O aposentado João Batista da Silva, de 74 anos, está internado desde o dia 21 de junho, sem ter perspectiva sobre solução para o problema constatado na UPA |
Uma das promessas do então candidato Vinicius Claussen era “resolver os problemas da Upa”, inclusive com um mutirão de serviços que teria a participação do seu vice, o médico Ari Boulanger. Porém, um ano após a eleição da dupla a realidade é praticamente a mesma, tal mutirão nunca aconteceu e a Unidade de Pronto Atendimento Nathan Garcia Leitão continua uma verdadeira bomba relógio. São reclamações diárias em diversas frentes – situações que vão além da competência dos dedicados funcionários da porta de entrada do SUS em Teresópolis, mas que dependem de ações enérgicas e interessadas dos gestores municipais. Nesta terça-feira, estivemos na UPA para registrar a história de mais um teresopolitano que vê sua condição de saúde piorar por conta da incompetência daqueles que prometeram um futuro melhor para quem depende desse serviço público no município. O aposentado João Batista da Silva, de 74 anos, está internado desde o dia 21 de junho, sem ter perspectiva sobre solução para o problema constatado na UPA.
“Meu pai desmaiou, teve convulsão, vômito, todo um processo de AVC, até onde eu achava. Trouxe para a UPA no dia 21, foi bem recebido no primeiro atendimento, sendo indicado para transferência para cirurgia. Até aí tudo tranquilo, mas passou o segundo, terceiro, quarto, quinto dia e nada... E todos os laudos com médico indicando para transferência para cirurgia. Ele chegou a ser levado para o HCT, fez cateterismo e voltou, informando que estava com a próstata elevada, obstruindo canal urina e outras veias, além de pedra na bexiga. Essa é uma cirurgia que acredito que seja simples, mas ele voltou para a UPA. Nisso que estava no quinto dia entrei com liminar para poder operar, conseguir transferir. Aí no mesmo dia 29, quando chega liminar, meu pai recebe alta, como se estivesse tudo bem. E não é isso. Meu pai está de sonda, de fralda, usando remédio na veia. Estabilizou, mas não resolveu problema. Meu pai não tem que ir para casa, tem fazer cirurgia. Ele não deixou de ficar doente. A saúde sofre com esse problema de conseguir transferência, estão dando alta para paciente doente, para quem precisa cirurgia, para um exame mais complexo, manda para casa, fica dois dias, morre e enterra. Esse é o canibalismo, é a violência que está acontecendo aqui dentro”, relata o empresário Luciano Cardinot, filho de João Batista.
Não bastasse a já preocupante situação, infelizmente comum a vários outros pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde em Teresópolis, o aposentado recebeu uma espécie de “ordem de despejo” do leito que ocupa, assinada pela Procuradoria Geral da Prefeitura. "...Vem a Vossa Excelência, através do seu procurador, informar que, conforme memorando de informações da Secretaria Municipal de Saúde,a parte autora teve alta médica, não havendo necessidade de permanecer internado ou ser transferido devido à melhora do seu quadro clínico, mas sua família impede sua saída da UPA.... Desta feita, requer a intimação da parte autora para que deixe as dependências da UPA, em razão da alta médica recebida", informa o documento assinado pelo Procurador Leonardo de Melo Machado. “Nem sei o que falar diante de uma situação dessa, de mandar liberar o leito, de despejar um paciente, de dar alta a uma pessoa doente”, pontua o filho de João Batista.
Posicionamento do governo
Através da Assessoria de Comunicação, no início da tarde desta terça-feira a prefeitura informou que “o sr. José Batista da Silva, internado na Unidade de Pronto Atendimento 24h Teresópolis, recebeu alta para aguardar uma vaga de cirurgia eletiva em casa, uma vez que apresentava um estado de saúde compatível para aguardar essa intervenção cirúrgica em sua residência. Entretanto, neste momento, ele está aguardando a cirurgia novamente na UPA”. Ainda segundo a nota, “O sr. José Batista da Silva foi encaminhado para uma consulta ambulatorial de Urologia e para realização de consulta médica por profissional especialista e exames para risco cirúrgico. A Prefeitura ressalta que não houve e nem há intervenção da Procuradoria Geral do Município em ações relacionadas a transferências de pacientes entre unidades de Saúde. A Prefeitura esclarece ainda que o critério para a transferência para outra unidade de saúde se dá em função da gravidade do paciente, tendo a proteção da vida absoluta prioridade”.
Outros casos na UPA
Não passar do primeiro atendimento ou perder espaço para a doença porque não conseguiu uma transferência para hospital mais qualificado, ou ainda um medicamento adequado, infelizmente são questões rotineiras no tipo de serviço escolhido pelo município para atender interesses políticos do governo estadual com a instalação das UPAs. Há duas semanas, por exemplo, uma criança de apenas três meses teve grande complicação no seu quadro clínico, por bronquiolite, por conta da precariedade da unidade e dificuldade de conseguir ser levada para outra unidade. Somente três dias depois do que deveria, ela foi transferida para hospital especializado em São Gonçalo.
Nas publicações feitas por Luciano Cardinot em redes sociais, dezenas de pessoas relataram situações parecidas. “Amigo, não conte com UPA. Meu avô por duas vezes quase morreu lá.Primeira vez, duas pedras enormes na vesícula, disseram que ele não tinha nada, graças a Deus conseguimos meios de levar no particular, um médico de 30 anos de experiência como cirurgião achou o caso do meu avô tão grave que chamou um outro médico com 50 anos de experiência pra ajudar na cirurgia. Temos as pedras guardadas, absurdamente grandes. Outra vez meu avô chegou infartado lá, mandaram ele pra casa, novamente, ‘não tem nada’. Levamos no particular, infartado a dois dias, internado e cirurgia”, comentou Charles Gallo.
“Por negligência médica quase perdi meu filho, levei ele na UPA com febre baixa de cinco dias a médica disse q era tosse alérgica e mandou para casa. No mesmo dia minha mãe pagou uma consulta para ele e ele estava com tuberculose. Por ser diabético ele piorou muito e ficou dias no CTI. Hoje estou com uma conta hospitalar de R$ 32.000 para paga”, relatou Aline Oliveira . “Desejo toda a sorte do mundo para você e seu pai. Infelizmente com o meu pai eu não tive essa sorte. Quando consegui a transferência, também através de uma liminar, já era tarde demais. Ele faleceu ao chegar no outro hospital. Isso já fazem dois anos e continua a mesma coisa. Sem palavras para resumir o estado da saúde de nossa cidade”, destacou Olegário Moreira.
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