Denúncia de descaso foi feita por mulher que convive com HIV há 30 anos e luta pelos direitos de pessoas infectadas
Faltam profissionais indispensáveis para pacientes com Aids em Dourados (Foto: Reprodução) |
Em Dourados, pacientes que convivem com o vírus HIV têm tido mais uma preocupação além da luta contra essa doença: o desmonte do Programa IST/Aids. Além das incertezas quanto à continuidade do local de atendimento, já que o aluguel do prédio não foi renovado após 10 anos, faltam infectologista, psicólogo, assistente social e ginecologista, profissionais indispensáveis.
A denúncia desse cenário de desaso chegou à 94FM por meio de Iva Teixeira Cavalcante Costa, representante em Dourados da RNP Brasil - rede nacional de pessoas positivas, que lutam pelos direitos dos pacientes com HIV Brasil afora durante mais de 20 anos. Ela mesma sofre com a situação douradense, porque convive com o vírus há quase três décadas.
“O que nos preocupa muito é que está havendo um desmonte, a nível nacional estão querendo nos mandar fazer tratamento nas UBS [unidades básicas de saúde]. Em Dourados há negligência há algum tempo. Já fui no Conselho Municipal de Saúde, MPE [Ministério Público Estadual], Secretaria de Saúde, e não estão dando ouvidos”, desabafa.
O apelo de Iva não é solitário. Em Dourados, o IST/Aids atende 1046 pessoas, 13 crianças, 594 homens e 452 mulheres, seis delas gestantes. São pacientes que precisam passar no imóvel localizado à Rua dos Missionários, número 420, todo os meses para pegar os medicamentos que controlam o nível da carga viral. “Esse medicamento não é igual para todos. Varia o número de drogas para cada quadro”, detalha Iva.
“Hoje estamos sem profissionais, falta infectologista, psicóloga, assistente social e ginecologista. Temos apenas uma enfermeira no programa, já pedi mais uma para o secretário de Saúde e alegam que existem duas, mas uma é coordenadora. Falta profissional para a área de prevenção. Muita gente faz o exame, tem resultado positivo e não tem apoio de enfermagem ou assistência social. Essa lacuna acaba prejudicando a prevenção”, relata.
Todo esse problema é somado às incertezas quanto ao lugar de atendimento. “O aluguel do prédio onde o programa funciona há 10 anos está atrasado, não houve renovação. Existe o risco do proprietário desocupar o imóvel. Na prefeitura falam que não encontraram imóvel adequado. Tive reunião com o Renato Vidigal e diretor de Vigilância Sanitária. Me perguntaram por que o paciente HIV positivo tem tanta resistência de fazer o tratamento numa UBS”, informa Iva.
Em resposta a esse questionamento, ela garante não ter problema em buscar atendimento médico nessas unidades, mas alerta para os problemas de distribuição de medicação que ocorreriam caso haja a descentralização do programa IST/Aids.
No dia 3 de julho ela pediu pessoalmente ao secretário municipal de Saúde a contratação de ginecologista, indicou nome e número de telefone da profissional que já atuou no setor, mas até agora nada mudou. “Tem que ter acompanhamento específico por causa das alterações hormonais provocadas pela medicação. As gestantes têm sido atendidas na CAM [Clínica de Atendimento à Mulher], mas as demais não”, pontua.
Além dos pacientes com HIV, também é competência do IST/Aids prestar atendimento na área de hepatites virais, o que eleva o número de pessoas afetadas pelos problemas apontados na denúncia.
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