sexta-feira, 9 de junho de 2017

Médica é demitida após não prestar socorro a bebê de 1 ano, que veio a morrer

 

Breno tinha um ano e seis meses e sofria de epilepsia
 Foto: Arquivo pessoal

A médica que não socorreu o bebê Breno Rodrigues Duarte de Lima, de 1 ano e sete meses, foi demitida da Cuidar Emergências Médicas, que presta serviços para o plano de saúde Unimed-Rio. Haydee Marques da Silva foi acionada na manhã de quarta-feira para prestar atentimento à criança, que sofria de uma doença neurológica. Ela chegou com a ambulância no condomínio da família, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, mas foi embora com o veículo sem ver o menino, que morreu 1h30 depois.
 
"É uma médica que atua como prestadora de serviços em nossa empresa, há cerca de 2 anos, sem que, até a presente data, apresentasse qualquer tipo de problemas na ordem técnica e comportamental. É uma profissional treinada e habilitada para atendimentos emergenciais, com formação em anestesia. Esclarecemos que no momento não estamos divulgamos nome e CRM da médica por orientação do Cremerj. Estamos apurando o ocorrido, ressaltando que a colaboradora foi afastada de suas funções de modo definitivo. Outrossim, reiteramos o nosso repudio a atitude apresentada pela profissional", diz nota da Cuidar Emergências Médicas.
 
Um vídeo gravado por câmeras de segurança do prédio mostra a médica, dentro da ambulância, rasgando papéis que seriam a guia de internação de Breno. De acordo com o pai da criança, funcionários do condomínio ouviram a profissional gritando que já tinha passado de seu horário e que por isso não iria atender à criança.

— Me falaram que ela gritava que já tinha passado do horário dela e que não era pediatra - disse o pai da criança.

O bebê sofria de uma doença neurológica que provocava epilepsias de difícil controle. Nesta quarta-feira, ele apresentou problemas de digestão, e a ambulância foi chamada para transportá-lo ao hospital.
 
O pequeno Breno morreu às 10h26 desta quarta-feira. O primeiro chamado para a ambulância havia sido feito às 8h20. O socorro chega ao local por volta das 9h10 e sai às 9h13. As imagens do circuito interno mostram o horário de saída como 10h13. Segundo Felipe Duarte, o computador estava com horário de verão. Ainda de acordo com ele, o socorro foi chamado pela primeira vez pela pediatra responsável pelo tratamento de Breno.
 
— Ele ficou sete meses internado depois do nascimento. Depois, veio para casa com o home care. Tínhamos enfermeiras 24 horas por dia dando assistência. A epilepsia dele era de difícil controle, mas vinha apresentando melhoras. Já havíamos até dado entrada na Anvisa para a liberação do canabidiol para auxiliar no tratamento. Por causa das regras do home care, não poderíamos levá-lo diretamente ao hospital. Cogitamos isso, mas a Unimed nos dizia que a ambulância estava chegando — contou.
 
Ainda segundo Felipe, a técnica de enfermagem que estava na casa do casal no momento em que o menino teve a crise, nesta quarta, auxiliou a todo momento.
 
— Ela foi ótima, fez tudo o que estava ao alcance. Ela estava em contato com a médica (a pediatra que acompanha o menino) a todo momento. O problema de ontem (quarta-feira) foi relacionado a algum problema intestinal. Ele não estava digerindo bem a comida. Na terça havíamos falado com a pediatra e ela nos disse que ele precisaria entrar no soro e que solicitaria a internação no dia seguinte.
 
Quando a ambulância chegou, meus porteiros me avisaram e eu autorizei a subida. Mas ninguém nunca subiu — disse.
  
Homenagens são feitas ao pequeno Bruno Foto: Carolina Heringer
 
 A esposa da Felipe, Rhuana Rodrigues, está grávida de dois meses. Ela também conversou com o EXTRA e classificou o que ocorreu como "desumano".

— Agora eu vou viver com esse "se" para o resto da minha vida: se ela tivesse levado será que o meu filho estaria vivo? Ele morreu uma hora e meia depois. Dava muito tempo de ter levado ele ao hospital. É desumano. Eu abri mão da minha vida para cuidar do meu filho que era especial e agora não tenho mais o meu Breno. Ela negou socorro — disse.
 
A Unimed-Rio lamentou a morte do bebê e descredenciou a empresa Cuidar. A médica ainda não foi identificada. "A Unimed-Rio lamenta profundamente o falecimento do pequeno Breno Rodrigues Duarte da Silva na manhã desta quarta-feira, 7/6 e vem prestando apoio irrestrito à família nesse momento tão difícil. A cooperativa tomará todas as providências para descredenciar imediatamente o prestador "Cuidar", pela postura inadmissível no atendimento prestado à criança. Além disso, adotará todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis em razão da recusa de atendimento por parte do prestador de serviço".
 
O velório de Breno acontece nesta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, na Zona Norte do Rio
Foto: Carolina Heringer
 
O Conselho Regional de Medicina abriu uma sindicância para apurar o caso. A 16ª DP (Barra da Tijuca) está investigando o caso. O velório e o sepultamento de Breno acontecem nesta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Norte do Rio. Muito emocionados, os pais do menino vestiam uma camisa com a foto do bebê com os dizeres "Para sempre nosso campeão Breno".

Despedida emocionada
 
No Facebook, Felipe publicou um texto de despedida do filho em tom emocionado:
"Breno meu amado filho! Pq se foi tão rápido?!? Ainda tínhamos tanto para viver... cada momento juntos foi tão maravilhoso! Vc nos trouxe tantos ensinamentos, tanto amor e tanta esperança! Se vc soubesse o quanto todos nós te amamos!! Tenho certeza que agora vc está em um lugar melhor e um dia vamos nos reencontrar".
 
 
 

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