Mulher alega negligência médica por parte dos profissionais que a atenderam durante um procedimento de curetagem. Santa Casa informou que o médico fez uso do Protocolo de Atendimento Farmacológico.
Paciente registra boletim de ocorrência contra médicos da Santa Casa de São Roque |
Uma mulher de 37 anos registrou um boletim de ocorrência contra três médicos da Santa Casa de São Roque (SP) por negligência médica. Ela alega que ficou três dias internada no hospital aguardando uma curetagem, porque os profissionais escolheram insistir em um procedimento que não estava fazendo efeito.
Adriana Rodrigues Reis de Andrade conta que, no dia 11 de julho, foi a uma consulta com a ginecologista, que constatou que o feto, que estava com 10 semanas, não tinha batimentos. A médica fez uma carta encaminhando a paciente para a Santa Casa de São Roque para que avaliassem o procedimento necessário.
Em entrevista ao G1, Adriana explica que foi até o hospital, onde foi orientada a voltar para casa e expelir o feto naturalmente.
"No dia 16, senti muita dor e tive febre. Fui até a Santa Casa, mas avisaram que naquele horário não tinha ultrassom e que sem o ultrassom não iriam me internar. Me falaram para pagar um ultrassom e eu fui."
O exame constatou que o feto estava colado na parede do útero e que seria necessário uma curetagem, que consiste na raspagem do órgão. Os médicos então iniciaram o procedimento com o medicamento Misoprostol para forçar a dilatação.
De acordo com o boletim de ocorrência, ela foi atendida primeiramente por um médico, que entrou no quarto já com luvas e realizou o exame de toque. A paciente disse que gritou e pediu que ele parasse, já que estava sentindo muitas dores por conta do medicamento colocado útero.
Médica escreveu carta dizendo que o medicamento não fez efeito e que a paciente deveria fazer curetagem |
Segundo o documento, Adriana perguntou ao médico se não teria outro procedimento menos invasivo e disse ter recebido a resposta de que o médico ali era ele.
O profissional teria saído do quarto e, em seguida, um segundo médico entrou gritando e dizendo que quem decidia os procedimentos eram os médicos e que a paciente não tinha o direito de questionar nenhuma decisão.
Além disso, Adriana conta que o médico disse que, como ela já tinha tido um parto cesária, "estava na hora de sentir dor".
"Depois ele disse que eu tinha outra opção, disse que me levaria para o centro cirúrgico, colocaria um aparelho que poderia ferir meu útero, depois teria que tirar meu útero e eu poderia morrer. Entrei em pânico, comecei a chorar e disse pra ele continuar o tratamento", relata a paciente.
O boletim de ocorrência diz que, durante o tempo de internação, foram introduzidos 12 comprimidos Misoprostol no organismo da paciente e que nenhum exame de ultrassonografia foi feito para acompanhar a evolução do tratamento.
"Eu entendo o procedimento de usar o medicamento. O que eu não estava entendendo era porque estavam forçando tanto se o medicamento não estava funcionando", desabafa.
A técnica de enfermagem conta que, no dia 18 de julho, um terceiro médico teria entrado no quarto para fazer um novo exame. Como ela se recusou, o profissional disse que ela deveria chamá-lo quando resolvesse autorizar o exame.
Depois disso, o marido de Adriana assinou um termo de responsabilidade e tirou a esposa do hospital. Ela foi até um consultório médico e fez um novo exame, que constatou que o feto ainda estava colado na parede do útero e que o Misoprostol não tinha feito nenhum efeito.
A ginecologista fez uma nova carta encaminhando a paciente outra vez para a Santa Casa para que ela fosse levada ao centro cirúrgico e fizesse a curetagem.
Adriana explica que conversou com a diretora da unidade, que pediu que ela fosse até a unidade no dia 19 de julho, em jejum para fazer o procedimento. A diretora teria garantido que ela seria atendida por outro médico e que os três profissionais citados não estariam no hospital.
Moradora realizou exame que constatou que feto ainda estava colado na parede do útero mesmo após medicamento |
Adriana conta que trabalhou na Santa Casa de São Roque há alguns anos e que não imaginava passar por essa situação. "Nasci naquele lugar e, quando mais precisei do lugar que tanto gosto, me trataram como um animal."
O boletim de ocorrência diz que Adriana chegou ao hospital no horário marcado e encontrou no local o primeiro médico que a atendeu. "Ele começou a cantar alto na sala para mostrar que seria ele quem faria o atendimento", conta.
Depois disso, a mulher saiu do hospital e procurou atendimento em um hospital de Itapevi (SP), onde passou por exames e fez a curetagem.
"Agora estou me recuperando fisicamente, mas psicologicamente vai ser um processo bem difícil. Sinto dor até hoje e vou passar por psicólogos. Estava mal, queria muito aquela criança, queria apenas que aliviassem minha dor. Me senti violentada, me senti um lixo", finaliza.
Resposta
Em nota, a Santa Casa de São Roque informou que o médico fez uso do Protocolo de Atendimento Farmacológico, preconizado pelo Ministério da Saúde, no qual é recomendado o uso do medicamento Misoprostol.
A assessoria diz que o remédio é eficaz, apresenta poucos efeitos colaterais e é o procedimento indicado nos casos em que se quer evitar a conduta cirúrgica em abortamentos precoces.
Sobre o comportamento dos médicos, a Santa Casa disse que os fatos que deram origem às queixas estão sendo apurados e que, quando esse trabalho for concluído, a administração do hospital vai tomar as providências necessárias.
O hospital informou ainda que a decisão da paciente de procurar atendimento em outra unidade foi uma preferência dela, já que o médico que estava de plantão não era o que ela esperava.
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