Na manhã de sexta-feira (24), Dioilhanatan da Silva Anselmo desmaiou dentro do ônibus que a levava para o trabalho. “Quando eu acordei, já estava no chão”, relata. A queda resultou em um ferimento do lado direito do corpo, que se estendeu de sua perna até a cabeça. Ela foi levada às pressas para o hospital mais próximo. Chegou ao Hospital de Pronto Socorro (HPS) reportando dor crescente, além da dificuldade de caminhar.
Ela conversou com a reportagem mais de uma hora após ter feito o registro de entrada no hospital. Em uma cadeira de rodas, aguardava impaciente. “É muita dor. Mas, mesmo assim, a previsão é de que só vou ser atendida em umas 3h.” Ao redor dela, mais de 20 pessoas também aguardavam atendimento ou esperavam por familiares, lotando o salão principal do hospital.
Do lado de fora do hospital, os funcionários do município se reuniram em ato contra o desmonte da saúde. Em greve, trabalhadores ligados ao Simpa (Sindicato dos Municipários de Porto Alegre) se manifestaram pedindo pela abertura de diálogo com a Prefeitura e chamando a atenção da população para a fragilidade do serviço no HPS. “A saúde é muito desvalorizada”, reflete Dioilhanatan. Ela cita outros hospitais e postos de saúde da rede pública onde precisou de atendimento no último ano. “É um caos. Tu está sofrendo e não consegue atendimento adequado, e não é por má-fé dos médicos. O povo tem que se juntar mais. Pra Carnaval, todo mundo se move. Mas, pra saúde, que é um direito nosso, falta luta. Se a gente não lutar pelos nossos direitos, vamos viver com uma saúde em péssimas condições.”
Na tarde da quinta-feira (23), a categoria realizou uma assembleia que decidiu pela continuidade da greve. Esta é a segunda paralisação mais longa da história do Sindicato, que chega ao seu 25º dia. O início da greve contou com o apoio dos trabalhadores do Imesf (Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família), que relataram um cotidiano de sérias falhas estruturais graves nas unidades de atendimento, como falta de medicamentos, goteiras, além da presença de insetos e ratos. No início de agosto, no entanto, a categoria conseguiu negociar com o município a manutenção do benefício salarial para que retomassem as atividades.
Desde o início do mês, o Conselho Municipal da Saúde também denuncia a falta de investimentos tem prejudicado o atendimento no Hospital. Luciane Pereira, da direção-geral do Simpa, afirma que o sucateamento do HPS é algo visível por toda a população, seja pela estrutura física do prédio ou pela demanda de mais servidores. “Faltam leitos, recursos humanos e materiais para fazer o atendimento à população. Nossa greve tem sido, também, uma greve de denúncia. A política do prefeito é não investir nos trabalhadores.”
De acordo com ela, a categoria defende o diálogo como forma principal de combater injustiças, por isso tem cobrado a abertura de um canal de contato direito com a Prefeitura para negociar as demandas propostas pela classe.”A Justiça indicou ao prefeito que sentasse para negociar com o Simpa até a quarta-feira (22). Mas o Marchezan escolheu não acatar a sugestão. É algo que só fortalece o fato de governar para poucos, sem escutar a sociedade e, agora, a própria Justiça. Infelizmente, a cidade fica à mercê dessas atitudes.”
A Prefeitura afirma que o HPS não teve sua estrutura ou seu funcionamento alterados. Uma liminar judicial em vigor desde o início da greve também tem garantido que os serviços municipais permaneçam em atividade regular. “Mas a cidade está vendo o abandono. Ainda assim, maquiam a situação, como maquiam as finanças da Prefeitura”, aponta Luciane.
Partindo do Hospital, a categoria marchou em direção à Prefeitura. Segundo a diretora-geral do Simpa, uma nova assembleia está marcada para a próxima terça-feira (28) para avaliar a manutenção da greve.
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