contratos. As suspeitas são grandes e precisam ser devidamente apuradas pelos órgãos de controle.

Indeciso
O Governo voltou atrás e decidiu manter o contrato no valor de R$ 3,9 milhões em aluguel de veículos para atender as necessidades da Secretaria Estadual de Agricultura. Esse contrato, feito com uma empresa de Manaus, existia desde a gestão anterior. Ainda como interventor, Denarium determinou a devolução das caminhonetes e alegou falta de recursos para o pagamento, além da necessidade de revisão dos contratos. Em abril, celebrando 100 dias de governo, Denarium chegou a afirmar que o Estado tinha economizado R$ 10,4 milhões no período só com a devolução de 200 caminhonete, cada uma delas custando cerca de R$ 13 mil por mês ao governo. Mas, esta semana, o Governo publicou no Diário Oficial a revogação da rescisão contratual, ou seja, as caminhonetes da SEAPA vão voltar e a economia anunciada por Denarium, fatalmente, deixa de existir. É muita indecisão.


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