quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Polícia cogita pedir exame de sanidade mental para falso médico e diz que ele foi autorizado a circular no HC da Unicamp

Jovem de 19 anos é suspeito de ter cometido falsidade ideológica e caso também é investigado pelo Cremesp. HC diz que crachá foi roubado e planeja mudança em sistema de segurança do hospital.

Jaleco apreendido com falso médico do HC da Unicamp (Foto: Reprodução / EPTV)

Polícia Civil estuda solicitar à Justiça um exame de sanidade mental para o falso médico detido por policiais militares dentro do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, na terça-feira (7). Segundo o delegado responsável pelas investigações, Cássio Biazolli, não está esclarecido o que Vitor Sabino Nunes fazia na unidade e a corporação apura como ele recebeu um jaleco e foi autorizado a circular pelo local.

"Ele disse que nunca atendeu pacientes, gosta da área médica e pretende se formar na área. Além disso, afirmou que exibia carteira e entrava autorizado [no hospital]", explica o titular do 7º Distrito Policial sobre o depoimento prestado pelo rapaz de 19 anos. Nunes foi liberado após ser ouvido e, de acordo com Biazolli, ele não mencionou como conseguiu o crachá de acesso - que estava inativo. A unidade médica, por outro lado, divulgou na tarde desta quarta-feira que o item foi roubado.

O delegado diz que a corporação não identificou, até a tarde desta quarta-feira (8), pacientes atendidos por Nunes. O HC da Unicamp também alega que, entre as fichas registradas nas últimas duas semanas, não foram encontrados procedimentos ligados ao jovem. A Polícia Militar, por outro lado, diz que uma denúncia indicou a presença do jovem no hospital neste período, incluindo dez plantões na área cirúrgica, prescrição de medicamentos em consultas e atuação na emergência.

O pedido para avaliação médica do suspeito, pondera Biazolli, pode ocorrer apenas após conclusão da fase de depoimentos e se houver dúvidas. "É preciso montar um quebra-cabeça para saber o que aconteceu, vai ser verificado se ele tinha consciência do que estava fazendo. O ato, em si, não é normal", falou o policial ao destacar que, por enquanto, não recebeu informações ou provas de lucros obtidos pelo rapaz a partir desta conduta ou de prejuízos causados por ele aos pacientes.

O G1 não conseguiu localizar a defesa de Nunes até a publicação desta reportagem.

Caso de falso médico no HC será apurado pelo 7º DP de Campinas (Foto: Reprodução / EPTV)

Dúvidas

Entre as testemunhas já ouvidas pelo delegado está um médico que também se chama Vitor e teve carimbo com registro do Conselho Regional de Medicina (CRM) usado pelo suspeito, de acordo com a PM. Uma prescrição de medicamento, incluindo erro de português, foi apreendida no alojamento onde Nunes foi detido. "O médico disse que só deu pela falta do carimbo ontem e afirmou que desconhece ele [Nunes]. Não localizamos o carimbo", afirma o policial sobre uma das incógnitas.

Biazolli conta que também já foram ouvidos PMs que participaram da ocorrência, parte da equipe de segurança do HC e o médico responsável pelo gerenciamento do setor de emergência. De acordo com ele, a Polícia Civil ainda ouvirá outras testemunhas para verificar como Nunes obteve um jaleco e conseguia circular pelas áreas do hospital da Unicamp.

"Ele entrou autorizado, não foi pulando o muro, e teve autorização para receber roupa", destaca.

O delegado não comentou sobre o dever dos diretores do HC verificarem documentos e currículo dos profissionais que atuam no local, segundo apontamento feito pelo Conselho Regional de Medicina do estado (Cremesp). A autarquia abriu uma sindicância para investigar o caso.

"Estamos aguardando o relatório do setor de investigação da Unicamp", concluiu Biazolli ao mencionar que o inquérito deve ser concluído no prazo de 30 dias.

Mudanças

A assessoria do HC informou que caberá à Polícia Civil apurar como o suspeito conseguiu o crachá para entrar no local durante dez dias. Além disso, reforçou que o hospital fará mudanças no sistema de segurança: atualmente, segundo o hospital, quem alega ter perdido o crachá passa por um sistema de conferência de documentos e assinatura de termo, porém, a expectativa é de que a unidade passe a contar com um sistema de biometria e um banco de dados também será usado.

De acordo com o hospital, a receita apreendida pelo jovem foi entregue para um funcionário do HC que desconfiou do rapaz e não comprou o medicamento indicado, informou a assessoria. Ainda segundo o hospital, o trabalhador auxiliou na identificação de Nunes na área médica.

Uma das suspeitas da sindicância do HC é de que o rapaz tenha atuado como falso terapeuta. Porém, a Faculdade Anhanguera de Campinas informou que o rapaz esteve matriculado no curso de graduação oferecido no Taquaral somente entre 30 de agosto e 20 de setembro de 2016.

"No momento da abordagem ele se reservou ao silêncio", falou o PM Adriano Ferreira de Souza.

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