terça-feira, 27 de junho de 2017

Muito sofrimento e morte: família pede que profissionais de saúde tenham “amor”


O inchaço no pescoço de Claudia assustou a filha que percebia que a mãe não estava nada bem


A família de Claudia Lucia Pereira Neves tem buscado, há um mês, respostas sobre o que consideram, numa primeira impressão, descaso e talvez, negligência, por parte de profissionais da saúde, que podem ter resultado na morte de Claudia, que tinha 47 anos. Uma história triste e que deixou órfãs duas filhas. Stefânia Gabriela Neves da Silva, a mais velha, tem percorrido vários lugares buscando o que considera Justiça, mas se diz sem esperança. “Quero providências, mas esperança que aquilo lá vai melhorar? Sinceramente? Não tenho não”. Stefânia se refere ao Hospital de Emergência de Resende, onde sua mãe entrou na noite do dia 27 de abril engasgada com um pedaço de carne e depois de alguns procedimentos, alta e retorno ao hospital, a mãe de Stefânia ficou 22 dias internada no CTI, onde morreu no dia 20 de maio.
 
— Estou aqui pedindo providências, principalmente pela forma que minha mãe foi tratada. Foi muito sofrimento, muita dor e descaso, desabafou Stefânia na reunião do Conselho Municipal de Saúde, dia 20 de junho. Stefânia relatou que requisitou o prontuário da mãe e procurou a Ouvidoria do Hospital de Emergência e, por quase um mês, aguardou a resposta, sem sucesso. Foi procurar novamente a Ouvidoria e ouviu que a resposta à sua denúncia só sairia em agosto. Indignada, ela e a prima decidiram procurar o Conselho Municipal de Saúde que acolheu sua denúncia e iniciou uma apuração das circunstâncias que envolveram atendimento e morte da mãe.
 
Stefânia contou que chegou na manhã do dia 28 para ficar com a mãe e se assustou com o inchaço na região do pescoço, a mãe não conseguia engolir, muitas dores e tinha dificuldades para respirar, me falou que nenhum médico passou para vê-la. “Saí a procura de um médico e encontrei a dra. Gabriela que informou que minha seria transferida para a Santa Casa para fazer o exame”, conta a filha. No relato, o primeiro atendimento, na noite do dia 27, constatou que precisava de uma endoscopia, mas ficou para o dia seguinte. “Minha mãe sofreu muito. Minha mãe passou a noite toda com muita dor.
 
 No dia seguinte foi uma tortura. Acompanhei minha mãe até a Santa Casa e lá depois de 40 minutos dentro da sala, a médica sai e diz que tentou e não conseguiu fazer o exame porque minha mãe estava muito agitada e que precisou de várias pessoas para a segurarem. Minha mãe contou que uma enfermeira subiu em cima dela. O que é isso? A médica me tratou muito mal”. No laudo fornecido pela médica Gabriela Pereira, que presta serviço para o SUS, na Santa Casa com este tipo de exame, a profissional confirma que precisou levar Claudia para o centro cirúrgico e chamar o anestesista para realizar o exame. A médica adiantou ao BEIRA-RIO que é uma injustiça apontar descaso no seu procedimento e que prefere se pronunciar melhor, depois que ler o documento que a família entregou aos conselheiros municipais de saúde.
 
De volta para o Hospital de Emergência, Claudia teria recebido alta, mas Stefânia relata que o médico não a viu e continuava passando muito mal; tinha dificuldades para respirar e continuava com as dores. “As dores pareciam que tinham piorado, questionei a alta e pedi pelo amor de Deus para deixarem ela ficar lá. A enfermeira cedeu. Começou a passar mal e pedia a enfermeira para chamar o médico, mas dizia que não podia, ora porque o médico estava ocupado, ora porque dormia e que minha mãe já estava de alta. Até que comecei a pedir muito quando veio dr Sérgio que quando viu minha mãe, falou de uma forma ríspida ‘o que está fazendo aqui ainda, você já teve alta’. Nunca vi tanta falta de acolhimento. Foi de uma falta de educação, ríspido, amassou a alta e foi chamar outro médico. A enfermeira Gilcimara até pediu para eu não ligar para a situação porque o médico estava estressado e eu e minha mãe o que temos com isso? Veio então o dr. Flávio que nos atendeu bem, passou remédio para minha mãe dormir e passou um Raio X, porque a enfermeira Gilcimara insistiu e eu também. O técnico na Radiologia disse que o exame precisava ser repetido porque minha mãe não conseguia encher os pulmões e considerou preocupante o que via e sugeriu uma tomografia. Entrei em desespero. O médico não veio ver o Raio X, minha mãe passou mal a madrugada inteira e a enfermagem não chamou o médico. Pela manhã chegou o médico Fernando, expliquei tudo a ele, mas também não viu o Raio X, me disse que era normal o que ela estava sentindo e passou só mais um remédio e deu alta. Levei minha mãe para minha casa”, descreve com lágrimas Stefânia que mora em Quatis e contou que as dores da mãe não passavam e a levou então no Hospital São Lucas naquele município.
 
— O caso era tão grave que o médico lá de Quatis veio junto com a minha mãe, do São Lucas de volta para o Hospital de Emergência. Ele viu que ela não estava nada bem. A partir daí foi muito triste, minha mãe dizia que ia morrer e ela morreu. Foi para o CTI e então constataram que o esôfago dela estava perfurado. Quando isso aconteceu? Fez cinco cirurgias, sofreu muito e no dia 20 de maio ela morreu. Depois da denúncia no Conselho de Saúde, no dia seguinte o hospital ligou para Stefânia e disse que a resposta à sua reclamação estava disponível.
 
O Hospital de Emergência por meio da Direção Clínica entregou à filha de Claudia um documento que informa que foi aberto processo administrativo para apurar os fatos e vai ouvir todos os envolvidos. O secretário de saúde, Alexandre Vieira confirmou a apuração e que será feita com celeridade: “A Secretaria de Saúde se solidariza com a dor dos familiares e já determinou a abertura de processo de sindicância para análise dos procedimentos no caso citado e o resultado será enviado à solicitante e ao Conselho Municipal de Saúde na maior brevidade possível”.
 
— Minha mãe era uma mulher alegre, vivia com um sorriso no rosto. Eu quero conversar com eles, sabia? Olhar para eles e pedir que tenham mais amor. Foi muito descaso, faltou contraste para minha mãe fazer exame, faltou respeito, atenção, acolhimento. Do CTI não posso reclamar, mas minha chegou só engasgada, deram alta e só depois de 48 horas que viram esôfago perfurado? Vou procurar ajuda de todo mundo. Eu e minha prima fomos no Conselho e vamos onde tiver que ir para que não façam nunca mais isso com ninguém, Stefânia fala decidida a levar o caso ao conhecimento também do Ministério Público e do Conselho Regional de Medicina.
 

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