O médico e prefeito de Uruburetama, no Ceará, José Hilson de Paiva (PCdoB), de 70 anos, há décadas cometia abusos sexuais e os filmava. Ele foi denunciado por, pelo menos, 63 violações sexuais mediante fraude, o mesmo crime pelo qual responde o médium João de Deus.
A denúncia foi divulgada, neste domingo, 14, pelo programa ‘Fantástico’ da TV Globo. Hilson filmou todos os crimes. Nas filmagens, o médico chama as vítimas de “bebê” enquanto comete os abusos.
Os abusos ocorriam em dois consultórios do médico, sendo um deles em sua própria casa. O outro fica no hospital público da cidade, que tem cerca de 20 mil habitantes.
Seis vítimas do médico deram entrevista ao ‘Fantástico’ e relataram histórias semelhantes. Uma delas contou que foi abusada pela primeira vez aos 14 anos e disse só ter voltado a se consultar porque o prefeito também é o único ginecologista da cidade. Os relatos parecidos contam que José Hilson colocava os seios delas na boca e sugava sob o pretexto de identificar se havia secreção nas mamas – que também se repete em praticamente todos os vídeos no qual ele aparece cometendo os abusos.
As imagens foram mostradas para o membro da Associação Médica Brasileira, Diogo Leite Sampaio, que afirmou à reportagem não haver qualquer procedimento médico que se assemelhe ao praticado pelo ginecologista. “Isso é um crime”, resumiu Sampaio.
Relatos
Uma mulher procurou o acusado por não conseguir engravidar. Ela nunca tinha se consultado com um ginecologista antes, pois foi levada a acreditar que aquilo era um exame legítimo. Segundo o relato da vítima, José Hilton a obrigou a fazer sexo oral nele e a pôs apoiada de costas sobre a maca. “Você tem que me enxergar como médico, não como homem”, teria dito ao cometer os abusos. Ela não denunciou à época e precisa fazer tratamento psicológico até hoje.
“Ele me mandou ficar com a boca aberta, a língua para fora e os olhos fechados. Quando eu percebi, ele tinha colocado o pênis dele na minha boca”, denunciou outra mulher.
Durante o tratamento, José Hilson coloca os dedos com gel na vagina das pacientes e faz movimentos sensuais. O procedimento se repete em mais de 40 vídeos. Em muitos deles, ele acaricia e aperta os seios como parte do exame. “Tem que sentir a sensibilidade. Qual tu sente mais, o direito ou o esquerdo?” pergunta.
A manobra favorita do médico era virar as pacientes de costas, enquanto elas permaneciam deitadas, apoiadas na maca. Os vídeos mostram ele abrindo a braguilha e esfregando o órgão genital, enquanto finge estar colocando o dedo ou aparelho médico. Constrangida, uma paciente tenta olhar pra trás para entender o que está acontecendo. Ele intervém, “pode ficar bem retinha, senão atrapalha”.
Além da “aplicação” vaginal, em muitas consultas, ele pedia à paciente para fazer sexo oral nele, método que o profissional chama, nos vídeos, de “aplicação oral”. Uma das mulheres conta que procurou José Hilson, há sete anos, em Uruburetama, porque estava tentando engravidar. Nunca tinha ido ao ginecologista antes.
“Ele disse assim: ‘a gente vai fazer um tratamento’ e pediu pra ‘mim’ fazer sexo oral com ele. Perguntei a ele por quê, né? Ele disse que era o procedimento, que era o que o médico fazia, ele tinha que ver a minha sensibilidade. Ia ser o mesmo procedimento se eu fosse atrás de qualquer outro médico”, conta a vítima. A mulher se recusou a fazer a “aplicação oral”. Com receio de que outro ginecologista fosse pedir o mesmo, não buscou mais tratamento.
Ficha
José Hilson nasceu no Ceará, mas formou-se em medicina no Rio de Janeiro, em 1966. Entre 1989 e 1992 foi prefeito de Uruburetama pela primeira vez. Chegou a virar notícia pelo Brasil por fazer prestação de contas em praça pública. A mulher dele também ocupou a prefeitura.
O prefeito chegou a processar denunciantes por calúnia e difamação e várias delas desistiram do processo. Questionado sobre o caso, Hilson alegou que nunca fez nada forçado, acusou a oposição de querer sujar sua imagem e saiu ao ser questionado sobre as vítimas. “Perguntou demais”, disse, antes de entrar no carro.
A mulher do prefeito também foi questionada se ela teria conhecimento das violações sexuais. Ela limitou-se a dizer: “Eu quero saber que homem não trai a sua esposa”.
A defesa do ginecologista disse ao Fantástico que só soube do caso por “ouvir dizer” e que vai procurar o Ministério Público para saber da veracidade do material.
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