Impacto de esquemas e desvios de verbas na área foi tema abordado pelo juiz Federal Roberto Veloso no 1° Congresso Médico Unimed Fortaleza
Junto à educação, a saúde está entre os principais alvos da corrupção no Brasil. Os esquemas de fraudes e desvios de verba abriram um rombo de R$ 20 bilhões no setor, só em 2016, afirma o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso. Ele se baseia em estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
"R$ 69 bi É o valor do prejuízo causado pela corrupção, como um todo, no Brasil em 2016"
O montante que, obrigatoriamente, deveria ser utilizado na construção/manutenção de hospitais, compra de novos equipamentos ou contratação de médicos para melhor atender a população é “altíssimo”, alertou o magistrado em palestra que ministrou no último sábado, 3, durante o 1º Congresso Médico Unimed Fortaleza, no Centro de Eventos.
“A saúde e a educação são mais vulneráveis porque são áreas em que há recursos obrigatórios, constitucionais. As pessoas corruptas não têm coração e veem nisso uma oportunidade de desvio”, disse, lembrando que a licitação manipulada e a ausência de licitação estão entre as práticas mais comuns de corrupção atrelada à saúde.
Com o uso de dinheiro público para atender interesses individuais, emendou, gestores públicos comprometem o fomento à educação, atingindo mais uma vez a saúde. “As pessoas estão sem educação no Brasil, onde se matam 50 mil pessoas por ano. Dessas, quantas não foram baleadas ou esfaqueadas e estão nas filas, enchendo os hospitais?”.
“A ponta do iceberg”
Considerando todos os setores, a pesquisa aponta que cerca de R$ 69 bilhões foram desviados ano passado pela corrupção no País, valor que corresponde a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Entre 2014 e 2017, período em que a Polícia Federal deflagrou diversas fases da Operação Lava Jato, os investigados são acusados do desvio de cerca de R$ 6,4 bilhões.
“Mas se você for verificar o que a Lava Jato apurou, isso é só a ponta do iceberg; existe muita coisa a ser apurada”. Lembra também que o próprio Grupo JBS, pertencente aos irmãos Joesley e Wesley Batista, delatores-chave da operação, fechou acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões com o Ministério Público Federal (MPF). “Então, ainda há muita coisa por vir”.
Para Veloso, a corrupção é “nociva, endêmica” e, de fato, sempre teve lugar no Brasil. A diferença é que atualmente está mais exposta, já que a imprensa dispõe de maior liberdade para divulgá-la. E, ainda, porque a magistratura e o Ministério Público contam com garantias que possibilitam a investigação e condenação dos corruptos.
Embora não haja uma saída imediata para cessar as irregularidades, sugere como melhor solução o apoio da sociedade brasileira às operações em curso. “É importante apoiar o trabalho do Ministério Público, da Justiça Federal e da Polícia Federal, seja por redes sociais, manifestações públicas ou iniciativa popular de leis. E com a escolha de representantes dignos em 2018”.
“Dever cumprido”
Presidente da Unimed Fortaleza, João Borges afirma ter encerrado os três dias da primeira edição do evento – que reuniu 1.098 profissionais da área da saúde - com “a sensação de dever cumprido”. E que a escolha da palestra sobre a corrupção no Brasil e seu impacto na saúde não se deu ao acaso. “A nossa gestão é muito pautada pela transparência e a gente queria concluir o congresso com uma palestra dessa monta porque traz uma atualidade muito grande e porque é momento de refletirmos”.
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