No tratamento geriátrico, nem sempre o mais é melhor. E, na tomada de decisões para o tratamento de pacientes com várias comorbidades, como geralmente são os maiores de 60 anos, é preciso analisar os prós e contras dos tratamentos disponíveis, levando em perspectiva a qualidade de vida do paciente. Essas foram as principais conclusões da conferência e da mesa redonda realizadas na manhã desta quinta-feira (9), no II Fórum de Geriatria, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília.
Na abertura do II Fórum, o presidente em exercício do CFM, Mauro de Britto Ribeiro, saudou os geriatras brasileiros e reafirmou o compromisso da autarquia de trabalhar em parceria com as sociedades de especialidades e ressaltou a importância do II Fórum para o fortalecimento da geriatria. Já o coordenador da Câmara Técnica de Geriatria, Aldemir Soares, reforçou a necessidade da formação de mais especialista. “A sociedade brasileira está envelhecendo e não temos especialistas em número suficiente para atender a população, o que atrapalha o próprio desenvolvimento da especialidade”, afirmou. O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), José Elias Soares Pinheiro, adiantou que, devido ao envelhecimento da população brasileira, no ano que vem será proposto no congresso da entidade a extensão da geriatria para outros especialistas.
Choosing wisely – O professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do programa de residência médica em geriatria do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Renato Gorga Bandeira de Mello, deu uma conferência sobre os princípios do Choosing Wisely, definido por ele como um grupo de médicos preocupados em oferecer o tratamento mais sábio para o paciente, que nem sempre é o mais caro, nem o que usa mais procedimentos.
O Choosing Wisely começou em 2012 nos Estados Unidos a partir da percepção de que a falta de sabedoria na medicina é muitas vezes expressa na utilização exagerada ou inapropriada de recursos, indo ao encontro do paradigma de que menos é mais. Na sua apresentação, Bandeira de Mello apresentou os cenários da prática médica hoje, as causas que levaram a uma solicitação exagerada de exames e uma hipermedicação e as consequências do uso inadequado de produtos e tratamentos.
Entre essas consequências estão tratamentos nocivos, excesso de radiação e erros diagnósticos, com perda de foco em relação ao real problema do paciente. Segundo o conferencista, apesar de nos últimos anos ter ocorrido, por exemplo, um aumento no número de diagnósticos de casos de próstata, a mortalidade pela doença não diminuiu. Diante desse quadro, a choosing wisely propõe que as sociedades de especialidade sugiram procedimentos que não devem ser solicitados. Em cardiologia, por exemplo, os especialistas norte-americanos recomendaram a não realização de pesquisa de isquemia miocárdica de rotina em indivíduos assintomáticos. A apresentação de Bandeira de Mello pode ser acessada aqui.
Decisão compartilhada – O professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) e membro da Câmara Técnica de Geriatria do CFM, Paulo José Fortes Villas Boas, abriu a mesa redonda sobre “Decisão compartilhada: médico – paciente ou responsável”. Em sua fala, Villas Boas discorreu sobre os modelos da relação médico-paciente e defendeu que a decisão sobre a adoção de um tratamento seja tomada a partir de um diálogo entre o paciente e sua família. “A adesão será maior e os resultados serão otimizados”, afirmou. Acesse aqui a apresentação de Paulo Villas Boas.
Em seguida, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e criador do grupo de estudos Mais Evidências, Reginaldo Aparecido Valacio, falou sobre a necessidade de o médico ouvir o paciente. “Está evidenciado que a sociedade quer participar das decisões e quer transparência. É assim na política e na relação médico-paciente”, defendeu.
Valacio propôs alguns caminhos que devem ser seguidos pelo médico para que seja alcançada a decisão compartilhada. É preciso trabalhar junto para que seja alcançado o melhor para o paciente; não deve haver um fechamento de questões; as informações devem ser repassadas de forma detalhada e a decisão deve ser focada no que for melhor para o paciente. “Muitas vezes o médico aspira a excelência, mas poucos pensam no que o paciente almeja”, observou Valacio. A apresentação do professor da UFMG pode ser acessada aqui.
O preceptor de clínica médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e mestrando nessa mesma instituição, André Soares de Moura Costa, apresentou exemplos de casos clínicos em que a decisão sobre o melhor tratamento pode ser compartilhada. “Em algumas situações, o médico deve tomar a decisão, como o tratamento de pneumonia com antibióticos, mas em outras devemos mostrar as alternativas ao paciente”, afirmou. Ele mostrou o exemplo de um homem de 62 anos que estava com estado depressivo, que precisava de antidepressivos. “Não se discute a necessidade do tratamento, mas devem ser dadas alternativas, levando em conta aspectos como outras doenças pré-existentes e até a situação financeira do paciente”, exemplificou. Acesse, aqui, a apresentação de André Costa.
Ao encerrar as atividades da manhã, o presidente da mesa, Marco Polo Dias Freitas, argumentou que ao se falar na mudança de paradigma na relação médico-paciente está-se falando dos princípios da bioética, “de se respeitar a autonomia do paciente, da beneficência e não-maledicência”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário