quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Não se justificava o raio X’, diz diretor do Hospital da Posse sobre menino que teria morrido com pneumonia

Na terça-feira (28), os pais da criança deram queixa à polícia sobre o caso. Eles acusam de negligência o Hospital da Posse e a UPA de Cabuçu.

Pais de Diogo Vinicio mostram as fotos do filho, reveladas após a morte da criança
(Foto: Patricia Teixeira/G1)
Apesar da denúncia dos pais de Diogo Vinício, de 5 anos, de que um exame poderia ter salvo a vida do menino, o diretor do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, afirmou que o pedido de raio X não se justificava. No dia 2 de novembro, a criança morreu no Hospital Carlos Chagas, em decorrência de pneumonia, choque séptico e convulsão.

“O exame da criança feito pela pediatra sem alterações. Não se justificava o raio X. De todo jeito, a decisão da direção, logo que soube, determinou a abertura de sindicância e o encaminhamento do caso para a Comissão de Ética, para que seja avaliado”, explicou Joé Gonçalves Sestello.

Na terça-feira (28), os pais da criança deram queixa à polícia sobre o caso. Eles acusam de negligência o Hospital da Posse e a UPA de Cabuçu, também em Nova Iguaçu.

Imagens gravadas pelos pais na UPA mostram o atendimento à criança, com o menino passando mal.

Luta por atendimento

A luta para tentar salvar a vida da criança começou no dia 15 de outubro, na UPA de Cabuçu em Nova Iguaçu, após o menino ter dado entrada no local com forte febre e crise de convulsão.

Com a alegação de que a máquina de raio-x estava quebrada e que o pulmão da criança estava limpo, Diogo foi apenas medicado e, em seguida, liberado. No dia 26, o menino voltou a ter febre alta, convulsões e foi para o Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse), onde a família recebeu a informação de que o menino estava sem nenhum quadro grave. Mais uma vez, ele foi liberado sem fazer raio-x.  

Um dia depois, vendo que o filho tinha piorado muito, a mãe da criança, Deiviane Alves, e o pai, Diogo de Oliveira, voltaram para a UPA de Cabuçu, onde, novamente, ouviram que o pulmão dele estava "totalmente limpo".

"A médica da Posse disse para mim: 'Pai, não precisa fazer raio X. Só fazemos quando percebemos que é algo grave'. Mesmo eu explicando que ele estava com febre alta há dias, catarro e com o pulmão roncando muito, ela não quis fazer. Meu filho morreu dias depois", contou o pai da criança.

Apenas no Hospital 21 de Julho, em Queimados, no dia 31 de outubro, que Diogo fez o raio-x, mas seu quadro já era muito grave e o local não tinha condições para tratar o menino.

Os pais do menino alegam que o Hospital da Posse disse que não tinha vaga para receber a criança de volta e, somente após uma ordem judicial, o menino foi transferido para o Hospital Carlos Chagas, onde morreu.

Sonhos que ficaram para trás

O G1 esteve na UPA de Cabuçu e comprovou que a máquina de raio-x está quebrada. Um funcionário da unidade explicou que a máquina está há cinco meses sem funcionar.

"O médico que recebeu meu filho no Carlos Chagas disse que se ele demorrase mais 5 minutos, morreria dentro da ambulância. Levei meu filho numa ambulância que não tinha balão de oxigênio, não tinha espaço e sem recurso algum. Meu filho ficou convulsionando 11 horas direto, em estado gravíssimo", acrescenta Diogo Oliveira.

Os sonhos do pequeno Diogo ficaram para trás. "Meu filho era uma criança levada, gostava de brincar, falava com todo mundo, muito simpática", lamenta Deiviane, emocionada.

"Ele era uma criança pura, indefesa. Só precisava de ajuda e não quiseram ajudar a gente. Nossa família está destruída", acrescenta o pai.

Procurada pelo G1, a Secretaria Estadual de Saúde informou que lamenta a morte do paciente. Veja abaixo a nota na íntegra.

A Secretaria de Estado de Saúde informa que lamenta a morte do paciente Diogo Vinicio Alves Pinto. A SES ressalta que a direção da Unidade de Pronto Atendimento informou que o paciente deu entrada na unidade no dia 27/10, foi acolhido e avaliado pela equipe médica. A criança passou por exames laboratoriais que não apresentaram sinais de quadro infeccioso. O paciente foi liberado com orientação.

Após cinco dias (01/11) o paciente deu entrada no Hospital Estadual Carlos Chagas com quadro de insuficiência respiratória. Foi avaliado pela equipe médica, internado em unidade de terapia intensiva, acompanhado e medicado. No dia seguinte a criança evoluiu para óbito.

Quanto à solicitação de cópia do prontuário, o responsável legal deve se dirigir ao setor de documentação médica da unidade e protocolar a solicitação.

Já o Hospital da Posse informou que a direção abriu uma sindicância para investigar os fatos.

A direção do Hospital Geral de Nova Iguaçu informa que, assim que tomou ciência do caso, abriu uma sindicância para investigar os fatos alegados. E, nesta segunda-feira (27/11), o Conselho de Ética Médica será notificado. Desde já, a direção se coloca à disposição da família para prestar esclarecimentos.


Por Lívia Torres e Patrícia Teixeira, G1 Rio

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