sexta-feira, 5 de julho de 2019

Idosa é sedada e cortada, mas médicos cancelam cirurgia por defeito em equipamento, denuncia família

Caso chegou à Defensoria Pública do estado, nesta sexta (5). A direção de hospital, no Recife, disse que o equipamento estava funcionando até o momento do procedimento.

Aposentada Maria Helena Nascimento de Santana, de 76 anos, foi sedada e aberta para cirurgia de colocação de marca-passo, mas defeito em máquina impediu procedimento, no Recife

O defeito em um equipamento de um hospital, no Recife, impediu a realização de uma cirurgia para implantação de um marca-passo em uma idosa de 76 anos, segundo parentes da paciente. A família da servidora pública estadual aposentada Maria Helena Nascimento de Santana denunciou que ela foi levada para a sala de operações, chegou a ser sedada e cortada, mas o procedimento não teve como ser feito

O caso chegou à Defensoria Pública de Pernambuco, nesta sexta-feira (5). De acordo com o órgão, a família da idosa foi orientada a procurar um defensor para entrar com uma ação e providenciar a transferência da paciente, que está internada no Hospital Nossa Senhora do Ó, no Prado, na Zona Oeste da capital. 

A unidade é particular e faz atendimentos mediante apresentação de convênios. Esse é o caso de Maria Helena, vinculada ao Serviço de Assistência À Saúde dos Servidores de Pernambuco (Sassepe). 

Procurada pelo G1, direção informou que o equipamento estava funcionando até o momento do procedimento. Disse também que o aparelho tinha sido usado em outra cirurgia, no mesmo dia, e que faz revisões periódicas dos sistemas. 

À noite, a Justiça determinou a "imediata implantação do marca-passo em rede de hospital conveniado com o Sassepe ou em hospital particular, sob pena de multa diária de R$ 1 mil". Em caso de necessidade de transferência, o governo "deverá arcar com os custos", segundo a decisão da 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital. 

Documento

Neto de Maria Helena, o pedagogo Thuan Cesar Nascimento, de 23 anos, relatou ao G1, por telefone, que o problema na cirurgia ocorreu na terça-feira (2). 

A idosa chegou ao local depois de ter sido transferida da unidade da mesma rede hospitalar no Janga, em Paulista, no Grande Recife. Lá, o procedimento cirúrgico deixou de ser feito também por causa de defeito em uma máquina
Documento enviado pela família da paciente aponta a situação da idosa e mostra solicitação feita por médico
O jovem enviou ao G1 um documento expedido pelo eletrofisiologista Alberto Nicodemus, que solicita a implantação do marca-passo definitivo, com urgência. O laudo tem data de quinta-feira (4), dois dias depois da tentativa de procedimento cirúrgico. 

No documento, o médico faz um relato sobre a situação de Maria Helena e diz o que aconteceu no hospital. 

Ele informa que a paciente está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa de “pré-síncope secundário e bloqueio atrioventricular total.” Informa, ainda, que ela teve implantado um marca-passo provisório, em “caráter de urgência”. 

Diante do quadro, o médico afirma que a paciente aguarda um procedimento para implante de marca-passo definitivo, que estava marcado para o dia 2 de julho e ”foi suspenso por defeito no equipamento do RX”. 

O documento diz, ainda, que foi detectado que a paciente depende de estimulação cardíaca. "No caso de deslocamento do cabo de marca-passo, pode sobrevir parada cardíaca e morte”, escreve.
 
Por isso, o médico diz que é preciso fazer a implantação do marca-passo definitivo, com urgência. “O risco de morte súbita é aumentado, além dos riscos de contrair uma infecção hospitalar por esperar em uma UTI”, acrescenta. 

Segundo Thuan Nascimento, o hospital informou que será preciso esperar o conserto da máquina. "A família foi informada que chamaram um técnico de Curitiba", afirmou o neto da paciente.
Maria Helena foi levada para sala de cirurgia, mas procedimento foi cancelado por causdsa de problema em equipamento, no Recif

Mais denúncias

O neto de Maria Helena contou que, além do problema nos equipamentos das duas unidades, a paciente foi vítima de “negligência” e “maus-tratos”. Segundo ele, tudo começou no dia 16 de junho, quando a avó passou mal, em casa. “A gente acha que foi um problema com o remédio que ela toma para o coração”, comentou. 

No primeiro momento, a família levou Maria Helena para o Hospital dos Servidores do estado, no bairro do Espinheiro, no Recife. De lá, ela foi transferida para o Nossa Senhora do Ó, no Janga. “Disseram que era preciso esperar oito dias para fazer a avaliação do quadro de saúde e aguardar o efeito do remédio passar”, disse Thuan. 

No hospital, informa o neto da paciente, foi detectada a necessidade de implantação do marca-passo provisório. A primeira tentativa de cirurgia para a colocação do equipamento definitivo ocorreu na segunda-feira (1º). 

“Como a operação teve que ser cancelada, por defeito na máquina, mandaram ela para a unidade do Prado, onde aconteceu o problema mais grave”, comentou. 

Thuan Cesar relata, ainda, que os problemas começaram desde a chegada à unidade, no Recife. ”Não havia documentação dela e a minha avó teve que ficar esperando na recepção”, contou. Depois, a própria idosa relatou aos familiares que não estava sendo bem tratada na unidade. 

“Minha avó disse que as técnicas de enfermagem não querem ficar com ela por causa da gravidade do quadro de saúde e porque ela muito pesada. A gente teve que comprar água, pois ela disse que tem medo de pedir para as enfermeiras”, denunciou.
Hospital Nossa Senhora do Ó fica no Recife

Resposta

A direção do Hospital Nossa Senhora do Ó enviou uma nota para tratar das denúncias feitas pela família de Maria Helena. A unidade, no entanto, não respondeu aos questionamento sobre o fato de a idosa ter sido sedada e aberta na sala de cirurgia. 

O G1 entrou em contato por telefone e a secretária da diretoria disse que mais informações só poderiam ser repassadas na segunda-feira (8). 

Na nota, a direção do hospital informou que Maria Helena Nascimento de Santana foi admitida para um implante de marca-passo, no dia 16 de junho. O procedimento foi marcado para o dia 1º de julho, após os trâmites de autorização do convênio. 

“Dessa forma, o tempo decorrido entre a internação e a data do procedimento se deu em função de procedimentos necessários à avaliação da situação de saúde da paciente e aos trâmites administrativos inerentes”, informou. 

Na nota, a unidade afirma que “não procede a informação relatada de que a enfermagem não tinha conhecimento dos procedimentos relacionados à paciente. Neste caso, será apurado junto à família da paciente o motivo de terem relatado tal situação, a fim de entender o fato”, escreveu a direção do hospital. 

Sobre as denúncias de maus-tratos, o hospital disse que “nunca registrou ocorrências desta natureza e que será apurado junto aos supervisores os possíveis fatos relacionados ao caso.” 

Em relação à transferência para a unidade do Prado, a direção aponta que “foi realizada de forma correta, tendo em vista a necessidade de manutenção de um equipamento na unidade do Janga.” 

O hospital acrescenta que o equipamento existente na unidade do Prado estava em funcionamento até o momento da cirurgia da paciente. 

"No mesmo dia, o mesmo aparelho foi utilizado em uma cirurgia ortopédica. Neste caso, o hospital reitera que realiza manutenções periódicas de seus equipamentos e que esse tipo de ocorrência é bastante raro”, informa. 

Por fim, o Hospital Nossa Senhora do Ó diz que os “fatos ocorridos serão tratados pela administração diretamente com a família, a fim de evitar maiores transtornos à paciente.

G1 

 

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