quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Violência obstétrica traumatiza e deixa sequelas

Contra esse tipo de brutalidade, Reinaldo Azambuja sancionou lei que de amparo às gestantes


Portadora de problemas como endometriose, ovários policísticos e trompas obstruídas, uma jovem, aos 26 anos, não podia realizar seu grande sonho: dar a luz ao primeiro filho por meio de uma gravidez natural. Foram três anos de tentativas à base de medicamentos e procedimentos que não geraram resultados positivos. Mais tarde, o avanço da ciência devolveu à jovem a esperança. Ela foi submetida a uma fertilização in vitro e em janeiro de 2014 recebeu a aguardada notícia: estava grávida. A novidade foi de muita emoção e, o nascimento, ansiosamente esperado. Porém, a jovem mãe não imaginava que aquele momento, que era para ser lembrado com afeto e carinho, seria aterrorizante. 

A personagem desta reportagem preferiu o anonimato, por isso vamos chamá-la de Maria. Com detalhes, ela conta como foi a violência obstétrica a qual foi submetida e diz que ainda convive com o trauma.

A violência obstétrica é todo ato praticado pelo médico, pela equipe do hospital, por um familiar ou acompanhante que ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes, em trabalho de parto ou, ainda, no período puerpério. 

Momento traumatizante

Maria tem hoje 33 anos, e seu filho já completou 4. Na época, a gestação e o acompanhamento médico foram ótimos. O plano de parto dizia que este deveria ser normal, mas devido a uma intercorrência Maria precisou ser submetida a uma  cesariana. “O meu sonho era que fosse um parto normal.Não foi como a gente queria, mas poderia ter sido pelo menos de uma forma respeitosa.

Ninguém merece ouvir e sentir coisas desagradáveis em um momento tão frágil como esse”, recorda. 

Maria conta que o terror começou quando ela entrou no centro cirúrgico. “Quando fui levada para a cesária ouvi a equipe de enfermagem dizendo: ‘Essa médica deveria ser proibida de trazer pacientes, ela só traz esse povo que quer parto normal e fica atrapalhando’. Depois que passei pela cirurgia ouvi outra dizer: ‘Tem uma paciente daquela doutora aí. De certo é mais uma que queria parto normal e arregou, não aguentou a dor e ficou implorando por cesárea’. Estavam falando de mim e eu estava lá, deitada, operada, sozinha”, lamenta. 

Maria também recorda que foi amarrada e o médico anestesista até subiu sobre a barriga dela. “Além da violência moral, o anestesista subiu na minha barriga, apertou, eu não conseguia respirar, achava que iria morrer. Senti uma dor horrível. A pior sensação da minha vida foi ele subir na minha barriga e empurrar o meu filho. 

Como eu queria o parto normal protocolamos tudo e no documento constava que se houvesse necessidade de cesária não gostaria de ser amarrada, mas me amarraram”, declara.

Contra a violência obstétrica 

Maria é apenas uma das milhares de mulheres que já passaram por situações indesejáveis como essa. O papel do Estado no combate a este tipo de situação é fundamental. Por isso, para lutar contra a violência obstétrica, o governador - e candidato à reeleição - Reinaldo Azambuja (PSDB), sancionou em junho a Lei Nº 5.217, que dispõe sobre a implantação de medidas de informação e de proteção à gestante e à parturiente contra a violência obstétrica em Mato Grosso do Sul. 

“Quando não se tem lei, eles fazem e falam o que querem. Com essa lei, eles vão ter que tomar mais cuidado antes de cometer brutalidades, pois terão a certeza que as pessoas terão amparo para cobrar os direitos e entrar com processo”, opina Maria.

Estabelecimentos hospitalares no Mato Grosso do Sul deverão expor cartazes informativos contendo as condutas que são consideradas violência obstétrica. Os cartazes devem informar, ainda, os setores e os trâmites para denúncias. A Lei entra em vigor em outubro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário