quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Idosas morrem em unidades de saúde do Rio e familiares acusam município de descaso

Regina Darze, de 73 anos, ficou 42 dias no Hospital Lourenço Jorge à espera de uma operação. Familiares de Ercília Monteiro Souza, de 77 anos, dizem que estado de saúde da idosa piorou após ela ser transferida para outra unidade.

  Pacientes morrem à espera de cirurgia em hospitais municipais do Rio

Parentes de duas idosas que morreram em unidades de saúde do Rio acusam a gestão municipal de descaso no atendimento às pacientes. As mortes aconteceram no Hospital Lourenço Jorge e no Hospital Miguel Couto.

Regina Darze, de 73 anos, ficou 42 dias no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, à espera de cirurgias no fêmur e cotovelo. Após sofrer uma queda, a idosa precisava passar por duas operações mas a unidade de saúde não tinha o aparelho necessário para realizar as intervenções.

Enquanto esperava a chegada do equipamento, Regina entrou em coma e teve duas infecções. A idosa morreu na madrugada desta sexta-feira (24) no Centro de Tratamento Intensivo do hospital. Segundo o filho dela, Ricardo Darze, a causa indicada para a morte da mãe é parada cardíaca.

Agora, Ricardo disse que pretende recorrer ao Ministério Público para que o caso da mãe seja analisado e as condições na unidade de saúde sejam checadas.

A direção do Hospital Municipal Lourenço Jorge (HMLJ) informou, em nota, que Regina tinha quadro clínico instável, o que tornava impossível submetê-la à cirurgia, mesmo a unidade tendo "um intensificador de imagem novo, recém-comprado pela Prefeitura e em operação desde o início deste mês".

Idosa morre após ser transferida


O outro caso ocorreu na madrugada de quinta-feira (23). Ercília Monteiro Souza, de 77 anos, morreu no Hospital Miguel Couto, na Gávea. Segundo familiares, a idosa estava internada desde o dia 5 na Coordenação de Emergência da Barra da Tijuca à espera de uma cirurgia no coração.

Ercília morreu sem que a operação tivesse sido realizada. A família alega que a idosa estava lúcida antes de ser transferida para o Miguel Couto, mas piorou depois que foi levada para a unidade na Gávea.

Parentes também reclamaram que só foram avisados sobre a morte quando foram visitar Ercília, às 12h de quinta. No entanto, a idosa morreu às 2h.

"Eu estou me sentindo um lixo. Sou servidor público e perdi a minha mãe pro município porque meia dúzia de políticos rouba tudo e não deixa nada para a gente", lamentou o filho da idosa, Alexandre Andrade, de 44 anos.

Em nota, a Coordenação de Emergência Regional (CER) da Barra da Tijuca informou que Ercília "chegou à unidade com quadro clínico grave e instável, apresentando pneumonia, infecção urinária e insuficiência cardíaca".

No entanto, os laudos médicos emitidos na unidade de saúde um dia após o outro apresentam resultados que divergem entre si. No dia 16 de agosto, o relatório médico informa que Ercília está em "bom estado geral, lúcida e orientada no tempo e espaço, corada, hidratada, afebril" e tem respiração normal em ar ambiente.

Já no dia 17, - um dia depois - o médico relata que a paciente apresenta 'alto risco de morte' e pede que ela seja internada em uma unidade de tratamento intensivo (UTI) "com extrema urgência".

A nota da CER diz que "infecções e pneumonia são quadros que inviabilizam a realização de cirurgias. Portanto, antes de se pensar em cirurgia cardíaca, a paciente tinha que ter o quadro clínico tratado e estabilizado".

A administração da unidade comunicou, ainda, que "a paciente estava em tratamento com antibióticos na Sala Vermelha da CER Barra desde o dia 14 de agosto" e estava "inserida no Sistema de Regulação (SISREG) do município, com pedido de leito de CTI clínico, para o tratamento que se fazia prioritário naquele momento, que era o da pneumonia e infecção urinária".

O município alega que cumpriu mandado judicial e o pedido de leito "precisou ser alterado para CTI em unidade especializada coronariana e a paciente foi, então, inserida, no dia 18, no Sistema Estadual de Regulação (SER), responsável pela regulação do leito especializado".

Assim, a prefeitura afirmou que Ercília foi levada para o Miguel Couto, onde foi "assistida por médicos especialistas e deu continuidade ao tratamento clínico prioritário da pneumonia e infecção urinária. Devido gravidade do caso, no entanto, [Ercília] não resistiu e faleceu no início da madrugada de ontem".

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