terça-feira, 12 de março de 2019

‘Só conheci minha filha no caixão’, diz mãe de recém-nascida que morreu na Santa Casa em Formiga

Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso. O CRM afirma não ter sido procurado pela Santa Casa do município.


“Só conheci minha filha no caixão”. É o relato da dona de casa Alessandra da Silva, mãe de um dos recém-nascidos que morreram na Santa Casa de Formiga. A Polícia Civil informou na manhã desta segunda-feira (11) que abriu um inquérito para investigar os casos.

As mortes foram registradas na unidade hospitalar em menos de um mês e os partos foram feitos pelo mesmo médico.

A assessoria de comunicação da Santa Casa informou que foi instaurada uma comissão interna de ética e óbitos para apurar se houve ou não alguma negligência por parte do médico e que as providências só serão tomadas após o levantamento interno.

O MG2 procurou o médico responsável pelos dois partos, mas a assessoria da Santa Casa informou que ele não quis gravar entrevista.

O delegado regional do Conselho Regional de Medicina (CRM) em Divinópolis, responsável por Formiga, Eduardo Dias Chula, afirmou à equipe do MG2 que até o momento não foi procurado pelo diretor clínico ou responsável técnico da Santa Casa de Formiga e que lamenta o fato ocorrido.

O CRM poderá abrir uma sindicância para apurar os fatos baseado em uma denúncia formal, que poderá ser enviada para a Delegacia de Divinópolis ou diretamente para o setor de processos em Belo Horizonte.

Relato da mãe


Segundo Alessandra, ela fez todo o pré-natal na instituição e nenhum problema foi diagnosticado. A dona de casa começou a sentir contrações, mas estava com dificuldade em ter o parto normal. Mesmo assim, segundo ela, os médicos optaram por não fazer a cesárea.

"Falou [o médico] que eu era gorda, estava obesa e não podia fazer a cesárea porque poderia pegar uma infecção, uma bactéria por causa da gordura, aí ele [médico] não quis fazer a cesárea", explicou Alessandra.

Segundo o marido de Alessandra, Alessandro Menezes, a cesárea só foi feita após a família fazer um boletim de ocorrência e ele foi proibido de acompanhar o parto.

Alessandra da Silva

"Na porta eles me barraram, não podia entrar. Que só eles [equipe médica] poderiam acompanhar no momento, eu não poderia. Disseram que assim que nascesse iriam me chamar. Eu achei aquilo estranho", disse o pai da bebê.

A menina nasceu com 53 cm e pesando 4,6 kg. No entanto, Alessandra só teve notícias da filha no dia seguinte, após a troca do plantão da equipe médica. No entanto, ela não conseguiu ver a filha no hospital.

"Eu fui ver ela [bebê] na sexta-feira no velório. Aí que eu fui ver ela dentro do caixãozinho. No hospital eles não deixaram eu ver, ela não chorou, não mamou, não fez nada. Eles já saíram com ela correndo e não deixaram eu ver ela dentro do hospital", falou a mãe.

Entre as causas da morte apontadas pela necropsia, estão a falência múltipla de órgãos, distúrbio de coagulação e asfixia perinatal grave.

Segundo caso


O médico responsável pelo parto de Alessandra é o mesmo responsável pelo parto do segundo filho da funcionária pública Simone Antônia Pinto, cujo o bebê morreu após o nascimento na unidade hospitalar.

De acordo com Simone, ela começou a sentir contrações no oitavo mês de gestação, mas ao chegar na Santa Casa foi informada que não poderia fazer a cesárea pois estava com infecção. Ela afirma que ficou três dias internada na unidade sem que os médicos contassem qual era o problema e, só após começar a ter sangramentos e os médicos encontrarem dificuldades para ouvir o coração do bebê, é que a cesárea foi feita. Ela recebeu a notícia da morte do filho ainda no centro obstétrico da unidade.

Simone Antônia Pinto

"Falaram que foi devido a uma infecção que eu dei, mas não tive nem febre. Eu estava com 36,5º, 37º e não tinha febre; [diagnóstico] seria um infecção e ele [bebê] teria que nascer normal", contou Simone.

O recém-nascido ficou um dia na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neo Natal da Santa Casa e não resistiu. A necropsia apontou sofrimento fetal agudo, prematuridade, parada cardiorrespiratória em sala de parto e insuficiência renal aguda. A mãe afirma que só recebeu o diagnóstico do médico após o óbito do bebê.

"O neném não resistiu. Depois de meia hora que ele [médico] voltou e falou que conseguiram reanimar ele [bebê]. Minha bolsa não estava rompida, estava deslocada. Só que eles não me contaram e me deixaram lá".

Inquérito


De acordo com o delegado regional da Polícia Civil em Formiga, Irineu José Coelho, as famílias dos bebês serão ouvidas a partir desta terça-feira (12) e uma necropsia já foi solicitada.

“Já estamos de posse da documentação, do prontuário do atendimento e vamos verificar, através deste inquérito policial, se houve o cumprimento do protocolo médico ou, caso seja constatada a negligência em perícia, qualquer erro por parte do profissional, ele poderá responder por homicídio culposo”, afirmou.

O delegado afirmou ainda que a abertura de um inquérito policial só é possível após o registro de uma ocorrência policial sobre o fato e pediu que, em casos como esse, a polícia seja contactada.

“Se não houver o registro de uma ocorrência policial, o REDs, ou se a família não comparecer à Delegacia para noticiar os fatos, fica mais difícil em razão das peculiaridades. Então a gente pede que caso tenham outros acontecimentos semelhantes, que as pessoas nos procurem para que nós possamos ampliar essa investigação e buscar respostas para esses acontecimentos”, relatou.

Ainda segundo o delegado, o inquérito será concluído em até 30 dias, ficando pendente apenas exames complementares que, conforme Irineu, já estão a cargo do médico legista.


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