Dois ginecologistas destacados para investigar erros médicos em hospital de Samambaia já foram denunciados por negligência
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que irá substituir dois ginecologistas indicados para compor sindicância aberta para apurar denúncias de negligência médica e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam). A troca ocorre após a pasta tomar conhecimento pela imprensa de que os médicos também são acusados de erros durante procedimentos.
Em nota, a secretaria disse que indicou os médicos por não tinha conhecimento dos processos. Isso porque, segundo a pasta, as ações estariam exclusivamente no âmbito do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e Tribunal de Justiça (TJDFT). “Tão logo tomamos conhecimento da notícia, foi instaurado procedimento investigatório no âmbito da corregedoria”, informou a Saúde. Os especialistas Cláudio Lucio de Medeiros Albuquerque e Miltair Baeta de Mello serão substituídos.
Recentemente, o HRSam virou alvo de investigação policial após 15 pacientes denunciarem o descaso no hospital. As denúncias são apuradas pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) e pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-DF). Os relatos das vítimas narram que um bebê teve a clavícula quebrada durante o parto, restos de materiais cirúrgicos foram esquecidos dentro de uma paciente e que outras mulheres teriam sofrido maus-tratos de médicos do hospital. Oito profissionais são investigados.
Bebê dado como morto
Na última quarta-feira (17/07/2019), o Metrópoles trouxe o relato de uma jovem de 16 anos. A estudante V. G. S. viveu horas de apreensão após, grávida, dar entrada no HRSam apresentando fortes dores na região da barriga. Na unidade pública de saúde, foi recebida e atendida por uma médica que, sem nem mesmo precisar realizar qualquer exame, diagnosticou a morte precoce de seu bebê e receitou um abortivo. Nove horas depois, a gestante entrou em trabalho de parto e, contrariando o diagnóstico da profissional, deu à luz um menino cujo coração ainda batia.
A surpresa e a alegria da mãe e dos familiares duraram exatas uma hora e 40 minutos. Após ela deixar a sala de cirurgia para se instalar no quarto, um médico informou à jovem que seu bebê prematuro, de seis meses, havia sofrido complicações e não resistiu. O óbito foi registrado às 23h30 daquele dia.
A adolescente sustentou que a morte da criança é resultado da negligênciados profissionais e poderia ter sido evitada com um diagnóstico preciso.
“A médica apenas tocou na minha barriga e disse que meu bebê tinha morrido. Sem fazer exames, me medicou. Mais tarde, por volta das 19h, outro médico me examinou, com um estetoscópio, e disse que não conseguia ouvir os batimentos cardíacos. Mesmo assim, meu filho nasceu vivo. Se fosse em qualquer outro hospital ou qualquer outro médico, ele poderia estar comigo hoje”, desabafou a jovem.
Gaze esquecida na vagina
Erika Pereira Nascimento, 25 anos, foi outra a denunciar o HRSam. Não bastasse o trauma de perder o primeiro filho por complicações na gestação, de acordo com a mulher, os médicos responsáveis pelo parto do natimorto esqueceram, em seu útero, duas gazes utilizadas no procedimento cirúrgico.
Erika relatou ter procurado a unidade após realizar exame de ultrassom que apontou a morte precoce do bebê. Diante da comprovação, a equipe optou pela internação da jovem. “Eles [médicos] disseram que não tinham como fazer mais nada. Fizeram os procedimentos de internação, mas só fui fazer o parto no dia seguinte, por volta das 5h.”
Dois dias após o parto, a autônoma recebeu alta médica e voltou para casa. No entanto, durante a recuperação, começou a ter complicações. “Fiz todo meu resguardo da maneira como me foi recomendado e, no final dele, comecei a sentir umas dores e percebi que saía um líquido com odor forte e sangue da minha vagina. No início, achei que fazia parte do próprio resguardo”, conta.
Cinco dias após ela apresentar os sangramentos na região uterina, as dores se intensificaram, levando-a a procurar novamente o HRSam. “Eu sentia uma dor muito forte. Quando tocava, parecia ter um caroço. Fui ao hospital ver o que era, e o médico retirou de dentro da vagina a primeira gaze, que estava podre, e em seguida outra.”
Segundo Erika, o profissional responsável pela extração dos materiais hospitalares omitiu a informação no prontuário, em uma tentativa de “tentar esconder o erro médico”. À reportagem, a jovem disse ter procurado a PCDF no dia seguinte, para denunciar o fato, e ter se sentido “esquecida”.
Foi tudo muito difícil. Primeiro, perdi meu primeiro filho, em um hospital que não tinha atendimento bom, que foi negligente. Fui esquecida e minha irmã teve de procurar os médicos para que eles me atendessem. Depois do parto, quando estava me recuperando e sofrendo meu luto, ainda tive que passar por tudo isso, inacreditável
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