Uma mulher de 34 anos procurou a 33ª DP para denunciar suposta violência obstétrica, omissão de socorro e negligência médica
A 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) instaurou inquérito para investigar a morte prematura de um recém-nascido no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). De acordo com a denúncia feita à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), na quinta-feira (07/11/2019), uma mulher de 34 anos afirma ter sido vítima de suposta negligência médica, omissão de socorro e violência obstétrica
Segundo o relato, a paciente procurou a unidade pública de saúde no domingo (03/11/2019) após entrar em trabalho de parto. De acordo com o depoimento, a mulher estava gestante de 38 semanas e 5 dias, quando, por volta das 23h de domingo, começou a sentir fortes dores e contrações. A família dela, então, acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Entretanto, os socorristas teriam “solicitado que ela aguardasse mais um pouco”.
A vítima suportou as dores até as 2h da manhã de segunda (04/11/2019), quando decidiu chamar o Corpo de Bombeiros (CBMDF). Os militares estiveram na residência da gestante, realizaram exames iniciais na mulher e acionaram o médico da corporação, que instruiu os militares a levá-la ao HRSM, pois ela estava entrando em trabalho de parto.
Conforme a ocorrência, a grávida teria dado entrada na unidade às 2h58. Apesar do encaminhamento do CBMDF, após ter passado pela triagem, a médica plantonista teria dito que “não havia necessidade de iniciar os procedimentos de parto por não existir a dilatação precisa”.
Mais espera
A paciente foi orientada a aguardar atendimento até as 7h de segunda (04/11/2019), quando veio outra profissional. Ela realizou novo exame e disse que a mulher permanecia com a mesma dilatação. A médica solicitou que a gestante fizesse uma ecografia, mas o procedimento não poderia ser realizado no hospital por falta de equipamentos. Segundo o relato, nesse momento, a família recorreu a uma unidade particular de saúde em Valparaíso (GO).
De acordo com a ocorrência, o médico do hospital particular, após analisar a ecografia, constatou que a mulher deveria retornar urgentemente para o hospital em decorrência da reduzida quantidade de líquido amniótico. A paciente voltou ao HRSM, chegando lá às 17h20 de segunda (04/11/2019). Em depoimento, a vítima afirma que, mesmo com todos os exames em mãos, as médicas do hospital público pediram que ela aguardasse até as 21h.
Investigação
Já no centro obstétrico, no horário determinado pela equipe médica, a paciente narra que diversas vezes o anestesista inseriu a agulha nela e afirmou que não conseguia aplicar a medicação. Segundo conta, isso teria ocorrido cerca de 10 vezes e ela sentia paralisia nas pernas. Os cirurgiões, então, aplicaram a anestesia geral, deixando a gestante desacordada.
Ainda segundo a ocorrência, na terça-feira (05/11/2019), por volta das 13h, a mulher teria sido informada por uma médica, ao acordar da anestesia, da morte do bebê. Revoltada, a família acredita que o falecimento do recém-nascido tenha sido provocado pela demora na realização do parto. Por isso, procurou a 33ª DP a fim de denunciar o ocorrido.
Ao Metrópoles, o delegado-chefe Rodrigo Telho informou que espera ouvir, nos próximos dias, todos os profissionais que atuaram no atendimento à paciente. “Já encaminhamos o corpo do bebê ao IML [Instituto de Medicina Legal]. Também vamos colher depoimento dos envolvidos e um inquérito já foi instaurado. A delegacia irá investigar a denúncia”, explicou o policial.
O advogado da vítima, Suenilson Sá, manifestou interesse em recorrer à Justiça. “Atuaremos firmemente em todas as esferas do poder judiciário e em sede da investigação da Policia Civil do Distrito Federal, para que os fatos sejam esclarecidos plenamente. Havendo culpa constatada dos agentes envolvidos, que haja a devida punibilidade”, disse o defensor.
O outro lado
Procurado pela reportagem, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela administração do Hospital Regional de Santa Maria, ressaltou que “a maior dificuldade de todo o procedimento foi, sem dúvida, o fato de ela [a paciente] não ter realizado exames pré-natal”. “No HRSM, tudo foi realizado adequadamente e seguindo os protocolos de ginecologia e obstetrícia”, disse em nota.
Conforme informado pelo Iges, a paciente deu entrada no HRSM, na segunda-feira (04/11/2019), vinda do Entorno, sem qualquer exame pré-natal. “Não se lembrava da data da última menstruação, que é um fator importante para saber a data prevista do parto. Foi feito exame de cardiotocografia na criança, com resultado normal. Colo estava sem dilatação. Com indicação para parto normal, pois, a paciente já tinha tido dois partos normais. Foi pedido que ela retornasse três horas depois, até para aguardar a dilatação.”
Segundo o instituto, no retorno, foi feito exame físico e solicitado o ultrassom, inclusive para determinar a idade do bebê. Porém, a paciente teria “decidido fazer o exame em uma clínica particular”. O órgão afirma, em nota, que havia indicação para cirurgia, mas não de urgência.
“Havia mecônio no líquido amniótico. A criança tinha circular de cordão. Ela aspirou o mecônio. Foi levada para UTI, mas, infelizmente, não resistiu, vindo a óbito, algumas horas depois. Complicação possível, que ocorre frequentemente em pacientes que não fizeram acompanhamento pré-natal, o que permitiria conhecer a evolução e maturação do feto. Sem os exames, não é possível em uma consulta de pronto-socorro, o médico saber de toda evolução fetal”, explicou no texto.
Por fim, o Iges assegura que a paciente “recebeu toda assistência necessária pela equipe de ginecologia e obstetrícia”. Na nota, a gestão afirmou lamentar a morte do bebê e reiterou o “compromisso de bem servir a população”.
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