Pronto-socorro do Hospital São Paulo, na zona sul da capital paulista
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Um dos maiores hospitais públicos do Brasil ameaça fechar as portas e o governo de Michel Temer parecer fingir que nada está acontecendo.
Desde o início do mês, o Hospital São Paulo suspendeu cirurgias e passou a atender só casos de urgência e emergência. Mais de 14 mil pessoas ficaram sem atendimento no pronto-socorro e outras 461, sem internação.
Pacientes se amontoam nos corredores e esperam dias por atendimento. Alguns, que aguardavam por cirurgia eletiva, estão sendo dispensados. Dona Teresa, por exemplo, está com o joelho quebrado. Ficou 37 dias internada esperando a cirurgia que não aconteceu. Saiu de lá com gesso, na cadeira de rodas, sem prazo para voltar.
Famílias estão tirando dinheiro do próprio bolso para comprar remédios (antibióticos, por exemplo) para os parentes internados. Estão faltando materiais básicos, como gaze, esparadrapo, seringas e fraldas para os pacientes.
Esse caos tem sido mostrado pelas TVs quase que diariamente. Nesta quarta (19), o superintendente da instituição, José Roberto Ferraro, disse em entrevista coletiva que o hospital federal deve fechar as portas se o governo Temer não aumentar os repasses.
A crise não ameaça só a assistência. O ensino e a pesquisa também estão sob risco. O Hospital São Paulo tem o maior programa de residência médica e multiprofissional do país.
Há hoje 730 pesquisas clínicas em andamento, como as sobre o vírus da zika, de infecções por fungos de difícil tratamento, doenças metabólicas infantis, hepatite, câncer, transplantes de órgãos, entre outras.
Esse tipo de conhecimento, como bem pontuou Soraya Smaili, reitora da Unifesp, não pode ser desperdiçado. Se as pesquisas forem interrompidos, vão precisar de décadas para serem recuperadas.
Mas como a situação chegou a esse ponto? Como o hospital acumulou uma dívida de R$ 160 milhões? Ferraro diz que de 2010 a 2016, a inflação e os dissídios salariais acumulados, representaram quase 60% de aumento nos gastos sobre a tabela de procedimentos e do contrato com o SUS.
Isso acabou gerando um aumento obrigatório de 60% nos gastos, e um deficit mensal de até R$ 3 milhões. Esses deficits foram se acumulando, a instituição buscou empréstimos bancários, gerando uma dívida que hoje está em torno de R$ 149 milhões, além de R$ 11 milhões.
Além da inflação da saúde, que costuma ser quase o dobro da inflação oficial, ou seja, muito superior aos reajustes da tabela SUS, o hospital registrou aumento da demanda de pacientes que antes tinham planos de saúde e agora estão batendo na porta do SUS. A crise atinge também outros hospitais federais.
O Ministério da Saúde diz que está estudando a situação e eventuais soluções. Quase um mês se passou desde que o caos no Hospital São Paulo eclodiu. Nesse período, a diretoria da instituição já se reuniu com o ministério três vezes, sem sucesso.
Não há mais tempo. O joelho da dona Teresa não pode mais esperar. Se há dúvidas em relação à gestão dos recursos e dos gastos do hospital, que seja feita uma rigorosa apuração como a que ocorreu na Santa Casa de São Paulo.
O que não pode continuar é essa situação de maus-tratos com os pacientes e com os profissionais da saúde que trabalham no Hospital São Paulo. Médicos e pessoal da enfermagem estão no limite da exaustão e sofrendo até violência física por parte de familiares dos doentes, inconformados com a situação.
Os alvos dessa inconformidade deveriam ser outros. As delações da Operação Lava Jato dão o caminho das pedras.
Cláudia Collucci
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