quarta-feira, 10 de julho de 2019

Mais de 50 mil remédios e insumos hospitalares vencidos são achados em Camaragibe

Produtos, avaliados em mais de R$ 1 milhão, foram encontrados em central, segundo administração que assumiu após prisão de prefeito suspeito de corrupção.


Camaragibe desperdiça mais de R$ 1 milhão em medicamentos e em insumos hospitalares

A administração interina da Prefeitura de Camaragibe, no Grande Recife, informou nesta segunda-feira (8) que encontrou mais de 50 mil medicamentos e insumos hospitalares vencidos e impróprios para o uso. Os materiais estão avaliados em mais de R$ 1 milhão. A gestão afastada nega as informações. (Veja vídeo acima)

A denúncia foi feita pela administração de Nadegi Queiroz (DC), que era vice-prefeita e assumiu o cargo por 180 dias, em junho deste ano. Ela passou a comandar a cidade depois da prisão do ex-titular Demóstenes Meira (PTB), suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro.

Insumos hospitalares vencidos foram localizados em central farmacêutica, em Camaragibe, no Grande Recife

Os produtos, segundo a administração de Camaragibe, foram localizados na Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF), ligada à Secretaria Municipal de Saúde. Os lotes expirados estão em dezenas de caixas, no prédio da CAF, no Bairro Novo do Carmelo.

Enquanto produtos deixaram de ser usados e venceram nas caixas, os postos e as unidades de saúde enfrentam o desabastecimento. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os débitos da pasta chegam a R$ 3 milhões.

"Todas as vezes que procuro remédio paras as minhas irmãs, está faltando", afirma a dona de casa Marluce Souza. "Sou cardíaco e hipertenso e não encontro o medicamento há oito meses", acrescentou outro morador da cidade.

Caixas com produtos hospitalares vencidos foram encontradas pela atual administração da Prefeitura de Camaragibe, no Grande Recife

Este é mais um problema registrado pela atual administração da cidade. Na quinta-feira (4), a prefeita interina, que rompeu com Meira em janeiro de 2017, informou que demitiu 410 funcionários que trabalhavam na gestão do prefeito que está preso.

Eles fazem parte da lista 260 comissionados e 150 contratados, que, segundo ela, não foram identificados durante uma auditoria feita no município.

O coordenador da Secretaria de Saúde de Camaragibe, Sérgio Fantini, disse que a equipe se deu conta das caixas com data de validade expirada na sexta-feira (5). Os lotes vencidos incluem soro fisiológico, luvas, cateteres, remédios controlados e antibióticos.

Remédios e materiais hospitalares vencidos foram encontrados em uma central administrada pela prefeitura, em Camaragibe

Também estão nas caixas aparelhos para medir glicose, que estão impróprios para o uso. Cada um custa mais de R$ 300. Algumas ampolas de medicamentos controlados foram achadas em uma lixeira. Um levantamento detalhado ainda está sendo finalizado.

"Para se ter uma ideia, quando assumimos, não havia o mínimo necessário. A gente não tinha sequer soro fisiológico na rede municipal de saúde. Eram menos de 500 ml para toda a rede. E aí achamos uma grande quantidade de soro vencido na Central de Abastecimento Farmacêutico. Uma situação triste e alarmante", afirmou Fantini.

Segundo Fantini, inicialmente, o desabastecimento de remédios e materiais hospitalares era "geral". Na última semana, a Secretaria de Saúde de Camaragibe fez investimentos de R$ 200 mil para assegurar o atendimento nas unidades de maior porte, como o Hospital Municipal Dr. Aristeu Chaves, Cemec Vera Cruz, Maternidade Amiga da Família e Centro de Especialidades Antônio Luiz de Souza.

Medidores de glicose foram encontrados na central farmacêutica, em Camaragibe

Os postos de saúde, entretanto, seguem com problemas em seus estoques. "Faltou gestão. Esperamos normalizar a situação no decorrer desta semana, mas a situação dos postos de saúde nos preocupa", pontua o coordenador Sérgio Fantini.

Outra dificuldade enfrentada foi na hora de adquirir novos medicamentos e materiais hospitalares. Ao se deparar com a ata de registro de preços da Secretaria de Saúde de Camaragibe, a nova gestão se deu conta de que faltavam itens básicos no documento, o que atrasaria ainda mais o processo de aquisição.

Ampolas de remédios foram encontradas em lixo pela administração interina da Prefeitura de Camaragibe, no Grande Recife

Foi preciso realizar uma adesão das atas de outros municípios da Região Metropolitana, como Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho. Quando assumiu a gestão, Queiroz afirmou que faria uma auditoria em todos os contratos contando com o apoio do Tribunal de Contas e da Polícia Civil.

Resposta


Por meio de nota, a gestão municipal afastada de Camaragibe “repudia veementemente as informações da prefeita internina Nadegi Queiroz”. Além disso, afirma que os dados do “suposto descarte” foram repassados de forma “temerária, leviana e caluniosa” e que a denúncia da atual gestora é "infeliz e descabida".

No texto, a gestão diz que não existia nenhum medicamento vencido adquirido na administração de Demóstenes Meira. O gerenciamento do estoque e a distribuição dos remédios “sempre foram realizados pelo Sistema Horus, do Ministério da Saúde”.

Prefeita interina de Camaragibe demite 410 funcionários não identificados em auditoria

Demissões


Na quinta-feira (4), Nadegi Queiroz anunciou a demissão de 410 funcionários que trabalhavam na gestão de Demóstenes Meira. Fazem parte da lista 260 comissionados e 150 contratados, que, segundo ela, não foram identificados durante uma auditoria feita no município. Com os desligamentos, a gestão espera economizar cerca de R$ 1 milhão por mês. 

Segundo Queiroz, os 150 contratados não foram identificados ou localizados. No caso dos 260 comissionados, a maioria também não existia ou não interessava mais à gestão. A prefeita interina disse que eles eram inexistentes ou não foram localizados.

Segundo a gestora, os desligamentos também foram determinados para aumentar o caixa da prefeitura. De acordo com a prefeita, o município dispõe, atualmente, de R$ 3,8 milhões. Enquanto isso, os débitos da prefeitura chegam a R$ 11,8 milhões.

Prefeito de Camaragibe e empresários são presos por corrupção

Polêmicas


Demóstenes Meira e outras quatro pessoas foram presos pela segunda fase da Operação Harpalo, da Polícia Civil, que investiga o superfaturamento de contratos na prefeitura de Camaragibe. A primeira fase foi deflagrada em março de 2019.

O rombo pode chegar a R$ 60 milhões, segundo o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) e a Polícia Civil. Além de Meira, a noiva dele, a cantora Taty Dantas, que era secretária de Assistência Social do município, é investigada. Ela e mais 18 secretários e chefes de órgãos foram exonerados.

Após a deflagração da primeira fase, a delegada Jéssica Ramos, responsável pelas investigações, afirmou que dois funcionários públicos haviam sido ameaçados a mando de Meira por "saberem demais".

No dia 25 de junho, o Superior Tribunal de Justiça (STJnegou o pedido de habeas corpus (liberdade) ao prefeito.

Meira e Taty Dantas se envolveram em uma polêmica após a divulgação de um áudio gravado pelo prefeito afastado, exigindo a presença de servidores comissionados em um show da cantora, na semana pré-carnavalesca. Na mensagem de voz encaminhada para grupos de WhatsApp, ele disse que iria filmar e contar quantos funcionários foram à festa. 

Prefeito de Camaragibe exige presença de comissionados em show da noiva durante prévia

G1

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