O hospital nega as acusações registradas na Delegacia do Janga, no município de Paulista
Foto: Reprodução/Google Maps
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JC Online
Negligência médica, maus-tratos e falta de medicamentos que resultaram na morte de um paciente. Esta é a denúncia que uma família faz contra o Hospital Nossa Senhora do Ó, localizado no município de Paulista, no Grande Recife. Eles retratam uma experiência que viveram na unidade de saúde, durante os 33 dias que passaram com o paciente Severino do Ramo de Brito Uchôa, internado por, inicialmente, cardiopatia.
O caso foi registrado na Delegacia do Janga e está sendo investigado pela Polícia Civil. Um conjunto de provas contra o hospital foi recolhido e encaminhado à polícia. Entre os argumentos estão fotos, vídeos e conversas de Whatsapp que retratam o descaso, segundo afirma a família. "Meu irmão chegou lá com encaminhamento do Hospital de Boa Viagem Cemub, para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Coronária, mas os médicos acharam melhor colocá-lo na UTI Geral, onde deram diversos medicamentos a ele, que afetou o fígado e o pulmão, quando deveriam só tratar do coração em outra ala", relata Socorro Uchôa, irmã do paciente que veio a óbito no dia 2 de agosto.
Em anexo à denúncia está o relatório de Sebastião Uchôa, irmão do paciente. Ele conta que, por não confiar no laudo do hospital, solicitou que o Instituto de Medicina Legal fizesse a perícia, para constatar a causa da morte. "Exposto à infecção hospitalar, tanto por ausência de procedimento integral de controle preventivo de bactéria como pela própria vulnerabilidade hospitalar, já que em dias de visita era muito comum entradas e saídas de visitantes sem qualquer uso de EPI (equipamentos de proteção individual)", comenta o rapaz.
Bactéria hospitalar
O IML emitiu a conclusão de que Severino teve falência múltipla de órgãos, infecção pulmonar aguda, cirrose hepática e coração dilatado. De acordo com o infectologista Paulo Sérgio Monteiro, contratado pela família, já que o do hospital estaria de férias e não há substituto, os medicamentos aplicados no paciente levaram à falência dos órgãos, já que as doses eram acima do necessário. "O que deveria ser para tratar, estava piorando", lamenta o denunciante. "O resultado do exame feito pelo Cerpe, através do infectologista, alegou que meu irmão estava com infecção hospitalar", complementa. O exame foi positivo para a bactéria pseudomonas aeruginosa.
'Mulher cabulosa'
A família lamenta a falta de preparo dos médicos plantonistas. “Eram médicos recém-formados, que foram encaminhados direto para a UTI. Um dos médicos estava no primeiro dia de trabalho lá e contou que acabara de se formar”, conta Sebastião. O coordenador do setor, doutor Odin Bezerra, teria comparecido à unidade de saúde uma vez, entre o período que o paciente esteve internado. “Ele não acompanha a evolução dos pacientes. Segundo ele, meu irmão não respondia a nenhum estímulo, o que era inverdade. Na hora dei os comandos ao meu irmão e ele fazia tudo, mexia os braços, olhos”, conta Sebastião.
O doutor Odin ainda falou, por meio de mensagens com um dos membros da família, que a situação do paciente era para “esperar o óbito” e que estava com infecção generalizada.
A tentativa de remover o paciente não foi possível. Em uma das visitas, os familiares encontraram o paciente com a boca suja de sangue e com febre alta, o que não havia sido constatado por nenhum enfermeiro. "Informei à enfermeira sobre a situação que meu irmão se encontrava e recebi o nome de 'mulher cabulosa'", conta Socorro.
“Ministraram altíssimas doses de drogas denominadas Dobutamina e Noradrenalina, com 40 miligramas de cada. Apesar de dizer que isso prejudicaria o coração dele, o hospital ignorou. Poucas horas depois recebemos a ligação informando do óbito”, lamenta a mulher.
O que disse o hospital
Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, "a direção do Hospital Nossa Senhora do Ó nega que os fatos colocados pela família do paciente Severino Ramos tenha acontecido, pois além do respeito a dignidade humana, possui nos seus quadros profissionais médicos qualificados, alguns deles que atuam nos maiores hospitais do Nordeste. Nesse sentido, vem a esclarecer os seguintes pontos:
1) O paciente é servidor Municipal e usuário do plano Recife Prev (Saúde Recife), o qual mantém uma rede de hospitais credenciados, entre eles o do Nossa Senhora Do Ó.
2) Relata a família que no dia 11/06, o paciente foi internado no CEMUB / BOA VIAGEM, e, no dia 11/07, foi transferido para nosso hospital.
3) Iniciado os tratamentos a família fez um verdadeiro tumulto no hospital, e por fim, exigiram que o paciente fosse transferido para um hospital de grande porte - mesmo sabendo que o mesmo não poderia fazer parte da rede credenciada - desde que as despesas fossem pagas pelo Hospital Albuquerque do Ó.
4) O hospital jamais se opôs a transferência, desde que sem ônus. O que não foi aceito pelos familiares.
5) O Grupo Albuquerque do Ó reitera que a tradição do grupo de mais de 10 anos de atuação sempre foi pautada para com seus pacientes e público em geral com o maior profissionalismo possível.
6) Informamos ainda que lamentamos que o paciente tenha vindo a óbito e que o quadro dele, quando entrou no nosso hospital, já era bastante grave.
7) Nossa equipe jurídica, comandada pelo Dr Clóvis Lucena, está disposição para mais esclarecimentos acerca do processo judicial do reclamante que não logrou êxito."
Outros casos
Pelo menos três famílias de pacientes que passaram pelo Nossa Senhora do Ó afirmam a negligência do hospital. O filho de uma das pacientes, que conseguiu transferir a mãe da unidade de saúde, conta que a senhora chegou lá andando e falando, mas por causa de tantos medicamentos recebidos, e por a sedarem continuamente, ela está incapacitada de andar e pouco consegue se comunicar. Agora, com outro atendimento, a senhora apresentou melhoras no quadro clínico e está se recuperando bem. Esses e outros relatos também estão anexados à denúncia contra a unidade.
A Polícia Civil segue nas investigações e só poderá se pronunciar ao fim do caso.
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