terça-feira, 31 de outubro de 2017

Padre faz desabafo sobre atendimento do Hospital Maicé

Após a perda de um familiar, o Padre Valmir Pasa lamentou a ineficácia no atendimento e diagnóstico do paciente


Nesta quarta-feira (25), o Padre Valmir Pasa, atualmente na paróquia de Arroio Trinta, usou o Facebook para expressar a situação desagradável que vivenciou recentemente no Hospital Maicé de Caçador. Após a perda do familiar, Gilson Jose Pasa, de 39 anos, o pároco lamentou o descaso no atendimento de pacientes.

Até o momento a direção do Hospital Maicé não se manifestou sobre o caso. Confira a postagem da rede social do padre na íntegra;

Ainda consternados e profundamente sentidos pela partida do nosso querido e amado Gilson, gostaríamos de agradecer pelas muitas manifestações de apoio, carinho e consolo através das mídias e pessoalmente.

Vivemos um misto de sentimentos. A tristeza da perda, a agonia da dúvida e a revolta da ineficácia no atendimento enquanto doente.

Ainda não sabemos qual enfermidade acometeu nosso irmão. Mas temos certeza do que o matou.

Acusamos as unidades de saúde que atenderam o paciente desde a terça-feira pela ineficiência no diagnóstico e incompetente busca pela causa da enfermidade. Por que não foram solicitados exames? Acusamos a burocracia do hospital que não facilitou o médico especialista cuidar do paciente. Acusamos o relaxo do hospital ao permitir que acompanhantes de outro paciente fumassem no quarto do hospital, ao lado de um paciente com agravado quadro de pneumonia.

Acusamos a indolência de parte da equipe de enfermagem inerte, apática e indiferente. A falta de educação em cada vez que solicitada para algum procedimento. Poderiam se orientar pelo exemplo da equipe da emergência, tão poucos e tão atuantes.

Acusamos a falta de amor, acolhida, cuidado, consciência e responsabilidade das irmãs dos Santos Anjos e a equipe de administração. Lembramos o que diz o Evangelho: “a quem é dado muito, é cobrado muito!” A vocês foi dada a missão de salvar. Nos questionamos sobre como têm cumprido sua vocação. Por mais que saibamos que precisam ser rigorosos na administração e gerenciamento de receitas e despesas, empenhem-se, de igual forma e com o mesmo entusiasmo, na humanização do Maicé.

Acusamos a negligência médica e a falta de humildade do plantão em não passar o caso para especialistas. Acusamos a falta de médicos no Maicé e a aparente máfia que impede que outros médicos atuem. Acusamos a falta de respeito do médico na fala: “os sinais vitais dele estão melhores que os meus!”. Onde esse médico foi velado e enterrado?

Enquanto perdíamos nosso Gilson, presenciamos falta de maca, de pessoas, o que fez com que a recepcionista da emergência solicitasse nossa ajuda para carregarmos um paciente, em estado grave, até o interior do hospital. Presenciamos várias ambulâncias chegando com pacientes em situação de urgência, outros pacientes no internamento sem ter quem os atendesse e o único plantonista esgotado, ineficaz e desorientado.

Ressoarão em nossos ouvidos os apelos dos funcionários do hospital como um pedido de ajuda. Um grito de socorro por não suportarem mais o que acontece ali todos os dias. Surpreende-nos seus depoimentos da arrogância dos médicos ao ponto de outros profissionais da saúde identificarem um deles pela alcunha “cavalo”.

Concluímos que o Hospital Maicé de Caçador não precisa apenas de leitos, aparelhos e equipamentos de última geração e alta tecnologia. Precisa mais e urgentemente de cuidadores responsáveis, profissionais da saúde rigorosamente éticos e que amem a sua vocação.

Desejamos que o cuidado seja o mesmo para pobres e ricos. Que o tratamento pelo SUS não seja regrado pelo abandono até a ânsia da morte com o intuito de obrigar as famílias recorrer aos custeio das altas despesas.

O Gilson é amado e querido por nós, sua família e seus amigos. Sua morte é a nossa dor. Mas quantos e quantas já foram vítimas da mesma irresponsabilidade. Quantas vezes já ouvimos a frase: “só não me internem no Maicé”. Esta frase ganha sentido quando alguém próximo da gente se torna vítima. Imagino que haja muitas verdades por detrás destas palavras que nós mesmos não sabemos. Se você sabe e quer que essa mortandade acabe, junte-se a nós pela campanha por mais ética e em favor da humanização do Maicé, para que alguém de sua família ou você próprio não seja mais uma vítima deste descaso.

Padre Valmir Pasa
Mestrado em Bioética

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